Formado em Letras pela Universidade de São Paulo em 1998, Tuca Vieira é fotógrafo profissional desde 1991. Já atuou no Museu da Imagem e do Som, Sesc-SP, e na agência N-Imagens. Fez parte da equipe de fotografia do jornal Folha de S. Paulo de 2002 a 2009. Atualmente é fotógrafo independente, desenvolvendo projetos envolvendo cidade, paisagem urbana, arquitetura e urbanismo. Já participou de mostras individuais em diversas galerias de todo o mundo e recebeu o prêmio Porto Seguro de Fotografia, categoria São Paulo (2010), o Prêmio Grupo Nordeste de Fotografia (2005) e o Prêmio Folha de Jornalismo, categoria Fotografia (2004). Uma de suas obras notórias é “Brasil: o espetáculo do crescimento”, onde o fotógrafo faz uma expedição fotográfica pelo novo Brasil urbano, traçando um retrato do crescimento econômico do país nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste. “Meu interesse pela paisagem urbana, começou desde que passei a me interessar pela cidade de São Paulo. Nasci aqui, sou um fotógrafo paulistano e sempre achei a cidade como construção humana, a obra mais complexa que existe. E pelo fato de morar em São Paulo, sempre quis entender o lugar em que vivo. Como chegamos até aqui? Como chegamos nessa complexidade urbana tão grande? Eu nunca consegui naturalizar a cidade de São Paulo. Ela sempre foi um objeto estranho pra mim, e posteriormente um objeto de estudo”, afirma.
Tuca, em que momento uma fotografia passa a ter um papel social?
A fotografia tem um importante papel social desde que foi inventada. O impacto que a fotografia causou na sociedade como um todo, atingiu praticamente todas as áreas do conhecimento. Claro que esse impacto foi aumentando com o próprio desenvolvimento técnico da fotografia e sua difusão. Com o desenvolvimento da imprensa e a reprodução maciça das imagens através das revistas e dos jornais, a fotografia passou a ser parte integrante da vida do cidadão urbano do século XX.
Acredita que a foto com a imagem de Paraisópolis encostada no Morumbi, teve esse papel?
Acho que sim. Acho que essa fotografia consegue cumprir uma das funções mais importantes do jornalismo: ela denuncia uma situação intolerável. Com isso, ela gera indignação e provoca reações. Essa imagem ilustra uma série de reportagens, trabalhos acadêmicos e publicações que, aos poucos, vão tentando transformar essa realidade social. A medida que essa fotografia gera ação, ela cumpre um papel social.
Como as reflexões internas e as observações externas fazem parte do seu trabalho?
Meu trabalho tem cada vez mais transitado entre isso que você chama de ambiente interno e ambiente externo. Além de buscar fotos nas ruas (como deve ser), meu trabalho tem sido complementado com uma reflexão de ordem mais teórica e na academia. Acredito (cada vez mais) que apenas realizar fotografias num mundo já saturado de imagens não é suficiente. É preciso trazer com essas fotografias, uma reflexão sobre elas. Então, esse trânsito entre os livros e as câmeras, digamos assim, me interessa muito.
O que é ser um fotógrafo em sua definição particular?
Ser fotógrafo é desenvolver um modo particular e crítico de ver o mundo.
Quais as relações da arte com o mundo contemporâneo urbano?
Isso ocorre porque o mundo tomou uma tal complexidade que foge à nossa capacidade de percepção imediata. O mundo não decorre mais diante de nossos olhos. Uma série de fluxos invisíveis determinam a nossa vida. Decisões tomadas do outro lado do mundo interferem na nossa realidade aqui e agora. Aspectos como o fluxo do capital financeiro, a globalização de forma geral, a internet, o transporte de mercadorias e a velocidade com que isso tudo acontece, faz com que o ser humano se sinta perdido no meio desse oceano de informação.
Você disse que o homem nunca se viu tão desorientado espacialmente. Por que isso ocorre?
Portanto, desorientado que estamos, vamos perdendo a capacidade de agir sobre este mesmo mundo que nos escapa. Na opinião de importantes pensadores contemporâneos, o homem precisa recuperar a sua capacidade de localização, de mapeamento. Ele precisa saber novamente onde está diante dessas estruturas complexas.
Quando começou o seu interesse pela paisagem urbana?
Meu interesse pela paisagem urbana, começou desde que passei a me interessar pela cidade de São Paulo. Nasci aqui, sou um fotógrafo paulistano e sempre achei a cidade como construção humana, a obra mais complexa que existe. E pelo fato de morar em São Paulo, sempre quis entender o lugar em que vivo. Como chegamos até aqui? Como chegamos nessa complexidade urbana tão grande? Eu nunca consegui naturalizar a cidade de São Paulo. Ela sempre foi um objeto estranho pra mim, e posteriormente um objeto de estudo. Ela me desperta sobretudo muita curiosidade.
O que mais lhe chocou nessa paisagem?
Como eu disse, acredito que a cidade é a obra humana mais complexa e mais dramática que existe. Talvez a grande realização humana seja a cidade.
Como o seu olhar foi desenvolvido até você encontrar aquilo que considera ser o ideal para o seu ofício?
Eu acho que ainda não encontrei esse ideal. Acho que a fotografia (e quase tudo que faço) é uma busca contínua. Eu não vejo um ponto de chegada em que as coisas se estabilizam. O meu trabalho é movido por uma curiosidade, um desejo pelo novo, pelo desconhecido. Acho que a essência do fotógrafo é essa busca do desconhecido.
Que outras influências são absorvidas por você e que são colocadas no seu “arquivo visual” mental?
Meus interesses giram em torno das ciências humanas: a arte, a história, a filosofia e, mais recentemente, a arquitetura. Na minha experiência de vida tudo isso é jogado numa espécie de “caldeirão” que coloco para ferver, acreditando que essa mistura possa resultar em algo interessante. Quando vou para rua fotografar, espero trazer isso tudo comigo. Claro que na hora de fotografar é preciso também esquecer de tantas ideias, e deixar se levar um pouco pelo instinto. Quando você olhar para uma fotografia minha eu gostaria que você pudesse ver essas coisas ali contidas.
Quais desafios ainda lhe movem em sua profissão?
Muitos desafios. Vejo o mundo e o Brasil tomando um rumo muito incerto e muito perigoso. Eu acho que nós que produzimos arte, cultura e educação, temos a obrigação de intervir nesse mundo. Vejo um movimento muito perigoso politicamente, economicamente e ecologicamente. Se a gente não agir neste momento, em breve poderá ser muito tarde!
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