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Adriana Bertini cria obras de alcance global

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A artista visual brasileira Adriana Bertini está chamando a atenção de todo o planeta com as suas obras feitas com camisinhas. Alguns dos seus trabalhos atuais são: O Projeto Barong, na unidade móvel que fica no Largo do Arouche em São Paulo e em universidades e eventos. A unidade móvel oferece testes rápidos de HIV, hepatites C e B e sífilis, aconselhamentos, informações sobre saúde sexual e reprodutiva e encaminhamentos para unidades de saúde quando a sorologia é positiva. Trabalha num projeto novo de arte chamado O.X.E.S com abertura prevista para 16/04. Será uma exposição sobre prevenção combinada com outros elementos ausentando um pouco a imagem da camisinha onde já trabalha com outros elementos como embalagens de retrovirais e medicamentos. A exposição didática, dinâmica e interativa é uma parceria com a médica e artista Fabiana Gabaskallas e será realizada no Espaço Oficina em SP, recebendo uma média de 400 estudante dia. Outro trabalho é o projeto de fotografia com a revista American Aids Magazine em Los Angeles onde fotografam celebridades com as suas obras e a exposição. Será em novembro de 2019 em Los Angeles e de lá vai para São Francisco, Durban e São Paulo. Além de todos esses trabalhos, faz aconselhamentos via WhatsApp e Messenger para pessoas em alto risco de vida. “Acho que sou a luz no caminho de muitas pessoas”, afirma.

Adriana, a arte deve ter um papel social?

Não sei se a arte “deve” ter um papel social uma vez que arte sempre esteve associada a estética, ao belo, ou ao contraditório sem esquecer as percepções do artista, das emoções e das ideias. A arte tem caminhos infinitos de reflexões e eu na minha trajetória optei fazer arte social para promover questionamentos além da estética e do belo em favor da mudança social.

Quando você acredita que a arte e o ativismo se encontram?

A arte e o ativismo se encontram quando a obra propõe além da estética, reflexões sociais como denúncias para questões sociais que necessitam da arte como ferramenta de diálogo.

Em que momento você encontrou essa combinação?

Encontrei este viés quando a partir dos anos 80 muitas pessoas infectadas pelo vírus do HIV foram discriminadas… quando o número de óbitos era avassalador. Sabia da história desde o começo, mas meu encontro foi em 1992 quando o assunto atingiu-me diretamente. Foi ali que percebi que integrar arte e ativismo seria uma forma de diálogo menos assustador que as campanhas publicitárias que tinham lançado a Aids como sentença de morte.

Quais das suas inspirações lhe influenciaram e fizeram ter um encontro reflexivo no que faz hoje?

As minhas primeiras inspirações foram meus pais que me educaram com uma visão ampla e focada nas questões sociais. É a minha referência familiar que traduz o que eu faço hoje. Especificamente o preservativo foi um encontro de uma parceria com o amigo Fabiano Menna onde fizemos uma criação coletiva focada para uma campanha específica em primeiro de dezembro de 1993. Após alguns anos o meu interesse pela matéria-prima (camisinha) foi aumentando e aprofundei a minha pesquisa sobre o tema, com materiais e questões como meio ambiente em relação ao descarte de preservativos.

Como surgiu a ideia do projeto Condom Couture?

Condom Couture não foi uma ideia e sim um processo de criação que começou a se construir em 1997, após inúmeras tentativas e experimentos artísticos e técnicos com a matéria-prima camisinha. Se consolidou em 2002 em Barcelona e migrou para outros países onde hoje tenho muitos seguidores que fazem uma releitura da minha arte nos seus projetos próprios.

O que mudou na conscientização do brasileiro sobre o HIV de 1996 para cá na sua visão?

Muitas coisas mudaram. Evoluímos, pesquisamos e crescemos na comunidade global. A Aids não é mais uma sentença de morte. A expectativa de vida aumentou, a tecnologia evoluiu, o tratamento no Brasil já foi considerado o melhor do mundo, quebramos patentes, os efeitos colaterais da medicação melhoraram, a taxa de transmissão vertical já foi a zero em várias capitais nacionais, temos a prevenção combinada, o teste rápido… impossível citar todas as mudanças. O programa Nacional “DIA HIV” do Ministério da Saúde do Brasil é um exemplo ao mundo. Embora ainda tenhamos muitos desafios em relação aos Direitos Humanos e a criminalização relacionadas ao tema.

Como foi o primeiro impacto do público receptor quando viu as suas criações feitas de camisinha?

O primeiro impacto público em 1996 foi complexo. Do ódio ao amor, muitas pessoas reagiram negativamente e muitas pessoas se encantaram. Lembro que em 1997 estava no metro em São Paulo usando uma bolsa feita de preservativos quando uma senhora me bateu na cabeça com um guarda-chuvas me xingando com dizeres como: “uma pouca-vergonha mostrar camisinhas em público”. Ao mesmo tempo, numa exposição tinham vários comentários nos livros de assinatura de agradecimento por mediar uma conversa constrangedora entre pais e filhos.

E hoje como está essa mesma recepção?

A camisinha não é mais um objeto velado como era, embora em algumas situações ainda causem vergonha e constrangimento. Tive uma experiência no ano passado numa exposição em Amsterdã na XXII Conferência Internacional de Aids com uma moça do Sudão. Ela falou que jamais poderia fotografar com uma peça de arte de camisinha e mostrar no país dela devido à religião, já que era um perigo ou uma sentença de morte. Então ela pediu-me de uma maneira delicada e discreta se eu poderia encontrá-la no banheiro com uma peça para ela fazer uma foto abaixo do véu dela para mostrar para as amigas mais íntimas que ela teve coragem. São situações globais diferentes da evolução que tivemos no Brasil.

Uma geração livre da Aids é possível?

Acredito que sim num futuro distante de acordo devido à meta 90-90-90 da UNAIDS, mas temos muitos desafios à frente em termos nacionais segundo o retrocesso do novo Governo nas políticas públicas em HIV e Aids, e em termos globais devido à cultura específica de cada país. Um sonho um pouco distante, mas real.

Como os veículos de comunicação podem ajudar para que isso venha ocorrer um dia?

Acho que a principal forma é ter o tema na pauta independente de datas temáticas como primeiro de dezembro, carnaval ou Dia dos Namorados. A pauta tem que ser diária… um grande exemplo foi o projeto Atitude Abril da editora com o mesmo nome, que movimentou a consciência coletiva de todas as redações.


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