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A intensidade artística de Marcos Sacramento

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Entre os anos de 1984 e 1987, Marcos Sacramento integrou o grupo carioca de rock de vanguarda Cão Sem Dono. No ano de 1985, participou, juntamente com o grupo, da trilha sonora do filme “A Propósito do Rio – Três Histórias dos Anos Oitenta”, do professor, cineasta e produtor Roberto Moura, sendo este o último filme estrelado por Grande Otelo. No ano seguinte, gravou pelo Selo Boas Produções e Gravações Ltda o LP “Cão Sem Dono”. Em 1998 lançou o CD “Caracane”, pela Dabliú Discos, interpretando composições em parceria com Paulo Baiano, sendo a faixa-título de autoria de Paulo Baiano e Sérgio Natureza. Em 1997, o CD “A Modernidade da Tradição”, feito com o grupo O Trio e com a participação de Marcos Suzano, foi lançado pelo selo francês Buda Musique, na França, e também no restante da Europa, Estados Unidos e Japão. O disco foi considerado pela revista “Le Monde de Musique” como o melhor disco brasileiro lançado na França naquele ano. Em 2013 participou do musical “Forrobodó: um choro na cidade nova”, montagem baseada no libreto de Luiz Peixoto e Carlos Bettencourt, musicada por Chiquinha Gonzaga em 1912, com direção de André Paes Leme e direção musical de Maria Teresa Madeira. Neste ano apresentou o show de lançamento do CD “Autorretrato” no Teatro Rival, no Rio de Janeiro. “Gosto de fazer provocações com a minha linguagem corporal no palco. Silvia é esperta, sacou isso”, afirma o cantor e compositor.

Marcos, em todas as carreiras e artes, existe um momento que você ou vai para frente de uma vez para se realizar como profissional, ou volta para trás deixando o medo dominar o seu sonho. Lembra-se do momento em que você foi para frente, levando-o a ter esses 30 anos de estrada?

Sempre fui pra frente. O medo faz parte. Mas nunca pensei em retroceder.

Você sempre diz que sua formação musical é híbrida. Em que momento sentiu que poderia tirar proveito dessa facilidade de ir para o pop, para o rock ou para o samba, sem perder a essência daquilo que acredita?

Pois é justamente o ecletismo de minha formação que me faz transitar bem pelo pop/rock/samba… Fui adolescente no início da década de 70 ouvindo Michael Jackson e Paulinho da Viola.

Sempre que possível em entrevistas, você fala que o violão é o instrumento mais presente em sua carreira fonográfica, sendo até homenageado em seu disco “Na Cabeça”. De onde vem essa devoção?

Não sei exatamente. Mas acho que o violão é muito presente na música popular ocidental. Tive a sorte de ter encontros com grandes mestres desse instrumento ao longo da minha carreira como Maurício Carrilho, Zé Paulo Becker e Luiz Flavio Alcofra. Isso marca né?

Em 2004, o jornalista e escritor Ruy Castro, afirmou que você era um dos segredos mais bem guardados da MPB. Como sentiu na época quando leu esse elogio feito a você?

Ter um elogio de Ruy Castro é sempre uma honra. Agora espero ser um segredo revelado.

Ainda referente a pergunta anterior, você se sente um dos segredos mais bem guardados da MPB, ou acredita que já foi “achado” pelo grande público?

Não, ainda não fui achado.

Muitos críticos afirmam que o seu CD “Caracane” de 1998, é o mais atemporal de sua carreira. Como enxerga essa afirmação e já linkando, como vê o seu estado (Rio de Janeiro) atualmente?

Caracane é um trabalho que me deu muito prazer. Antonio Saraiva é um grande orquestrador e me deu a honra de escrever os arranjos para esse disco. Em grande parte, é responsabilidade dele o disco ter esse caráter de atemporalidade. O Rio de Janeiro continua lindo e caótico. Uma pena ver a cidade tão suja e violenta. Violenta pra caramba. Assustadoramente violenta!

A arte, mais precisamente a música no seu caso, deve ter um papel social?

Se for pra fazer pensando nisso, deixa de ter. A arte deve ser feita. Estou com Laurie Anderson [artista experimental norte-americana]: “O mundo muda sozinho, não precisa da arte pra mudar”. Posso mudar de opinião sobre isso também…[Risos].

Como tem sido a recepção do público com o seu novo disco “Autorretrato”?

Acho que nego tá curtindo. Fiz poucos shows. Não tive nenhum apoio para lançamento. Não toca nas rádios.

Palavras da artista Silvia Machete sobre você: “Marcos tem o poder de seduzir homens e mulheres… nos tempos de hoje quer dizer muita coisa”. Você sente que tem todo esse poder com o público, quando está se movendo no palco?

Gosto de fazer provocações com a minha linguagem corporal no palco. Silvia é esperta, sacou isso e dirigiu um show meu no Teatro Rival.

O seu CD “A Modernidade da Tradição”, foi considerado o melhor disco brasileiro de 1997 pela revista francesa “Le Monde de La Musique”. É estranho para um músico competente como você, ver que muitas vezes a qualidade é recompensada no exterior, enquanto tantas outras vezes a mediocridade é recompensada no Brasil?

Cansei desse papo. Desculpe.

Você disse que ao logo de sua carreira, tinha tomado caminhos tortuosos, mas que um dia chegaria lá. Sente que já chegou onde você almejou ou ainda falta algo para realizar?

[Risos]. Falta muito e não sei se chego. E os caminhos estão cada vez mais tortuosos, nesse mundinho de merda do showbiz brasuca. Tô de saco cheio.


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