Alex Hornest (também conhecido como ONESTO) é um pintor, escultor e artista multimídia. Começou a desenhar ainda criança e na adolescência decidiu criar seus próprios personagens. Formou-se em Administração de Empresas na Escola Técnica Estadual Prof. Arlindo Pinto da Silva (1988/1991) e em Desenho de Comunicação na Escola Técnica Estadual Carlos de Campos (1992/1995). Fazendo grafite desde 1992 foi convidado a integrar uma exposição coletiva no Museu da Imagem e do Som de São Paulo em 1994 e nos anos que se seguiram continuou a pintar nas ruas e a levar suas obras para galerias e museus de todo o país. A partir de 2007 passou a expor regularmente nos Estados Unidos e Europa. A tridimensionalidade é uma constante na obra de Hornest, não apenas em suas esculturas, mas em suas pinturas também. Suas criações são inconfundíveis. Personagens de traços peculiares, semelhantes aos criados para histórias em quadrinhos, surgem em forma de animais, homens e mulheres – muitas vezes arredondados com pernas e braços finos – elaborados em ferro, vidro, argila e madeira ou pintados em lonas, paredes e em mosaicos feitos com suportes inusitados. Eles ganham vida em um universo urbano onde retratam cenas comuns do cotidiano. “Procuro sempre desenvolver coisas que possam de alguma forma questionar ainda mais qualquer assunto que me desperte interesse”, afirma o artista.
Alex, quando a arte deve ter um papel social?
Acredito que em todos os momentos porque um artista ao se expressar comunica com qualquer tipo de pessoa muitas vezes até mesmo sem saber. Compreender o que a sua arte leva para um meio ou simplesmente desperta na maioria das pessoas é um dever fundamental para qualquer artista. Só assim é possível evoluir naquilo que se propõe a fazer.
E quando ela não deve ter nenhuma obrigação?
No momento em que está sendo desenvolvida ou executada. Depois disso a obrigação de decupá-la, de entender ou mesmo de repugná-la é do espectador e nunca do artista.
O que a série de vídeos/documentários “A Invasão e Sujo” representa para você como artista?
Representa o registro de uma época. O desejo de difundir informação. A vontade de compartilhar aquilo que se está vivenciando.
Você é sem dúvida nenhuma, um dos maiores artistas multimídias do país. Quando encontrou a sua forma única de realizar o seu trabalho?
Sinto que até hoje não encontrei uma forma e sim meios que me levam a ter uma postura e talvez uma identidade que reflita o meu modo de ver as coisas que me cercam e me inspiram. Procuro retratar (mesmo que de forma distorcida) tudo aquilo pelo qual sou envolvido, que me desperta curiosidade, que me faz rir e chorar. O resultado do meu trabalho nada mais é do que a forma que encontrei para dividir um pouco desses sentimentos.
Depois de acabado, seus trabalhos refletem em seu interior mais interrogações, exclamações, reticências ou pontos finais?
Sem sombra de dúvidas interrogações. Procuro sempre desenvolver coisas que possam de alguma forma questionar ainda mais qualquer assunto que me desperte interesse. Não desejo nunca trazer soluções e sim sempre a dúvida, o conflito, o embase em tudo aquilo que eu faça. Sou motivado pelos desafios e dificuldades… Procuro sempre nunca encontrar as respostas e sim sempre mais dúvidas para tentar dissecar ao máximo qualquer assunto que seja do meu interesse.
De onde vem o ONESTO?
ONESTO é um dos 72 nomes que assino nas ruas. Tenho uma “crew de um homem só” que denominei 72 D.I.E.S.E.L. – 72 Delinquentes Infantis Especialistas Sobre Estilo Livre. O nome ONESTO vem de uma brincadeira com a junção do número “um” em inglês “one” que no grafite significa ser único, aquele que possui estilo nos desenhos dos seus personagens e letras. Juntei isso com a palavra “isto” que em português me remete a expressão que me vem na cabeça em todos os momentos que faço alguma descoberta “é isto”. Já o Hornest é do meu sobrenome mesmo. Tem origem holandesa…
Quais as diferenças na assimilação do seu trabalho pelos públicos brasileiro, americano e europeu?
Não sei bem ao certo, mas aqui sinto que a partir da minha estética consigo me comunicar bem com qualquer tipo de público por empregar elementos simples em tudo que faço. Coisas do cotidiano que qualquer um reconheça. Na América os que se identificam com o meu trabalho são aqueles que amam comix, cartoons, cinema, etc. Já na Europa percebo que o que mais chama atenção são as temáticas que uso por elas não serem nada usuais ao cotidiano deles.
E quais as principais similaridades que você notou?
Todos procuram algo novo. Algo que não seja apenas contemplativo. Muitos dizem que encontram isso no meu trabalho.
Em sua exposição individual de 2010 intitulada “Animais de Concreto”, você faz uma analogia entre o cárcere e a liberdade. O que foi dito sobre essa exposição em especial, que você nem imaginava quando estava criando?
O resultado foi mais interessante do que eu imaginava! Espectadores me disseram que antes disso nunca haviam refletido sobre o que eu estava propondo ali com animais (representando nós humanos) aprisionados dentro de um espaço expositivo e fora, nas ruas em total desconforto em uma falsa liberdade tentando viver e interagir com todo o caos pelo qual somos cercados diariamente. Para mim isso era bem claro, mas não imaginava que seria assim para outras pessoas. Sem dúvida uma das melhores respostas que já tive sobre um dos meus trabalhos.
Quando um artista se sente preso num cárcere e quando ele está completamente libertado?
Preso – quando se deixa levar pelas influências vindas do capitalismo. Livre – quando tem total liberdade sobre a sua produção.
Em uma certa ocasião, você afirmou que queria que suas obras não fossem nem maior e nem menor que o local onde elas estão. Podemos afirmar que a sua palavra de ordem é a integração?
Totalmente! Se o que me proponho a fazer por acaso não estiver em harmonia com o entorno não vejo sentido algum em executar tal ação. Quero sempre poder ter uma espécie de troca… Deixo um pouco de mim, mas levo o que aquele momento me ensinou. Quando trabalho sou influenciado por tudo e por todos. Esse tipo de interação e experiências são o que considero o “meu pagamento”.
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