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Roberta Borrelli fala do ambiente corporativo

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Roberta Borrelli é mestre em Gestão Organizacional, especialista em Gestão de Recursos Humanos e Psicóloga, com 26 anos de experiência em Gestão de Pessoas. Beatriz Moura é Psicóloga, pós-graduada em Terapia Cognitivo Comportamental, pelo CBI Miami Child Behaviour Institute. Junto com a psicóloga Beatriz Moura, criou o projeto MotivarAção, que tem como objetivo proporcionar a oportunidade de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal e profissional para quem busca crescimento, para quem deseja reconhecer seus talentos para se reinventar e ter sucesso, e não sabe como se preparar para dar o próximo passo. “Historicamente, o conceito e significado do trabalho trazem uma associação ao sofrimento, a algo que realizamos para entregar o que nos pedem, mas sem qualquer associação com a possibilidade de ser algo prazeroso. Essa insatisfação pode estar diretamente relacionada a falta de sentido nas tarefas que você realiza, ou com a forma como a organização em que você atua lida com as pessoas. Quando há interação entre os processos e as pessoas, com olhar humanizado, os resultados são bem mais alinhados com os objetivos estratégicos. Mas a grande questão é que nessa relação existem os desejos, anseios e características das pessoas e a cultura organizacional, quanto menor aderência você sente nessa relação, maior a possibilidade de insatisfação”, afirma Borrelli.

Roberta, por que a insatisfação no ambiente corporativo tem crescido?

Historicamente, o conceito e significado do trabalho trazem uma associação ao sofrimento, a algo que realizamos para entregar o que nos pedem, mas sem qualquer associação com a possibilidade de ser algo prazeroso. Essa insatisfação pode estar diretamente relacionada a falta de sentido nas tarefas que você realiza, ou com a forma como a organização em que você atua lida com as pessoas. Quando há interação entre os processos e as pessoas, com olhar humanizado, os resultados são bem mais alinhados com os objetivos estratégicos. Mas a grande questão é que nessa relação existem os desejos, anseios e características das pessoas e a cultura organizacional, quanto menor aderência você sente nessa relação, maior a possibilidade de insatisfação. Se o que você faz e onde você está mantém você motivado, dificilmente estará insatisfeito, mas o ambiente corporativo nem sempre consegue corresponder a esta necessidade.

Escolhas erradas podem ter ligação com essa insatisfação?

Por ser identitário, o trabalho é algo que nos cobram muito cedo, quem não ouviu a pergunta: O que você vai ser quando crescer? Desde muito cedo nos cobram esse movimento, para que possamos atender as regras sociais e coletivas.

Nesse sentido, temos que escolher o que fazer ainda com cerca de 17/18 anos, pois, precisamos nos tornar profissionais em algo que, supostamente faremos a vida toda. Para muitas pessoas é um momento de decisão difícil, pois, nem todos sabem ainda o que realmente gostam, o que os fazem ter brilho nos olhos, e especialmente o que os faz sentir motivados. A falta de conhecimento e experiência nas áreas de formação tendem a trazer esse sentimento de incômodo ao ter que escolher algo que, até então, as pessoas supostamente acreditam gostar ou querer fazer.

Uma vez empregado, inicialmente vem a ideia de que você teve sucesso de encontrar uma oportunidade na sua área de formação num mercado tão desafiador como do trabalho. Acreditando nessa perspectiva, começamos a dar valor ao que entregamos, ao que recebemos de remuneração e reconhecimento, ao que conquistamos, ao que podemos consumir e por aí vai, entramos no que poderia ser comparado ao piloto automático de um avião – programamos a velocidade, a rota e o destino e seguimos firmes nessa trajetória. E, não há nada de errado nesse direcionamento se ele foi planejado conforme seus desejos, suas necessidades e, principalmente de acordo com o seu propósito.

Provavelmente você identificou seu propósito lá atrás, que lhe fizeram a pergunta sobre o que você desejaria ser quando crescesse, mas de lá pra cá foram tantas cobranças e tantos padrões a serem atendidos, que talvez você não conseguisse mais ter clareza do seu propósito quando precisou fazer a escolha da sua profissão e, talvez você não tenha feito a escolha totalmente errada, mas, com certeza, não deve ter sido a mais acertada.

Desta forma, é bem provável que você se depare em algum momento, quando começar a querer entender melhor o seu propósito, com essa insatisfação. Quantas vezes você olhou para sua caminhada até aqui e se perguntou: se a minha criança pudesse conversar comigo hoje, ela estaria satisfeita com as escolhas que eu fiz? E quantas vezes pensou: preciso fazer algo onde eu possa me encontrar.

Como protagonizar essas escolhas?

Quando conhecemos o nosso propósito, sabemos com muita facilidade encontrar as melhores escolhas para fazer com que nossa trajetória seja de satisfação. Claro que nem sempre encontraremos as melhores oportunidades de acordo com o que sabemos que queremos para nós, mas podemos nos utilizar das que surgem, para que sejam um atalho para alcançar o que desejamos. Quando você decide fazer um curso que tem muito a ver com você, mas sabe que ele vai te oportunizar alcançar o seu propósito, ele é uma excelente escolha naquele momento e não tem nada de errado se ele não tiver conexão com a sua atividade profissional fim, pois, nossos conhecimentos, habilidades e atitudes, ou seja, nossas competências comportamentais, nos “colocam” no trilho para a direção do nosso propósito.

Sendo assim, quando você conhece o seu propósito, você sabe o que aciona o seu botão de motivação e as escolhas direcionadas para o que aciona serão sempre as mais acertadas e realmente protagonizadas, por que lhe permitem escolher o que fazer e fazer o que gosta.

Essa insatisfação já estava acentuada antes da pandemia?

Sempre existiu e sempre existirá insatisfação, principalmente no ambiente corporativo. Muitas personalidades, muitos projetos, muitas ideias, muitos egos e, quase sempre pouco planejamento, conciliar tudo para ter resultado é um desafio que muitas vezes nos coloca na direção da entrega com qualidade, mas sem considerar nossas vontades, interesses, realizações, etc.

Com a pandemia, tivemos que nos organizar dentro de nossas casas, num ambiente em que até então não podia se “misturar” com o trabalho e nos trazia a ideia de ser nosso lar, nosso cantinho. De repente, equipamentos, ajustes nos móveis, adequação de horários, dificuldade de mostrar aos filhos que estamos em casa, mas estamos trabalhando. Até então eles nos via depois que chegávamos do trabalho, e o trabalho agora é em casa.

Por outro lado, trabalhar de casa nos permitiu usar melhor o tempo. Se eu não tenho que sair 3 horas antes de casa, eu posso fazer uma atividade física antes de iniciar meu horário de trabalho, afinal se a reunião começa 8h posso me conectar 07:59. Se acabo de fazer minhas atividades e não preciso das horas para retorno no trânsito, posso fazer algo que eu queira, que eu goste, que me relaxe… Quantas pessoas descobriram novas oportunidades, novos talentos e novos sentidos para algumas horas do seu dia que pareciam não existir?

É inegável que a tecnologia trouxe ganhos para a produtividade das empresas. Essa mesma busca por um alto desempenho, pode ter trazido uma série de insatisfações para os profissionais?

A nossa cultura sempre relacionou produtividade com estar todo dia no horário no local de trabalho, os que cumprem seus horários ou até passam da hora são os “comprometidos”, ainda que efetivamente produzam apenas duas horas das seis que ficam no trabalho, por exemplo. Muitas empresas vêm mudando essa cultura há algum tempo, entendendo que não importa o quanto você dedica seu tempo para o trabalho e sim o qual qualificadas e no prazo são suas entregas.

Com o cenário da pandemia, começamos a observar a intensa postagem de fotos e vídeos sobre a quantidade de reuniões, sobre o trabalho sendo realizado, sobre a proposta do encontro online, etc. Esse comportamento mostra para nós que essa busca por um alto desempenho aconteceu significativamente e, talvez inconscientemente as pessoas desejavam compartilhar sua produtividade, afinal como saberiam se ela estava trabalhando ou fazendo outra coisa.

Mas depois de um certo período, as pessoas começaram a se sentir extremamente cansadas e o discurso passou a ser eu trabalho mais de casa do que quando estou na empresa. De fato, essa sensação é reflexo dos hábitos diários que nos impusemos para garantir que a percepção sobre nosso desempenho não fosse modificada por nossos empregadores. Entregamos mais, fazemos mais e desempenhamos mais, a busca por alto desempenho foi concretizada.

Aí vem outra questão, que para mim, é o que está diretamente relacionado com as insatisfações nesse cenário. Faço mais do que eu fazia, sou eficaz na entrega, mas o que me traz satisfação ainda não está nesse contexto, está faltando algo que não sei o que é.

Como reconhecer os seus talentos e potenciais?

Nossos talentos estão relacionados com nossas habilidades para realizar uma tarefa. Quando vemos uma criança de dois anos chutando uma bola com habilidade, logo falamos, tem talento para ser jogador. Mas nem sempre temos oportunidade de mostrar nosso talento, imagina se os responsáveis por essa criança não gostarem de futebol? Ela poderá mostrar sua habilidade da mesma forma, mas ela não será reconhecida por quem, durante esse período pode contribuir para o desenvolvimento desse talento.

Assim acontece com todas as nossas habilidades, nem sempre temos a oportunidade de que sejam reconhecidas e acompanhadas, logo, nos desenvolvemos com uma grande vontade e gosto por algo que não sabemos o motivo, mas que provavelmente é um talento nosso.

Nesse mesmo exemplo da criança com a bola, podemos falar do potencial. Potencial é latente, eu só sei se tenho ou não quando sou submetida a uma situação que não vivenciei e entrego ou desempenho com qualidade e eficácia. Então, se essa criança nunca tivesse tido contato com uma bola, apesar de ter talento, não saberia que tem potencial.

No universo do trabalho, da profissão, da produção é a mesma coisa. Se eu não tenho que fazer o que eu faço, em condições mais exigentes que as que estou acostumado a fazer, não tem como saber se tenho potencial. No mundo corporativo, se seu gerente não consegue identificar que você tem talento para algo, não vai lhe atribuir mais do que você tem de responsabilidade, logo, não vai conseguir saber o se você tem ou não potencial. Nem ele, nem você!

O autoconhecimento se encaixa nesse reconhecimento?

Com certeza. Se eu não me conheço, não conheço minhas habilidades, meus desejos e minha capacidade, como saberei se posso dar o próximo passo ou me reinventar, se não sei o potencial que tenho para isso.

A motivação também faz parte desse ingrediente?

A motivação faz parte de tudo na nossa vida, mas é um processo interno. Ninguém motiva você, pode lhe incentivar, mas se você não se sentir realmente motivado provavelmente não vai realizar o que deseja. O que precisa é saber o que aciona o seu botão de motivação, pois, geralmente tem relação com seu talento e o movimento que você faz quando se sente motivado vai levar você para novos desafios onde vai identificar seus potenciais. E olha, quanto mais você se movimenta, mais você descobre ser capaz de fazer. Lembra que o potencial é latente? Tem que se movimentar na direção do seu propósito.

Como ter uma motivação diária mesmo com todos os problemas que deverão surgir?

Quando você sabe o que aciona o seu botão de motivação, sempre vai buscar não só o desenvolvimento e crescimento, mas pequenas coisas do dia a dia que lhe permitem manter a motivação. É nesse sentido que precisamos conhecer o que nos impulsiona e o que nos impacta para que possamos lidar com esses problemas para não desistir no caminho.

A utilização da terapia cognitiva é fundamental para esse profissional?

As técnicas da terapia cognitiva apresentam ótimos resultados na prática clínica mas também em outras áreas de atuação, que tenham foco no autoconhecimento e desenvolvimento pessoal. Por meio das estratégias de intervenção direta sobre os problemas, ela contribui para conhecermos o que nos impulsiona e o que nos impacta e como utilizar nosso repertório para lidar com o que nos paralisa ou não permite nosso progresso.

Fale um pouco sobre o projeto MotivarAção.

É um projeto para proporcionar a oportunidade de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal e profissional para quem busca crescimento, busca conhecer os seus talentos e potencial para se reinventar e ter sucesso, mas não sabe como se preparar para dar o próximo passo.

Última atualização da matéria foi há 2 anos


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