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A arte cinematográfica na reflexão de Cacá Diegues

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O alagoano Carlos Diegues foi um dos fundadores do Cinema Novo. A maioria dos seus mais de 18 filmes, foi selecionada por grandes festivais internacionais como Cannes, Veneza, Berlim, Nova York e Toronto, e exibida comercialmente na Europa, nos Estados Unidos e na América Latina – o que o torna um dos realizadores brasileiros mais conhecidos no mundo. Numa fase crítica da economia cinematográfica do país, realizou dois filmes de baixo custo, “Um Trem para as Estrelas” (1987) e “Dias Melhores Virão” (1989). É oficial da Ordem das Artes e das Letras (l’Ordre des Arts et des Lettres) da República Francesa. Também é membro da Cinemateca Francesa. O Governo brasileiro também lhe concedeu o título de Comendador da Ordem do Mérito Cultural e a Medalha da Ordem de Rio Branco, a mais alta do país. “Depende do filme a que você estiver se referindo. Os americanos aprenderam a fazer filmes ao gosto mundial. Alguns são bons, outros são muito ruins. Alguns bons não são muito vistos, outros ruins fazem sucesso. Não é justo, mas não posso proibir o público de ir ao cinema e ver o filme que quiser. (…) Hoje se faz filmes em todo lugar do mundo e se multiplicaram os meios de difusão deles. A sala não é mais a única forma de mostrar um filme e quem pensa assim está sendo um dinossauro preconceituoso. (…) Leio as críticas com atenção, mas sei distinguir as que valem à pena e as que não valem”, afirma o cineasta.

Em uma entrevista, o diretor Cláudio Assis afirmou que o senhor juntamente com a família Barreto, são os coronéis do cinema nacional. Como vê essa forte declaração?

Há anos que não ganho um edital público, nem mesmo com “5XFavela”, um filme que estava dando uma oportunidade a mais de 250 jovens moradores da favela que desejavam ser cineastas. Devo ser um “coronel” de merda.

O senhor leva em consideração a análise dos críticos sobre a sua obra?

Leio as críticas com atenção, mas sei distinguir as que valem à pena e as que não valem. Também escrevo sobre cinema, desde jovem. E acho que já vi mais filmes e escrevo melhor do que muitos dos críticos.

Quando o cinema brasileiro se tornará uma indústria de fato?

Quando for um consenso que todos os filmes precisam ser feitos para ocuparem todas as telas, quando a diversidade for reconhecida como a principal virtude do nosso cinema.

Muita gente (entre os quais alguns cineastas) afirmam que o Brasil coloca demasiadamente a “estética da pobreza” nas telas, sendo que deveriam enaltecer outros aspectos. O senhor considera essa visão válida?

Não sei o que é “estética da pobreza”, uma expressão muito ambígua. Sou a favor da defesa dos pobres, mas contra a defesa da pobreza.

O senhor afirmou há alguns anos, que sem uma forte parceria com a televisão, o cinema brasileiro não teria futuro. Ainda pensa da mesma forma?

Cheguei a essa conclusão observando o mundo e o que se passa no audiovisual de todos os continentes. Nesse sentido, estamos atrasados algumas décadas, com essa besteira recorrente de opor cinema e televisão.

Em uma certa oportunidade, você afirmou que o que afastava o brasileiro do cinema era a recessão econômica. De alguns anos para cá a economia se fortaleceu, mas mesmo assim, temos poucos espectadores nas salas se compararmos com o tamanho da população. Onde está o erro então?

Hoje se faz filmes em todo lugar do mundo e se multiplicaram os meios de difusão deles. A sala não é mais a única forma de mostrar um filme e quem pensa assim está sendo um dinossauro preconceituoso.

Os EUA fornecem apenas 3% do seu mercado para o cinema estrangeiro. Aqui no Brasil ocorre o contrário, são os brasileiros que lutam para ter um pequeno espaço de exibição nas salas do seu próprio país. Isso nunca irá mudar?

Só quando os nossos filmes forem, em todos os segmentos, melhores do que os deles.

As pessoas têm sempre a mania de dizer que o senhor “aderiu ao sistema”. Se “aderir ao sistema” é levar a sua arte para um número maior de pessoas, com uma estrutura financeira melhor do que se tinha em outrora, isso não seria bom?

Não me incomodo com isso, nem penso sobre isso. Faço os filmes que tenho necessidade pessoal de fazer, para que os outros encontrem algum divertimento, conhecimento e encantamento em suas vidas.

Considera possível fazer um filme altamente crítico e humanista, e ainda assim captar recursos para a obra?

Depende de onde você pretende captar. A verdadeira democracia na produção de cinema no Brasil será quando houver guichês para todos os tipos de filmes.

O senhor disse em uma certa ocasião que esse não era o país dos seus sonhos, mas se fosse um intelectual do PT, um cineasta do PSDB ou um artista do PCdoB, jamais poderia dizer isso. A arte no Brasil representa interesses?

O intelectual existe para fazer pensar e não para agradar partidos. Não quero submeter o que penso a nenhuma cartilha partidária.

Alguns dizem que o cinema hollywoodiano é maléfico, pois, tira as condições de igualdade de exibição com o resto do mundo. Outros dizem que o cinema hollywoodiano é benéfico, afinal é a indústria que movimenta a sétima arte em escala global. Acredita que ela é benéfica ou maléfica?

Depende do filme a que você estiver se referindo. Os americanos aprenderam a fazer filmes ao gosto mundial. Alguns são bons, outros são muito ruins. Alguns bons não são muito vistos, outros ruins fazem sucesso. Não é justo, mas não posso proibir o público de ir ao cinema e ver o filme que quiser.

Pessoas ligadas ao mundo da sétima arte no Brasil, afirmam que o cinema produzido no país, ainda está bem atrás dos nossos vizinhos. Até que ponto isso é verdade?

Não é e nunca foi verdade. Vemos no Brasil apenas os poucos filmes bons de outros países latino-americanos, ignoramos a farta produção de porcarias que não são exportadas. Mas isso também se passa conosco, não podemos dizer que somos melhores que eles.

O que o senhor pode adiantar de “O Grande Circo Místico”, que deve começar a ser filmado em outubro deste ano?

Que é um filme que sonho fazer há muito tempo, e para o qual estou me preparando há três anos.


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