O renomado maestro Isaac Karabtchevsky, iniciou sua carreira como regente do Madrigal Renascentista, de Belo Horizonte. Já atuou como diretor artístico da Orquestra Sinfônica Brasileira de 1969 a 1994, do Teatro La Fenice, em Veneza, entre 1995 e 2001, da Orquestra Tonkünstler, em Viena, entre os anos de 1988 e 1994, da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre de 2003 a 2010 e atualmente é o diretor artístico e regente principal da Orquestra Petrobras Sinfônica. Além disso, foi diretor musical da Orchestre National des Pays de la Loire entre os anos de 2004 a 2009. Também é diretor artístico do Instituto Baccarelli, em São Paulo, projeto social na Comunidade de Heliópolis, que reúne 1.500 estudantes distribuídos entre 5 orquestras sinfônicas e 17 corais. Em fevereiro de 1999, dirigiu na Washington Opera House a ópera Boris Godunov, com Samuel Ramey no papel título. O crítico Tim Page, do jornal Washington Post, destacou sua interpretação da ópera de Mussorgski entre os dois melhores espetáculos da temporada do Kennedy Center em 1999. No carnaval de 2015, a escola de samba Unidos de Vila Isabel prestou uma homenagem ao maestro Isaac Karabtchevsky com o seguinte enredo: “O maestro brasileiro está na terra de Noel. A partitura Azul e Branca da nossa Vila Isabel”. Em 2009, o jornal inglês The Guardian indicou o maestro como um dos ícones vivos do Brasil.
Isaac, o que é ser um maestro em sua definição?
A regência implica numa missão, aquela que começa na infância e se projeta no decorrer dos anos. Dela fazem parte a dedicação e abnegação, respeito às tradições históricas de uma época e estilos diferentes. Significa também servir a comunidade, lutar pela divulgação e popularizar os meios de acesso.
O falecido maestro alemão Kurt Masur, dizia que queria que sua orquestra o amasse para ter uma melhor performance. Quando está regendo também quer o mesmo efeito ou sua visão é oposta a essa?
Fazer música é doação, participação e coesão. Nenhum desses fatores poderia ser alcançado diante de barreiras, sejam de natureza musical ou psicológicas.
O senhor estudou durante muitos anos na Alemanha, sendo que grande parte de sua formação musical aconteceu no país. O que foi absorvido desta sua experiência, que traz consigo até os dias atuais, afinal estava na terra de gigantes como Wagner, Strauss e Bach?
Todo regente deve obter a maior experiência possível, desde o estudo acadêmico até o contato com grandes professores. Eu, ainda jovem, tive a sorte de obter uma bolsa de estudos do governo alemão em uma das melhores faculdades da Europa.
Há alguns anos, o senhor afirmou que as pessoas muitas vezes enxergam a profissão de maestro com um glamour que não tem. De onde o senhor acredita que esta imagem foi retirada e não colocada no sentido real de renúncia na vida pessoal que é realizada em muitos casos?
O aspecto exterior da regência, uma sequência de gestos, muitas vezes enganam o público. A realidade da profissão impõe a premissa que o movimento das mãos venha acompanhado de uma real intenção musical – caso contrário, será uma simples sequência de gestos destituídos de emoção.
Quais foram os principais saltos que o senhor acredita que a vida sinfônica deu no Brasil nos últimos anos?
Foram enormes, desde a duplicação do número de orquestras sinfônicas até o aprimoramento do público.
Como popularizar a música clássica no Brasil, sem baixar o nível intelectual e a qualidade das produções?
Trata-se de acreditar no potencial de nosso povo, aberto a todas as tendências e não apenas condicionado a um tipo de música.
Em 2014 o senhor fez 80 anos, e escolheu a obra do tcheco-austríaco Gustav Mahler para reger, dizendo que Mahler é o símbolo de fé no ser humano e na preservação da espécie, acima de todas as diferenças e preconceitos. O senhor se vê em Mahler de certa forma?
Tenho afinidades artísticas com o grande gênio que foi Mahler, um personagem histórico que deixou uma grande mensagem para a posteridade.
Como foi a experiência de ser homenageado pela escola de samba Unidos de Vila Isabel in loco em 2015?
Foi um momento único, onde me senti parte de uma estrutura que só conhecia através dos desfiles. Uma escola de samba é tão organizada como um conjunto sinfônico, um misto de respeito mútuo e hierarquia.
Voltando ao assunto regência, podemos dizer que a glória do maestro se dá, quando ele consegue transmitir através do gesto uma noção explícita de como deve soar um conjunto?
Não é somente isso. Ao gesto sobrepõe-se a vontade e a mensagem do compositor.
Gostaria que o senhor falasse um pouco do Instituto Bacarelli, um projeto fantástico na Comunidade de Heliópolis.
Com a Petrobras Sinfônica, da qual sou regente titular, a Orquestra de Heliópolis, com características diferentes, nasce de uma comunidade carente e emerge como força propulsora da cidadania e da inclusão social.
O poeta francês Paul Claudel, disse que a música é a alma da geometria. E para o senhor, o que é a música?
Para mim música é a razão de ser, a forma de sentir a vida impregnada de sentido.
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