A palavra Ahimsa (pronuncia-se exatamente como se lê) pode não parecer popular para muita gente. Mas, foi pelo significado que o termo tem que Gabriel Silva decidiu usá-la para representar a marca de calçados veganos que fundou em 2013. A palavra é adotada no hinduísmo e no budismo e tem um significado relacionado à não-violência contra outros seres. Para Gabriel, a palavra representa mais do que só o propósito ligado à marca, mas transmite, de forma geral, o estilo de vida do empreendedor — que passou por várias reviravoltas ao longo da carreira. Tudo começou aos 14 anos de idade, época em que, por causa da carreira do pai — que também trabalha na indústria de calçados –, ele e a família se mudaram para os Estados Unidos, local em que Gabriel tinha o sonho de evoluir na carreira como tenista. Pouco tempo depois da mudança, o jovem entendeu que o esporte poderia ser um hobby, mas não se tornaria uma profissão. Unindo a carreira com a própria mudança de filosofia de vida, ele e o pai decidiram fundar a Ahimsa, marca de calçados veganos, em Franca (SP). O investimento inicial foi de 50 mil reais e saiu dos próprios bolsos, para tirar a marca do papel em 2013. Após alguns testes em que viram que o produto tinha demanda, decidiram apostar de vez no negócio, construindo a fábrica que produz os calçados no ano seguinte. Globalmente, as vendas de calçados veganos devem ter um mercado consumidor cada vez maior. Segundo dados da Future Market Insights, o crescimento mais expressivo deve acontecer até 2030.
Gabriel, como podemos definir a Ahimsa?
Ahimsa é uma marca brasileira de calçados veganos.
Como surgiu a ideia para a sua criação?
Sou piloto de avião por formação, mas fui obrigado a abandonar minha carreira em 2011 quando fui diagnosticado com Diabetes Mellitus Tipo 1. Naquele momento, meu pai me chamou para trabalhar com ele. Ele atua no mercado de calçados desde 1985, passando por diversas empresas, e desde 1999 possui empresa própria, atuando como agente de exportação. Ao mesmo tempo que eu iniciava os trabalhos com ele, eu também buscava maneiras de melhorar minha saúde, pois, dali em diante estaria convivendo com a diabetes. Nesse processo eu me tornei primeiro vegetariano e depois vegano e me vi “encurralo”, pois, como vegano não queria trabalhar com calçados tradicionais, feitos de couro animal. Foi nesse momento, já no ano de 2013, que eu percebi que se eu como vegano estava procurando calçados que fossem isentos de insumos de origem animal, outras pessoas com certeza também buscavam. Foi assim que nós, eu e meu pai, decidimos começar a Ahimsa, pois, vimos que estávamos bem posicionados para servir esse mercado. Eu sendo vegano, já trabalhando na indústria de calçados por 2 anos, e meu pai com quase 30 anos de experiência, unimos forças para começar esse novo negócio.
O que molda a empresa e que sem dúvida é a grande alma do seu negócio?
Desde 2014, 6 meses após o lançamento da marca, montamos nossa fábrica. No começo a produção foi terceirizada, mas percebemos que para ir além, precisávamos controlar também toda a parte industrial. Falando de uma produção vegana, nacional e sustentável, ter a produção debaixo de nosso próprio teto sem dúvida é o que traz uma alma especial para a Ahimsa.
Por que o trabalho da Ahimsa é diferenciado nesse ramo?
Exatamente pelo fato de termos produção própria e podermos aplicar nossos valores do começo ao fim.
Quais os pontos mais importantes desse diferencial?
Empregar os trabalhadores de forma direta, controlar o processo de escolha e utilização de todas as matérias-primas, são pontos que você apenas consegue garantir tendo o processo de fabricação dos produtos de forma verticalizada.
Como tem sido o desempenho da empresa no exterior?
Muito bom! Estamos presentes no mercado externo desde 2015, mantendo essa fatia sempre como a maior de nosso negócio de lá para cá. No exterior encontrarmos um mercado mais maduro, que consome nossos produtos de forma mais “natural”, pois, a demanda já existe há muito tempo.
Em 2019 a Ahimsa cresceu 34% mantendo o mesmo patamar em 2020 mesmo com pandemia. Que fator foi primordial para esses bons números num momento turbulento?
Com certeza a diversificação de nosso negócio foi o fator predominante para mantermos em 2020 os números de 2019. Além das vendas online, através de nossa loja virtual da marca Ahimsa, trabalhamos também com venda em atacado de nossos produtos para o exterior e também trabalhamos com produção de calçados veganos para terceiros, tanto para o mercado doméstico quanto também com exportação.
Como enxerga o mercado vegano como um todo em nosso país?
O mercado vegano no Brasil segue crescendo, entregando bons números ano após ano, mesmo enquanto o país enfrenta turbulências politicas e econômicas. Percebemos que muitos consumidores enxergam nos produtos veganos/sustentáveis novos caminhos em suas vidas, fazendo com o que muitos descubram os produtos e passam a consumi-los, enquanto outros, que já os conhecem, seguem consumindo de maneira consciente.
É um mercado em expansão?
Sim, com certeza! Na medida que mais e mais pessoas se preocupam com o meio ambiente, com os impactos da atividade humana, e claro, com os direitos dos animais, o mercado ganha cada vez mais consumidores!
A empresa traz em seu DNA a sustentabilidade. Como o chamado ESG tem moldado as decisões da Ahimsa?
Para nós é interessante ver a nomenclatura ESG ganhar cada vez mais evidência, sendo que nós já aplicamos valores hoje definidos como tal, desde o começo. Por sermos uma marca vegana, a preocupação com o meio ambiente, com os animais, e claro com todos aqueles que fazem parte dos processos produtivos de nossos produtos, é algo que temos desde o começo.
Quais os próximos passos e o que vislumbra para a Ahimsa em 2022?
Em 2022 seguiremos melhorando nossos produtos, lançando novos, e buscando mais consumidores, sempre com o intuito de levar nossa mensagem cada vez mais longe. É possível consumir produtos livres de crueldade, feitos no Brasil de maneira ética e sustentável.
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