Arthur Bispo do Rosário, nascido em Japaratuba em 16 de março de 1911, é uma figura única na história da arte brasileira. Sua jornada artística foi profundamente influenciada pela esquizofrenia, levando-o a residir em instituições psiquiátricas por quase cinco décadas. Este texto mergulhará na vida e obra desse artista, destacando seus feitos, desafios e o impacto cultural que ele deixou para trás.
A trajetória de Arthur Bispo do Rosário começou na pequena cidade de Japaratuba, em Sergipe. Filho de Adriano Bispo do Rosário e Blandina Francisca de Jesus, foi alfabetizado por fazendeiros de cacau. Inicialmente, sua vida tomou um rumo militar ao alistar-se na Escola de Aprendizes de Marinheiros, mas seu envolvimento com o boxe e uma série de punições levaram à sua expulsão da Marinha em 1933.
A virada dramática em sua vida ocorreu em 1938, quando Bispo teve um surto psicótico, alegando ser Jesus Cristo. Esse episódio desencadeou uma série de eventos que o levaram ao Hospício Pedro II e, posteriormente, à Colônia Juliano Moreira. O diagnóstico de “esquizofrênico-paranoico” marcou o início de sua longa jornada pelas instituições psiquiátricas do Rio de Janeiro.
Apesar dos desafios enfrentados por Bispo, sua veia artística floresceu nas condições mais adversas. Nos anos 1930, enquanto ainda vivia com a família Leone, começou a criar objetos a partir de itens encontrados no lixo e na sucata. Contudo, foi após sua internação psiquiátrica que sua produção artística adquiriu um caráter místico e único.
Sua obra, composta por 802 peças de diferentes técnicas, destaca-se pela costura e bordado em tecido, especialmente em fardões e estandartes. Temas como navios, estandartes, faixas de misses e objetos domésticos permeiam suas criações. O Manto da Apresentação, concebido para ser usado no Juízo Final, é sua peça mais icônica, simbolizando sua missão divina.
Bispo do Rosário tinha na palavra uma ferramenta pulsante em sua arte. Sua comunicação, muitas vezes fragmentada em códigos privados, manipulava signos e brincava com a construção de discursos. Em um contexto excludente e marginalizado, ele driblava as instituições, recusando tratamentos médicos e se recusando a expor toda sua obra em vida, com receio de se separar dela.
Inserido nesse jogo desafiador, Bispo utilizava objetos recolhidos da sociedade de consumo como registros do cotidiano. Sua abordagem estética refletia características das vanguardas artísticas e das produções elaboradas a partir da década de 1960, mesmo sem datar ou assinar suas obras, dificultando a identificação em anos ou fases específicas.
A descoberta efetiva da obra de Bispo do Rosário ocorreu nos anos 1980, quando foi reconhecido como um artista vanguardista, comparado à obra de Marcel Duchamp. Em 1989, após sua morte, foi organizada a primeira exposição exclusiva de seu trabalho, intitulada “Registros de Minha Passagem na Terra”. O sucesso da exposição impulsionou sua apresentação em diversas capitais do Brasil.
O reconhecimento oficial veio em 1994, quando o Instituto Estadual de Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro tombou o conjunto de sua obra. Além disso, sua influência ultrapassou o âmbito artístico e alcançou o Carnaval do Rio de Janeiro, onde foi homenageado pela Acadêmicos do Cubango em 2018, recebendo críticas positivas da imprensa especializada.
A vida e obra de Arthur Bispo do Rosário continuam a inspirar debates sobre os limites entre a insanidade e a arte, destacando sua contribuição única para a cultura brasileira e a arte contemporânea. Seu legado desafia preconceitos e convida a uma reflexão profunda sobre a natureza da criatividade e da expressão artística.
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