O termo “teste do sofá” se refere a uma prática sombria que, por décadas, assombrou a indústria do entretenimento, em que aspirantes a atores, atrizes e outros profissionais eram supostamente coagidos a participar de atos sexuais com diretores, produtores ou executivos em troca de oportunidades de trabalho. Embora este fenômeno tenha sido popularmente associado a Hollywood e à indústria do cinema, as histórias de abuso de poder e exploração também reverberaram nas produções televisivas. O que torna o tema ainda mais controverso é a sua negação por alguns e confirmação por outros, criando um véu de mistério em torno de sua veracidade.
A seguir, discutiremos o conceito do “teste do sofá” no contexto da televisão, sua presença em escândalos históricos, depoimentos de pessoas que vivenciaram ou comentaram o tema, e os impactos dessas alegações na cultura midiática.
O conceito do “teste do sofá” nasceu nos anos dourados de Hollywood, uma era marcada por glamourosas estrelas de cinema e grandes estúdios controlando rigidamente a carreira de atores e atrizes. No entanto, o termo logo se expandiu para além do cinema, incluindo também a indústria da televisão, que cresceu exponencialmente durante o século XX.
Na televisão, o controle das oportunidades estava frequentemente nas mãos de poucos produtores e diretores. Isso criou um ambiente propício para que algumas dessas figuras de poder pudessem abusar da posição que detinham, utilizando o sonho de ascensão ao estrelato como moeda de troca para obter favores pessoais, muitas vezes de natureza sexual. O termo, com o tempo, foi normalizado em conversas informais, apesar de sempre ter sido um assunto delicado e até mesmo perigoso para quem ousava abordá-lo publicamente.
Por muito tempo, as denúncias de abusos de poder eram abafadas ou vistas com ceticismo. Muitos artistas que se sentiram pressionados por tais práticas hesitaram em compartilhar suas experiências devido ao medo de represálias ou de serem vistos como problemáticos para o setor. A televisão, com suas novelas, séries e programas de variedades, não ficou imune a essa prática, embora o “teste do sofá” tenha sido mais abertamente discutido no cinema.
Nas últimas décadas, várias denúncias sobre o “teste do sofá” emergiram, jogando luz sobre figuras poderosas da indústria do entretenimento. Embora a maioria das revelações tenha vindo da indústria cinematográfica, como o caso de Harvey Weinstein, outras figuras da televisão também foram acusadas de assédio sexual.
Na televisão americana, por exemplo, o nome de Roger Ailes, ex-CEO da Fox News, foi manchete quando várias jornalistas e apresentadoras o acusaram de assédio sexual. O escândalo, que teve repercussões significativas, mostrou como o abuso de poder era possível mesmo em veículos de grande alcance, como uma rede de televisão.
No Brasil, algumas denúncias também revisitaram essa problemática, ainda que de maneira mais velada. Em 2017, a atriz Antônia Fontenelle afirmou em entrevistas que sofreu assédio de diretores de TV no início de sua carreira. Embora não tenha citado nomes, Fontenelle insinuou que o “teste do sofá” existia na televisão brasileira, reforçando a ideia de que esse comportamento não era exclusivo de Hollywood.
Outro relato marcante veio da atriz e apresentadora Xuxa Meneghel, que, em 2018, admitiu em entrevista à revista “Caras” que sabia da existência do “teste do sofá” na TV brasileira. Xuxa destacou que foi alvo de insinuações e propostas indecorosas durante sua trajetória, mas sempre recusou. No entanto, ela lamentou que muitos profissionais tivessem se submetido a tais situações em busca de oportunidades.
Diversos artistas ao longo dos anos têm utilizado suas plataformas para falar sobre o tema, criando um ambiente mais seguro para que outros também compartilhem suas experiências. Embora nem todos tenham diretamente usado o termo “teste do sofá”, muitos relataram situações de assédio e coação.
A atriz americana Susan Sarandon, por exemplo, revelou que, no início de sua carreira, foi assediada sexualmente por um grande produtor de Hollywood, o que reforçou a ideia de que a prática não era incomum nem em cinema, nem em televisão. Outra figura importante, Rose McGowan, foi uma das primeiras a expor Harvey Weinstein e liderou o movimento #MeToo, que inspirou muitas outras pessoas a denunciarem abusos na indústria.
No Brasil, algumas atrizes que ficaram famosas nas décadas de 1980 e 1990 também abordaram o assunto, embora com certa cautela. Claudia Raia, por exemplo, declarou em entrevistas que sempre soube dos rumores do “teste do sofá”, mas que nunca precisou se submeter a essa prática devido à sua formação teatral sólida. No entanto, ela reconheceu que muitas mulheres jovens, sem as mesmas oportunidades ou formação, acabavam sendo vítimas de assédios.
Esses depoimentos mostram como, embora o tema fosse discutido em sussurros por anos, ele finalmente ganhou visibilidade pública, com consequências importantes para a indústria.
O movimento #MeToo, iniciado em 2017, transformou a maneira como o mundo enxergava o abuso de poder na indústria do entretenimento. O impacto do movimento foi tão grande que transcendeu as fronteiras dos Estados Unidos e da indústria cinematográfica, chegando à televisão e outras mídias.
Grandes nomes da televisão foram derrubados após o movimento ganhar força. Figuras como Charlie Rose, apresentador renomado da TV americana, perderam seus empregos e prestígio após denúncias de assédio. No Brasil, o movimento também inspirou mulheres a denunciarem abusos, embora o impacto tenha sido mais tímido em comparação com Hollywood.
Além de dar voz às vítimas, o #MeToo ajudou a desmistificar a ideia de que o abuso era algo a ser aceito como “parte do jogo”. As histórias que antes eram apenas rumores ganharam credibilidade, e muitos executivos de televisão perderam seus cargos em função das denúncias.
Durante décadas, a indústria do entretenimento, incluindo a televisão, foi acusada de ser conivente com práticas de assédio sexual. A cultura de silêncio que imperava nas grandes redes e estúdios permitiu que esses abusos acontecessem sem grandes repercussões. Muitas vezes, os agressores eram protegidos por sua importância dentro da empresa ou por medo de escândalos que pudessem prejudicar os negócios.
Um exemplo clássico é o caso de Bill Cosby, ator e produtor de uma das séries mais famosas da TV americana, “The Cosby Show”. Durante anos, rumores sobre suas condutas inadequadas circularam, mas somente décadas depois, ele foi condenado por abuso sexual. O fato de um homem tão poderoso na televisão ter sido protegido por tanto tempo demonstra como a indústria ignorava ou minimizava as acusações.
A conivência silenciosa pode ser explicada pela estrutura de poder que domina a TV. Executivos, diretores e produtores muitas vezes tinham carta-branca para agir de maneira abusiva, sem medo de punição. Para muitas vítimas, a denúncia significava o fim de suas carreiras.
O “teste do sofá” não apenas manchou a reputação da televisão, mas também teve um impacto direto na qualidade do conteúdo produzido. Quando diretores e produtores selecionam atores e atrizes com base em favores pessoais, em vez de talento, o resultado pode ser comprometido. Além disso, as vítimas de abuso muitas vezes carregam traumas que podem afetar seu desempenho artístico, criando uma dinâmica de trabalho prejudicial.
A cultura do abuso de poder também afeta a diversidade dentro da televisão. Muitos talentos, especialmente mulheres e minorias, foram excluídos de oportunidades de crescimento por se recusarem a se submeter a esse tipo de prática. Isso resultou em uma indústria menos diversa e menos inclusiva, onde o talento nem sempre foi o critério principal para o sucesso.
Nos últimos anos, houve esforços para criar um ambiente de trabalho mais seguro e igualitário na televisão. Diversas redes de TV implementaram políticas de assédio mais rígidas e incentivaram que as vítimas denunciem abusos sem medo de retaliação. Além disso, o papel das redes sociais e do jornalismo investigativo tem sido crucial para expor comportamentos inadequados e garantir que figuras de poder sejam responsabilizadas por suas ações.
O movimento em direção a maior transparência e responsabilidade na televisão indica que o “teste do sofá” pode estar se tornando uma prática do passado. No entanto, é fundamental que a indústria continue a evoluir, garantindo que o talento e o mérito sejam os principais critérios para o sucesso e que ninguém precise comprometer sua dignidade em troca de uma oportunidade.
Embora o “teste do sofá” seja um termo antigo e, em muitos casos, relacionado ao cinema, ele definitivamente deixou suas marcas na indústria da televisão. Os relatos de assédio e abuso de poder mostram que essa prática existiu e causou danos profundos a muitas pessoas. O movimento #MeToo foi crucial para expor esses abusos e iniciar uma transformação necessária na maneira como o poder é exercido na televisão e no entretenimento em geral. No entanto, a luta contra o abuso de poder está longe de acabar, e é essencial que as novas gerações de artistas e profissionais continuem a exigir respeito e igualdade.
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