Nascida na Inglaterra, Sheila Maureen Bisilliat estudou pintura com André Lhote (1885 – 1962) em Paris, em 1955, e na Art Students League de Nova Iorque, com Morris Kantor (1896 – 1974), em 1957. Veio pela primeira vez ao Brasil em 1952, fixando-se definitivamente no país em 1957, na cidade de São Paulo. A partir de 1962, abandona a pintura e passa a dedicar-se à fotografia. Trabalha como fotojornalista para a Editora Abril, entre 1964 e 1972 – na revista Quatro Rodas, mas virá a se destacar sobretudo na extinta revista Realidade. Já publicou também, vários livros de fotografia inspirados em obras de grandes escritores brasileiros. A partir da década de 1980, dedica-se ao trabalho em vídeo, destacando-se o documentário de longa-metragem “Xingu/Terra”, rodado com Lúcio Kodato, na aldeia Mehináko, no Alto Xingu. “Não sei bem dizer, só sei que cada vez que saía da Casa de Detenção, reganhando a rua e os “de fora”, sentia saudades das conversas e vivências narradas: da necessidade, aliás, de narrar de certos prisioneiros da Detenção. (…) O “real” visto e vivido contraposto à tela vazia do artista: pintor ou desenhista. Mas, veja bem, trata-se de uma coisa bem pessoal, resultado de uma vida viajada quando criança, de ciganos sem ser. (…) Uma experiência, um momento de inteligência criativa levando ao aproveitamento mútuo entre as equipes de jornalistas e fotógrafos e as diretorias das revistas 4 Rodas e Realidade”, afirma.
Muitos dizem que a senhora é uma fotógrafa de almas. Considera que a sua fotografia tem esse diferencial, ou seja, a de captar a alma das pessoas?
A alma? Muito me admiro quando ouço isso, mas grata estou por essa percepção. Talvez, no entanto, seja a dignidade do outro, a diferença e a cumplicidade entre a fotógrafa e o fotografado que caracterizam àquelas, minhas imagens, que “conduzem à alma”.
De 1964 a 1972, a senhora foi fotógrafa da revista Realidade, um marco da imprensa nacional. Como foi essa experiência?
Uma experiência, um momento de inteligência criativa levando ao aproveitamento mútuo entre as equipes de jornalistas e fotógrafos e as diretorias das revistas 4 Rodas e Realidade. Para mim, como para os que participaram daquela época áurea da Editora Abril, foi um crescimento e uma “maneira” de melhor conhecer o Brasil!
A senhora disse que quando precisa iniciar um novo trabalho, dá um certo medo de começar. De onde vem esse medo, já que é uma das fotógrafas mais preparadas do nosso país?
Se a gente já estiver “preparada”, a proposta já vem preparada de antemão. No entanto, o traçado e as ligações são os caminhos a serem aventurados e descobertos pouco a pouco.
Como está vendo o momento atual do fotojornalismo, com o digital dando cada vez mais vigor para essa área?
Nem mais nem menos vigoroso, pois, vigor pode ter características diferentes. Entretanto, o vigor, lá está, contagia e envolve tanto o mensageiro (jornalista e fotógrafo) quanto o leitor das notícias enviadas.
A senhora disse que quando entrou para o mundo da fotografia, queria ter um contato com a realidade aparente. O que seria essa realidade aparente?
O “real” visto e vivido contraposto à tela vazia do artista: pintor ou desenhista. Mas, veja bem, trata-se de uma coisa bem pessoal, resultado de uma vida viajada quando criança, de ciganos sem ser.
Em 2003, a senhora organizou o livro “Aqui Dentro – Páginas de uma Memória: Carandiru”, sobre o cotidiano dos presos da extinta Casa de Detenção de São Paulo. Quando realiza um trabalho como esse, a senhora quer dar voz para aqueles que estão de certa forma excluídos da sociedade, ou quer trazer uma reflexão para o público de modo geral?
Não sei bem dizer, só sei que cada vez que saía da Casa de Detenção, reganhando a rua e os “de fora”, sentia saudades das conversas e vivências narradas: da necessidade, aliás, de narrar de certos prisioneiros da Detenção.
Quando fazíamos a pesquisa para entrevistá-la, em um título de uma matéria dizia: “O Olhar Estrangeiro de Maureen Bisilliat”. A senhora veio para o Brasil em definitivo em 1957. Não é estranho perceber que algumas pessoas tenham ainda, a visão da estrangeira que fotografa o país?
À constatação muitas vezes ouvida: “Mas, você conhece o Brasil melhor que a gente”; respondo com jocosidade: “Mas eu estou aqui antes de muitos de vocês nascerem!”. O que, com 82 anos cumpridos, deve ser bem verdade!
Como a senhora avaliaria o papel da escrita em seu trabalho?
Muito importante, diria até fundamental, pois, para mim, vão mão em mão imagem e escrita, e estarás de acordo comigo ao dizer que tive como “companheiros de viagem” pessoas extraordinárias: Guimarães Rosa [escritor, diplomata e médico mineiro 1908-1967], Jorge Amado [escritor baiano 1912-2001], Adélia Prado [escritora mineira 1935-] e Suassuna [Ariano – dramaturgo, romancista e poeta pernambucano 1927-] entre os que pude conhecer pessoalmente; Euclides [Euclides da Cunha – engenheiro, militar, físico, naturalista, professor, jornalista, romancista, ensaísta, filósofo, poeta, escritor, geólogo, geógrafo, botânico, zoólogo, hidrógrafo, historiador e sociólogo carioca 1866-1909] e João Cabral [João Cabral de Melo Neto – poeta e diplomata carioca 1920-1999] pelo contágio de suas obras magníficas, sendo os Villas-Bôas – Orlando e Cláudio [respectivamente Orlando Villas-Bôas 1914-2002 e Cláudio Villas-Bôas 1916-1998 sertanistas paulistas] – generosos amigos que me introduziram ao índio e ao Xingu.
O Instituto Moreira Salles, detém cerca de 16 mil imagens dos trabalhos da senhora. Em 2010 foram extraídas 200 fotos para a exposição que celebrava os seus 50 anos de carreira. Existe alguma foto que a senhora tem um carinho especial, e que ficou no meio das 15.800 que não foram expostas?
Talvez, quem sabe? “O Anjo – Menino Negro com Asas” que cativando um sem número de admiradores, agora, com 67 anos vividos, reviu comigo e com a saudade, essa sua imagem de outros tempos.
No ano passado, o IMS (Instituto Moreira Salles) apresentou a exposição “A João Guimarães Rosa: fotografias de Maureen Bisilliat”. Fale um pouco mais sobre esse trabalho em especial.
Prefiro falar do filme que fizemos recentemente na busca de Guimarães Rosa e seu Sertão, na minha volta para Andrequicé (MG): 50 anos depois da minha primeira entrada aos gerais na procura dos mundos de Guimarães e seu encontro com Manuelzão.
Qual é a coisa que mais lhe fascina no seu trabalho, fazendo os seus olhos brilharem, mesmo depois de 50 anos de carreira?
A constância, o assombro e prazer dos “momentos encontrados”; o companheirismo e a criatividade do trabalho em conjunto.
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