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A essência da fotógrafa Claudia Jaguaribe

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Claudia Jaguaribe é fotógrafa e artista plástica. O empenho em explorar os limites da fotografia é a marca de sua obra, que transita entre a fotografia convencional, feita nas ruas ou em estúdio, e a experimentação, com elementos de cinema, vídeo, computação gráfica e mídias em geral. Depois de formar-se em história da arte pela Boston University, Estados Unidos, coordenou os cursos de artes plásticas e fotografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), de 1979 a 1981; do setor de fotografia da Fundação Rio Arte, de 1981 a 1984; e da Casa de Cultura Laura Alvim, de 1984 a 1986. Além das atividades didáticas, produz fotografias de moda e publicidade para diferentes jornais, como Folha de S.Paulo, O Globo, Jornal do Brasil, The Harvard Magazine, e revistas, como Veja, Exame, Playboy, Vogue e Marie Claire. Suas imagens estão enraizadas na experiência contemporânea. Exemplos disso são: o ritmo das cidades, em “Cidades” (1993); o movimento das coisas e dos corpos, em “O Corpo da Cidade” (2000); personagens, em “Retratos Anônimos” (1996); espaços de trânsito, em “Aeroporto” (2002); e espaços de reclusão, em “Carandiru” (2003). Não se trata de documentar o presente, mas de lançar uma reflexão sobre ele a partir de imagens que se declaram construções, artefatos. É extremamente reconhecida pelo trabalho “EntreVistas”, onde revela a rotina dos lares paulistanos.

Claudia, em que momento a arte passa a ocupar um papel social?

A arte é um produto social pela sua própria natureza. Reflete a sensibilidade, as necessidades de seu tempo, aponta caminhos e levanta questões que ainda não encontraram um espaço devido. É uma forma de pensamento que atinge a todos em diferentes níveis.

Como as inquietações internas e as observações externas fazem parte do seu processo criativo?

O meu processo artístico vem, em geral, ligado a uma necessidade de conhecer e me aproximar de questões que podem ser no plano social, no próprio âmbito da linguagem artística. A fotografia me permite uma entrada formal que inicia a costura entre o mundo exterior e a necessidade do meu conhecimento e interferência sobre as coisas.

Qual o principal pilar em seu processo criativo?

O interesse de conhecer e devolver esse conhecimento numa perspectiva pessoal. É uma forma de dialogar com as pessoas.

O que você busca numa fotografia e que para você é essencial?

A fotografia para mim está ligada a um processo de pós-produção e manipulação da imagem. As imagens são uma base para mim como um banco de dados. E enquanto fotografo vou desenvolvendo um projeto que é maior que apenas uma imagem. São instalações, narrativas visuais que agregam muitas imagens. A conexão entre elas é o que mais me interessa assim como a forma final que não necessariamente é bidimensional.

A arte de fotografar é uma briga entre duas forças, no caso a do fotógrafo e do seu fotografado?

Sim e não porque depende da natureza do trabalho. Eu procuro trabalhar em sintonia com o meu objeto de interesse mesmo que tenha um caráter de questionamento. Tem que haver algum nível de simbiose, de integração entre o fotografado e o fotógrafo para um resultado positivo.

Como sua bagagem visual interfere no modo de você produzir o seu trabalho?

Desde muito cedo, menina sempre fui profundamente marcada pelas artes plásticas e mais tarde pelo cinema. A minha fotografia está muito ligada a questões plásticas e como desenvolver a própria forma de fotografar e como mostrar a imagem.

O que mais lhe marcou no seu trabalho “EntreVistas” e que foi oriunda dessa bagagem visual?

Foi uma grande imersão na vida de muitas pessoas. Entrei em suas casas, entrevistamos, fotografamos e participamos da vida deles no sentido de compartilhar a experiência de viver na mesma cidade e tentar entender como isso se dá. Os espaços de cada um dizem muito de suas vidas. Mostrar com a devida complexidade essa intimidade foi muito interessante e desafiador.

Acredita que a fotografia vem ganhando um tom mais efêmero com o universo digital?

A fotografia no sentido da arte está sendo muito desafiada pelo excesso. Há um cansaço visual, mas, ao mesmo tempo, um grande desafio de sair do supérfluo, do banal para investigações mais complexas e inclusive multimídias.

Como a sua fotografia interfere ou já interferiu na vida dos seus fotografados?

A fotografia interfere no sentido que as pessoas passam a ver a realidade pela perspectiva introduzida por uma imagem como foi no caso da série “Entre Morros” no caso do Rio de Janeiro. A foto da “Menina na Laje” por exemplo, é sempre citada como um exemplo da vida na comunidade (Rocinha) porque é composta de uma imagem perto e outra de longe criando uma síntese entre a imensidão da área ocupada e a vida cotidiana da criança. Ou mais diretamente como no caso de “EntreVistas” em que foram fotografadas pessoas de origem e renda muito distintas e se tornaram vizinhas no livro e na exposição. Passaram a ocupar o mesmo espaço e importância trazendo um sentido de comunidade e pertencimento igual para todos.

O que é ser um artista em sua visão pessoal?

O artista, a meu ver, traz uma janela para um pensamento novo ou forma de sensibilizar. Realiza trabalhos para que algo novo aconteça ou possibilite uma nova perspectiva seja no social, na visão plástica ou na sensibilidade do seu tempo.

Algo que é notado em seus trabalhos é a questão do tempo. Qual alicerce que faz um trabalho se transformar em atemporal?

Trabalho bastante com a reinterpretação de heranças culturais, portanto, com a mudança temporal. Carregamos o passado numa projeção paro futuro e entender esse processo é vital. Não se trata de olhar para trás, mas de entender como ao investigar as nossas origens podemos ser diferentes, questioná-las e melhorá-las para frente. A atemporalidade é, a meu ver relativa. A qualidade da obra tem mais haver com questões intrínsecas da sua própria confecção do que propriamente com o tema abordado.


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