Desde o fim de 2019, a palavra “pandemia” passou a ser muito utilizada, mas existe uma diferença entre ela e as outras expressões. É a Organização Mundial de Saúde (OMS) que determina a gravidade e se é uma ameaça mundial. Um surto acontece quando existe um aumento dos casos da doença e pode ocorrer somente dentro de um bairro, por exemplo. Já no caso da endemia, ela ocorre quando a enfermidade é recorrente na região, mas não existe um aumento significativo de casos.
A epidemia acontece quando a doença tem um aumento de casos muito acima do esperado em diversas regiões, porém sem atingir níveis globais.
Enquanto isso, a pandemia ocorre quando a doença atinge proporções internacionais, com disseminação mundial. A pandemia pode surgir a partir de um surto ou endemia, quando se espalha por diferentes continentes com transmissão sustentada de pessoa para pessoa. O que vai diferenciar cada uma delas é a escala em que a doença se espalhou.
Algumas doenças que quase extinguiram a raça humana:
Peste Bubônica
Conhecida também como peste, peste negra ou doença do rato, a peste bubônica é a mais comum entre as formas clínicas da peste, causada pela bactéria Yersinia pestis. Ela é uma doença infecciosa aguda transmitida por roedores, como os ratos e, principalmente, pela picada da pulga infectada.
Ela atingiu o continente europeu no século XIV e os primeiros casos no Brasil foram registrados em 1899, na cidade de Santos, em São Paulo. A partir daí, o número começou a crescer exponencialmente. Para tentar controlar a doença, foi feito um sistema de isolamento na cidade.
Em 1901, a peste negra já havia chegado à cidade de São Paulo e, então, o Instituto Butantan começou a produzir um soro antipestoso. Somente no ano seguinte, o Butantan iniciou a produção da vacina antipestosa, com o intuito de controlar a doença.
Estima-se que a pandemia da peste negra se originou na Ásia e resultou na morte de, aproximadamente, 1/3 da população europeia. Entretanto, esse número pode ter sido muito maior.
Segundo o Ministério da Saúde, nos últimos 20 anos, houve registro de apenas 1 caso no ano de 2005, no Ceará, na região Nordeste do Brasil.
Gripe Espanhola
De acordo com a Fiocruz, a gripe espanhola aconteceu entre os anos de 1918 e 1920 e matou – aproximadamente – 50 milhões de pessoas, ¼ da população mundial na época. Já no Brasil, a doença chegou no final de 1918 e matou 40 mil brasileiros, em média.
Conhecida como “mãe das pandemias”, a gripe espanhola foi causada pelo vírus Influenza H1N1 e, apesar de não haver confirmação, registros indicam que se iniciou nos Estados Unidos. A referência à região espanhola se deve ao fato da Espanha promover uma forte divulgação do problema na imprensa.
A transmissão acontece pelo contato direto de pessoa para pessoa ao falar, tossir ou espirrar. A utilização de máscaras foi uma das medidas adotadas, além de ser feito também um isolamento como maneira de controlar a pandemia da gripe espanhola. Na época, ainda não existia vacina contra a doença.
Gripe Suína
Uma nova cepa do vírus Influenza H1N1, o mesmo da gripe espanhola, foi a responsável pelo surto da gripe suína, também chamada “gripe A” e “gripe H1N1”. O México foi o primeiro país a identificar e notificar a existência desse novo surto.
Em 2009, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica esse surto como uma epidemia de emergência de saúde pública no âmbito internacional. Entretanto, apenas dois meses depois, foi notificado que a doença havia se espalhado por mais de 75 países de todos os continentes, sendo, então, decretado estado de pandemia.
Em maio do mesmo ano, a doença chegou ao Brasil se concentrando, inicialmente, nas regiões Sul e Sudeste, de acordo com a Fiocruz.
Em 2009, no Brasil, foram 46.100 casos graves e 2.051 óbitos. Em 2010, o governo iniciou a campanha de vacinação e, em 3 meses, o país vacinou mais de 90 milhões de pessoas. Hoje, a vacina da gripe é a melhor maneira de se proteger contra essa doença.
A transmissão da gripe H1N1 ocorre por meio das secreções das vias respiratórias de uma pessoa infectada. Ao falar, tossir ou espirrar, o indivíduo pode acabar transmitindo o vírus para outra pessoa. O contato das mãos com superfícies contaminadas por essas mesmas secreções, pode levar à infecção, já que a pessoa leva o agente infeccioso das mãos diretamente aos olhos, nariz e boca.
Varíola
A OMS declarou em 1980 a erradicação da Varíola, uma das doenças mais graves já existentes, que matou mais de 300 milhões de pessoas ao longo do século XX. Foi a enfermidade infecciosa que mais causou óbitos na história da humanidade.
Por não existir um tratamento efetivo contra a varíola, a solução era tentar amenizar ao máximo a coceira e a dor causadas pela doença e esperar que o organismo reagisse e vencesse o vírus.
Só foi possível vencer a varíola e erradicá-la após campanhas, medidas e ações realizadas pela OMS ao redor do mundo, em 1967. No Brasil, a Fiocruz teve um papel fundamental para obter o controle da doença.
AIDS
A Aids é uma doença causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) e é considerada uma infecção sexualmente transmissível (IST). Ela foi identificada nos Estados Unidos nos anos 80 e circula até hoje ao redor do mundo.
A transmissão do HIV acontece por meio da relação sexual sem preservativo, do compartilhamento de seringa contaminada, da transfusão de sangue contaminado e dos instrumentos que furam ou cortam contaminados e não esterilizados. Além disso, mães infectadas também podem transmitir para o bebê durante a gestação, parto e amamentação.
Ainda não existe uma vacina contra a Aids e nem cura, porém há um tratamento com medicamento antirretroviral (ARV) que é distribuído gratuitamente no Brasil. O ARV ajuda a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico e impede a multiplicação do HIV no organismo.
Foram mais de 20 milhões de mortos desde a sua descoberta. No Brasil, o número de óbitos diminuiu em 17,1% nos últimos cinco anos. Em 2015, foram registradas 12.667 mortes e, em 2019, esse número caiu para 10.565. As ações e campanhas como a testagem para a doença e o início imediato do tratamento, em caso de diagnóstico positivo, são essenciais para a redução do número de óbitos, segundo dados do Ministério da Saúde.
Ebola
O vírus do ebola, Filoviridae, foi identificado pela primeira vez em 1976 quando houve surtos da doença no Sudão e na República Democrática do Congo, na África.
Entre 2013 e 2016, houve um surto epidemiológico também em regiões da África. Em 2014, houve suspeita de ebola no Brasil, porém foi descartado. Em 2018, foi registrado outro surto de novo no continente africano, matando mais de 2 mil pessoas.
A transmissão do ebola acontece por meio do contato direto com o sangue, tecido ou fluidos corporais de pessoas e/ou animais infectados ou do contato com objetos e superfícies contaminados.
Ainda não existe uma vacina disponível contra ebola e a melhor maneira de se prevenir é evitar contato com o sangue ou secreções de animais ou pessoas infectadas.
Cólera
A cólera se espalhou pelo mundo no século XIX e é uma doença ainda em circulação. De acordo com a OMS, os últimos registros indicam mais de 140 mil mortes anuais devido à enfermidade.
Em 2009, 45 países notificaram mais de 220 mil casos de cólera e quase 5 mil mortes. Entre 2010 e 2011, ocorreram surtos no Haiti e na República Dominicana.
Entre 1991 e 1999, foram registrados – aproximadamente – 200 casos de cólera no Brasil. A partir de 2006, não houve casos autóctones de cólera no Brasil, tendo sido notificados apenas 3 casos importados, um de Angola (2006), um da República Dominicana (2011) e um de Moçambique (2016).
A transmissão da cólera acontece após ingerir água ou alimentos contaminados com a bactéria vibrio cholerae. Já existe vacina contra cólera, contudo, ela é indicada somente para áreas com endemia, em situações de crise humanitária com alto risco para doença ou em casos de surtos.
Malária
Por não ser uma doença contagiosa, um indivíduo infectado não pode transmitir a malária para outras pessoas. A transmissão acontece, principalmente, por meio de picadas de mosquito.
Em 2017, estima-se que houve 219 milhões de casos de malária em 90 países e 435 mil mortes. No Brasil, 99% dos casos ocorrem na região Amazônica. Mais de 400 mil pessoas morrem anualmente dessa doença, sendo 95% dos óbitos registrados na África.
Apesar de ser uma doença grave, a malária tem cura e tratamento. Em outubro de 2021, segundo o Ministério da Saúde, a OMS notificou a recomendação de uma vacina contra a malária para crianças que residem em regiões com alta ocorrência.
Tuberculose
A tuberculose é uma das doenças mais antigas do mundo, descoberta em 1882. A partir de 1990, foi notado que em vários lugares do mundo o número de casos de tuberculose, principalmente ligados ao HIV, estava crescendo. A OMS informa que são registrados 10 milhões de novos casos de infecção por tuberculose anualmente ao redor do mundo. No Brasil, são notificados 70 mil novos casos e mais de 4 mil mortes.
A transmissão acontece por meio da inalação de aerossóis oriundos da fala, espirro ou tosse das pessoas com tuberculose. Diferente de outras doenças, ela não é transmitida pelo contato com objetos compartilhados.
O tratamento é feito por meio de fármacos e, no Brasil, eles são disponibilizados gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Se o tratamento for feito adequadamente e corretamente, é possível se curar da doença.
Febre Amarela
A epidemia da febre amarela no Brasil, eclodiu no período de 1850. Na época, ainda não havia informações a respeito dessa doença. Somente no fim do século XIX, foram feitas descobertas que ajudaram na luta e controle da febre amarela.
Segundo o Ministério da Saúde, entre 2020 e 2021, no Brasil, houve registros confirmados de 37 casos em primatas não humanos com suspeita de febre amarela.
A febre amarela é transmitida por meio da picada de um mosquito infectado e não é possível ser transmitida diretamente de uma pessoa para outra. A vacina contra a febre amarela é a principal forma de prevenir e controlar a doença.
Percebe-se como o isolamento social, boas práticas de higiene, tratamento adequado e vacinação funcionam para ajudar no controle e evitar a transmissão das doenças.
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