Antonia Almeida e Fabio Esteves se formaram juntos em Desenho Industrial. Perceberam logo um interesse comum e uma afinidade para projetar, o que os levou a abrir o escritório de design 80e8. O principal foco de trabalho da dupla, é traduzir a relação entre homem e objeto, através da exploração e da maior interação entre eles. O escritório traz criações nas áreas de Design, Interiores e, além disso, está sempre aberto a novos desafios. A oficina é o palco de experimentações, testes e buscas por novos métodos de produção, de forma que o processo criativo se torna tão importante quanto o resultado. Os designers acreditam que hoje em dia é mais do que necessário agregar valor aos produtos, refletindo sobre a significância deles. “Acreditamos que o mundo está cheio dos mais variados produtos, e muitos deles são descartados pelos usuários rapidamente porque quebram e viram lixo. Isso porque eles não despertam nenhuma emoção, não criam um vínculo com o dono, muitas vezes não são duráveis, não contam uma história. Não podemos continuar a viver nesse mundo que descarta e troca tudo, por que para onde vão todas essas coisas? As pessoas esquecem que quando jogam algo “fora”, na verdade, é fora de suas casas, e isso continua no mundo, nossa grande casa, nos lixões espalhados por aí”, afirma a designer e sócia-fundadora do estúdio, Antonia Almeida.
Antonia, você escolheu o mundo do design ou o mundo do design escolheu você?
Hoje, quando penso sobre isso, percebo que foi uma decisão natural, embora eu tenha percebido isso um tempo depois. Desde pequena gostava das matérias no colégio que envolviam arte e cultura, como a própria matéria de artes, desenho geométrico, geografia, história… sempre me interessei por esse universo e no 3º colegial visitei a faculdade de Desenho Industrial na FAAP e me apaixonei pelas oficinas e pelo curso. O design tem sempre um propósito e é feito de pessoas para pessoas. Isso me fascina.
Em que momento o seu caminho se cruzou com o caminho do designer Fabio Esteves?
Nos conhecemos no 1º semestre da faculdade de Desenho Industrial na FAAP.
No texto de apresentação do site da 80e8, é dito que vocês dois tiveram uma conexão criativa instantânea. Fale mais sobre isso.
Nossa amizade nasceu logo no 1º semestre, e passamos a fazer todos os trabalhos da faculdade juntos, sem exceção, mesmo se um de nós não estivesse em sala de aula na hora de organizar as duplas para os trabalhos. Nos dávamos bem e sempre foi natural o processo de criar juntos, se organizar para fazer o trabalho e produzir. Nossas ideias se encaixam e quando sentamos para discutir um novo projeto, elas fluem. Cada um traz suas referências e visões e as transformamos em uma unidade.
O que fazer para que essa conexão criativa cresça cada vez mais?
Estamos sempre trocando e conversando sobre tudo. Desde o fim de semana que passou, política, arte, música até notícias do universo do design, claro. Vivemos no mundo como esponjas, absorvendo conhecimentos novos o tempo todo, e por isso as trocas são tão ricas. A 80e8 são os nossos gostos e interesses, aquilo que acreditamos e levamos para frente. Nos despimos de pré-conceitos e ouvimos a opinião um do outro, e assim seguimos.
Qual o pilar que sustenta a 80e8 em sua visão?
O respeito, a amizade, a colaboração e o nosso comprometimento com o trabalho. Amamos o que fazemos e queremos melhorar sempre. Não há limites para a criatividade.
Como se deu a criação da luminária Medusa?
A luminária Medusa de teto é uma peça do final de 2013, e depois criamos a versão de parede e os pendentes. A luminária está disponível no tamanho padrão (com “13 cabelos”) mas permite também uma personalização. Se o cliente quiser uma peça maior/menor, seja na quantidade de cabelos ou no seu comprimento, nós fazemos sob encomenda.
Fabio e eu somos muito curiosos e estamos sempre andando pelo centro de SP, visitando fornecedores e lojas em busca de ideias e novidades. Numa dessas andanças, fomos em uma loja de peças para fogões no Brás e vimos uma tubulação de gás dourada e achamos a peça linda por si só, com a trama de fios de latão. Resolvemos comprar um exemplar e guardar no escritório para um futuro. Depois de uns meses, surgiu um projeto sob encomenda de uma luminária e lembramos desse material que havíamos comprado. Assim, nasceu a Medusa. Quando ficou pronta, o nome veio sozinho.
Consumo consciente e valorização de objetos são dois itens importantes na criação de vocês. Em qual de seus trabalhos iniciais isso ficou mais patente?
Acreditamos que o mundo está cheio dos mais variados produtos, e muitos deles são descartados pelos usuários rapidamente porque quebram e viram lixo. Isso porque eles não despertam nenhuma emoção, não criam um vínculo com o dono, muitas vezes não são duráveis, não contam uma história. Não podemos continuar a viver nesse mundo que descarta e troca tudo, por que para onde vão todas essas coisas? As pessoas esquecem que quando jogam algo “fora”, na verdade, é fora de suas casas, e isso continua no mundo, nossa grande casa, nos lixões espalhados por aí. Queremos que as pessoas consumam produtos de qualidade, que sejam duráveis, que contenham uma história e agreguem valor.
Objetos que fiquem nas famílias, que sejam herdados, que façam parte da história de agora. Com a série (In)Visíveis, evidenciamos e celebramos a existência de objetos que estão nos bastidores de nossas vidas. Isto é, objetos que muitas vezes não estão visíveis a olho nu, mas são fundamentais para o funcionamento do todo. Tais objetos normalmente consistem em partes de sistemas, sejam eles mecânicos, hidráulicos ou peças estruturais. São extremamente bem projetados para cumprir funções específicas. A indispensabilidade do objeto para o funcionamento do sistema e sua construção sólida, fazem dele um merecedor de apreciação e destaque. Garimpamos as peças para essa série em mercados de 2ª mão e ferros-velhos.
O que um bom design deve conter além de forma e função?
Um questionamento, uma novidade, algo que faça pensar. Queremos novidades o tempo todo e sacadas. Para a 80e8, o pulo do gato está nisso.
Gostaria que falasse um pouco sobre o trabalho da 80e8 na área de cenografias.
No início, o escritório era 100% focado na criação de mobiliários e luminárias. De uns anos para cá, foram surgindo projetos desafiadores e estimulantes em outras áreas, como cenografia, instalações, interiores. Isso nos fez enxergar que como designers, podemos criar qualquer coisa, e essa constatação foi excelente! Em breve, vamos lançar uma linha de objetos.
Um projeto que fizemos e gostamos muito do resultado foi em 2016 para a marca de cerveja SOL. Ela era a principal patrocinadora do Festival Path, um evento de criatividade e inovação que ocorre anualmente no Instituto Tomie Ohtake. Eles queriam uma instalação que conversasse com o slogan da cerveja, “Espíritu Libre” e que também fosse criada por pessoas que se identificassem com isso. Nós temos o espírito livre e apreciamos, acima de qualquer coisa, a liberdade na hora de criar.
Fizemos uma instalação com 7.200 garrafas propondo a materialização dessa visão, uma imersão no universo de SOL. Eram 3 arcos de 3,23m de largura por 3m de altura que juntos formavam um túnel, um caminho (PATH, como o nome do festival) que ao encontro do “Espíritu Libre” de cada um, conduzido por SOL. Os arcos foram iluminados de forma intensa, para que a luz passasse através das garrafas que estavam cheias de cerveja. A garrafa é a grande protagonista, pois cada arco era totalmente revestido com centenas de unidades. No final do caminho havia um espelho, que era uma provocação. Um convite para que o indivíduo olhe para si e para o ambiente ao seu redor, enxergue oportunidades e expresse suas próprias ideias de forma autêntica. Ele está imerso no mundo de SOL, deve se manter fiel a sua essência e perceber que não existem barreiras para quem não tem medo de perseguir seus sonhos.
Experimentação é uma palavra que está no dicionário da oficina. O que não pode faltar em uma experimentação para que ela seja bem-sucedida?
Não pode faltar coragem e resiliência porque as coisas nem sempre dão certo na primeira tentativa. Quando desenhamos no papel tudo funciona, as partes se encaixam, os materiais que imaginamos conversam entre si e tudo parece perfeito. Mas, na verdade, muitas vezes fazemos 3, 4 ou 5 protótipos até chegar na solução final. Isso aconteceu com o banco do Conhecimento, por exemplo. A cada protótipo, fomos afinando o desenho e mudando o que fosse necessário até chegarmos na solução final. Percebemos muito rápido que o processo de criar é muito interessante e educativo, pois até descobrirmos como realmente as coisas devem ser feitas, acabamos por descobrir como não fazê-las, e também acabam surgindo ideias para outros projetos. Os materiais são fascinantes e para nós, todos são nobres. Apenas temos que buscar tirar o melhor de cada um.
Qual a importância do designer Fabio Esteves para o sucesso duradouro da 80e8?
A 80e8 somos nós 2. Temos uma afinidade muito grande para criar, e decidimos ainda na faculdade que após formados iríamos abrir nosso escritório, e assim o fizemos. Porque além da afinidade, também queremos deixar para o mundo nossas ideias.
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