Claudio Haddad é engenheiro mecânico e industrial pelo Instituto Militar de Engenharia e doutor em Economia pela Universidade de Chicago. Foi por dez anos professor da Escola de Pós-Graduação de Economia da Fundação Getúlio Vargas (1974-1984). Entre 1980 e 1982, ocupou a posição de diretor do Banco Central do Brasil. No ano seguinte, entrou para o lendário Banco Garantia, onde permaneceu por quinze anos como sócio e diretor superintendente. Em sua carreira, Claudio também foi membro do conselho de administração da BM&F Bovespa, da Ideal Invest S.A., do Instituto Unibanco e do Hospital Israelita Albert Einstein. Foi ainda presidente do conselho consultivo do David Rockfeller Center for Latin American Studies Brazil e membro do Global Advisory Council da Universidade de Harvard. Atualmente é preside do Conselho Deliberativo do Insper, faculdade que fundou em São Paulo com o nome lbmec em 1999. “Os problemas são graves, mas justamente por isso é que acredito que a aritmética prevalecerá sobre ideologias e preferências políticas. Inevitavelmente reformas serão feitas, claro que variando na forma dependendo de quem seja eleito este ano. A economia está se recuperando, embora lentamente, e a inflação está totalmente sob controle. A liquidez mundial continua elevada e creio que novos investimentos virão do exterior após as eleições, dando um fôlego temporário para a nova administração”, afirma.
Claudio, o senhor é reconhecidamente otimista no modo de encarar os seus desafios. Continua otimista com os rumos que o Brasil pode tomar num futuro não tão distante?
Continuo moderadamente otimista. A história tem mostrado que o Brasil tem conseguido superar suas crises e seguir, ao estilo brasileiro, três passos à frente e um para trás, mas segue.
O cenário econômico do nosso país ainda continua sombrio em sua visão?
Os problemas são graves, mas justamente por isso é que acredito que a aritmética prevalecerá sobre ideologias e preferências políticas. Inevitavelmente reformas serão feitas, claro que variando na forma dependendo de quem seja eleito este ano. A economia está se recuperando, embora lentamente, e a inflação está totalmente sob controle. A liquidez mundial continua elevada e creio que novos investimentos virão do exterior após as eleições, dando um fôlego temporário para a nova administração.
É impossível descolar a política da economia em um país como o Brasil?
É impossível descolá-la da economia em qualquer país, não só no Brasil. Mesmo em regimes fechados a política tem de atender minimamente as necessidades da população para seus dirigentes continuarem no poder.
A equipe econômica liderada pelo ministro da Fazenda Henrique Meirelles (um homem com alta credibilidade no mercado) é o que sustenta a economia do país neste momento ou já vê outros dados mais estáveis?
Sem dúvida a equipe tem sido uma âncora para o mercado e investidores, mas como argumentei anteriormente, acredito que reformas terão de ser feitas, independentemente de quem ganhe as eleições. A alternativa é o caos e o suicídio político, que ninguém minimamente responsável e racional vai querer.
O senhor chamou em uma certa oportunidade, a relação entre o Governo e os empresários como incestuosa. Acredita que esse “incesto” pode ser diluído com os Governos vindouros?
Sim. Parte pelos efeitos da Operação Lava Jato e suas ramificações e parte por que, dada a situação fiscal, o Governo terá de conter gastos e fazer escolhas difíceis. Ou seja, a capacidade de gerar “benesses” diminuiu bastante. Infelizmente acredito que o modelo corporativista ainda atrai muita gente no Brasil, seja por motivos ideológicos ou simplesmente por interesses. Isto pode gerar retrocessos assim que a situação fiscal melhorar.
Quais pilares são necessários para termos uma boa transparência institucional?
Determinação da liderança de fazer acontecer e cobrança da sociedade, o que acontece quando esta tem um grau minimamente adequado de “capital social” (combinação de educação com cidadania), o que infelizmente ainda não é o nosso caso.
Estamos tendo uma crise de lideranças?
Sim. Ainda não houve uma saudável e necessária renovação. Nossos principais políticos são os mesmos há muitos anos e quase todos já perderam sua capacidade de aglutinar e liderar processos de transformação. Ainda não apareceu nenhum novo que, a meu ver, já tenha demonstrado estas características.
Como encontrar ou até mesmo formar novos líderes?
Atraindo jovens competentes para a política. Vejo isto já acontecendo, com muitas boas iniciativas neste sentido, o que me deixa esperançoso e mais otimista com o futuro.
Meritocracia é a palavra-chave para um país que se acostumou com conchavos em muitos casos?
Sem dúvida. Meritocracia, transparência, foco, continuidade e fundamentalmente o desenvolvimento de capital social (educação mais cidadania) sem o qual nada disso é possível.
Por que os recursos da educação são tão mal geridos em nossa nação?
Falta determinação de resolver (liderança efetiva), foco, responsabilizações e continuidade. Ou seja, gestão efetiva, o que com algumas exceções não ocorrem. Quando ela acontece as coisas melhoram significativamente. Vide exemplo de Sobral, Pernambuco e outros pelo Brasil. Infelizmente ainda são muito isolados.
Todos ou uma grande maioria das pessoas usam a palavra excelência para categorizar o Insper. Como conseguimos obter essa excelência em outros fragmentos da nossa sociedade?
Com o que disse antes. Objetivo claro, foco, determinação, continuidade e liderança efetiva para fazer acontecer. Excelência exige trabalho continuado, construindo pouco a pouco, corrigindo o errado e sempre procurando melhorar. Tem de se ter visão, transparência e valores sólidos, com os quais não se pode transgredir. A ação tem de ser consistente e coerente com a retórica.
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