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A observação da realidade pela fotografia familiar

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Registrando afetividades e momentos do dia a dia, a fotografia documental dá um novo tom aos álbuns de família. Esse estilo de trabalho tem ganhado diversos adeptos como a profissional Letícia Maia. A fotografia documental é diferente de tudo o que se conhece. Não tem ensaios dirigidos nem poses. É a realidade, o momento onde uma família, por exemplo, é registrada enquanto prepara o café da manhã, brinca, arruma a casa, prepara o almoço, lava a louça, as crianças fazem o dever de casa, etc. Tudo o que acontece na vida de uma família é registrado através das lentes da câmera. Letícia começou este trabalho há dois anos, inspirada em um fotógrafo paulista, com quem fez um curso em SP. Ela é quem vai para a casa das famílias e com a câmera em mãos registra cenas cotidianas para ilustrar a memória real das pessoas. “Mesmo quando uma criança faz birra hoje, e os pais têm que educar e brigar e ensinar, é demonstração de amor, e depois que os filhos crescem sentar e ver as fotos das birras e lembrar como eram as carinhas de bravos que faziam é muito legal, traz muitas conversas e risadas. Cada família tem seu ponto específico mais querido e especial, para alguns é o dar o banho, é o fazer o dever juntos ou a hora de dormir e tudo isso fica ali registrado. (…) Fotografar é uma troca entre o fotógrafo e o fotografado e também uma observação da realidade, mas a realidade a minha maneira”, afirma a fotógrafa.

Letícia, em que momento a fotografia entrou em sua vida conduzindo o seu caminho profissional?

Sou farmacêutica de formação, trabalhei na área por seis anos. Mas nunca fui totalmente feliz com meu trabalho. Quando meu filho mais velho nasceu, vi que era hora de mudar, mas ainda não sabia para onde queria ir. Quando meu filho estava com 10 meses ganhamos um sorteio de um ensaio de família e a partir daí minha vida mudou, descobri o que mexia com meu coração. Fotografia seria meu futuro. Sempre gostei muito de fotografias, de olhar as fotos antigas de minha avó e querer saber quem eram aquelas pessoas. Lembro de um trabalho de história que fiz ainda quando criança que pedia uma foto antiga. Peguei uma das poucas fotos de meu bisavô que estava numa fábrica em que ele trabalhava e aquilo foi incrível para mim! Podia saber um pouco mais de sua história e da história de minha avó (sua filha).

Como você definiria o ato de fotografar?

Fotografar é uma troca entre o fotógrafo e o fotografado e também uma observação da realidade, mas a realidade a minha maneira, com a minha visão. Para fotografar uma família por exemplo, você precisa entrar naquela energia, naquela sintonia que é só deles, e interpretar aquela energia a minha forma, a minha maneira e que ao mesmo tempo faça sentindo para eles [Risos].

E como você se define como fotógrafa?

Como observadora de emoções e como historiadora, que ajuda a perpetuar a história de cada família.

Qual o conceito da chamada fotografia documental?

Fotografia documental é fotografar sem interferir na cena. É demonstrar o mais de perto da realidade possível, a vida em determinada situação. Pode ser em eventos, em ensaios na casa dos clientes ou em shows e até uma fotografia de guerra.

Por que o seu trilhar profissional se deu por este caminho?

Justamente por gostar das fotos de família e das histórias que sempre contamos e ouvimos por trás de cada uma delas e por acreditar que o amor é muito mais verdadeiramente retratado em uma fotografia documental do que em uma foto posada. Nela vemos olhares verdadeiros, sorrisos verdadeiros, carinhos sem pedir. E até quando um dos pais briga com os filhos por alguma razão, isso retrata amor e cuidado.

A fotografia documental é vista por você como arte ou ela vai muito além disso?

É uma arte sim, porque a vida é uma arte! Todos os dias os pais fazem malabarismos para dar conta de tudo, é a arte do circo na fotografia; todos os dias os irmãos pregam pegadinhas um no outro e se acabam de rir, é a arte do humor; todos os dias os pais respiram fundo para não surtarem com uma pirraça, resfriado, dever de casa que não lembram mais como se faz, é arte da meditação. Fotografia Documental é arte de retratar todas essas artes do dia a dia. É a arte que te faz olhar as fotos antigas e ter saudade de todas essas outras artes que já te deixaram louco um dia.

O que você consegue captar na fotografia documental que vai ao contrário de uma foto posada?

Em fotos posadas, muitas vezes uma criança está cansada, com sono, ou simplesmente prefere brincar a fazer poses [Risos]. Temos que encontrar formas de envolve-las e extrair delas os melhores sorrisos e olhares. Em fotos documentais, elas podem rir, chorar, fazer pirraças ou simplesmente ser elas mesmas. Nem todo mundo sorri aberto, dando gargalhadas e acabamos “forçando” socialmente as crianças a fazerem isso. No documental as deixamos livres para explorar o seu mundo, as suas ideias, ser elas mesmas. E é nessa hora que aparecem os sorrisos com o olhar que são os mais lindos.

Quais são as suas principais influências?

Primeiro de todos o fotógrafo Renato DPaula, um grande documentarista paulista. E todos os outros que começam hoje a trilhar esse caminho, como Daniel Freitas entre outros. Os maiores documentaristas que existem são os fotógrafos de guerra, que emprestam seu olhar para mostrar ao mundo os terrores reais. Eles são grandes influências também. Sebastião Salgado, grande observador de povos.

Qual a maior liberdade que o fotógrafo pode ter em seu ofício na sua visão?

A maior liberdade é não ter roteiro pré-determinado… é não ter que seguir um caminho traçados por terceiros.

O fotógrafo deve desafiar o conhecido ou o desconhecido?

Acho que o fotógrafo deve desafiar os dois. Porque deve se conhecer e entender sua visão e saber o que mais mexe com seu coração. Não só ir com a maré, com a moda (por exemplo fotografias de arquiteturas ou natureza, não é a forma que melhor me expresso. Sou melhor interpretando a realidade e emoções das pessoas). E acho que o fotógrafo tem que querer tentar coisas novas, aquela máxima de “time que está ganhando não se mexe” é furada! É buscando novas formas de interpretar a vida e suas fotos que o fotógrafo consegue ir além, se superar.

Em que momento esse desafio se fez presente em sua carreira?

Fotografar um parto pela primeira vez foi um grande desafio do desconhecido. Estar em um ambiente hospitalar e ter que respeitar toda a luz do local, que é a melhor para os médicos, não poder se mover muito, já que vários equipamentos são esterilizados e não podem ser tocados, e ao mesmo tempo ficar atenta as emoções dos pais.


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