O carioca Alberto Rosenblit é um dos mais bem-sucedidos pianistas, compositores, arranjadores e produtores musicais do nosso país. Iniciou seus estudos de piano aos seis anos de idade e foi aluno de mestres como Odette Ernest Dias, Esther Scliar e Ian Guest. Em 1970, começou sua carreira tocando em várias bandas e conjuntos de câmara. Em 1980, participou de trabalhos de grandes artistas brasileiros como Nara Leão, Simone, Francis Hime e Zé Renato, e começou a trabalhar na criação de trilhas sonoras para a TV Globo. Em 2004, assinou a produção musical da novela Cabocla (Globo). Trabalhou na trilha sonora da minissérie Mad Maria. Experiente em novelas e minisséries, trabalhou também em Agosto, Presença de Anita, Mulheres Apaixonadas, Laços de Família, Páginas da Vida, Coração de Estudante, Por Amor entre outras produções. Também foi um dos responsáveis pelos arranjos do reality-show Fama em 2002 e entre 2004 e 2005. “Comecei fazendo trabalhos para a CGCOM (Central Globo de Comunicação). Eram vinhetas, pequenos comerciais e vídeos institucionais. Na sequência fui chamado para compor eventualmente música original para alguns programas isolados. Depois fui convidado pela TV Manchete para compor a música original de duas minisséries (Floradas na Serra e Guarani). Até que, na TV Globo, fiz a produção do programa Você Decide”, afirma o pianista.
Alberto, sempre perguntamos aos nossos entrevistados como foi o começo de suas respectivas carreiras, mas com você a pergunta será diferente. Qual ingrediente você acredita ter sido fundamental no início da sua carreira, que fez você ser o músico reconhecido e respeitado que é hoje?
É impossível falar sobre um ingrediente. Como também é muito relativo o conceito de “início de carreira”. Meu começo não foi ligado à música para imagem. Um fato que me pareceu muito importante foi minha participação no Festival do Colégio Andrews em 1970. A música não era minha e o arranjo era daqueles feitos coletivamente, cada um dando sua contribuição. Mas aquele movimento com tanta gente fazendo música, tanta gente procurando linguagens musicais, aquele ambiente estudantil efervescente de alegria, de desafios e sonhos… Tudo aquilo me fez sentir que aquele era o caminho a seguir. Quando terminou nossa apresentação, saí do palco convicto de que seria músico.
A imagem do Ivan Lins [músico e compositor carioca, 1945-] no Festival da Canção daquele ano também foi altamente inspiradora. A música de Tom Jobim [compositor, maestro, pianista, cantor, arranjador e violonista carioca, 1927 – 1994] os arranjos do Claus Ogerman [compositor e arranjador alemão, 1930 -] e a Bossa Nova como um todo também foram ingredientes decisivos para ter vontade e coragem de enfrentar os caminhos que iriam aparecer.
Quando você era criança, entrava no seu quarto, desligava o som da televisão e ficava testando texturas no piano e olhando a imagem. Quando foi a primeira vez que trabalhando profissionalmente, essa lembrança da sua infância, surgiu em sua cabeça?
Essa é uma lembrança recorrente. Até hoje ela aparece na minha memória. E com a “legenda”: “Quem diria! Vai imaginar que aquilo era um começo…”
Você fala que busca há muito tempo a estética da delicadeza. Se torna difícil colocar a estética da delicadeza nesse momento em que o homem se torna cada dia mais embrutecido?
Pelo contrário. Nadar contra essa “corrente” fica até mais instigante. A delicadeza é o contraponto vital. É um cacife precioso que dá alguma esperança de que as coisas poderiam melhorar. A busca por essa estética acaba sendo o mote da sobrevivência. E me faz muito bem.
Qual a medida que você usa para saber que aquela trilha sonora que você criou, “casou” completamente com o programa, com a novela, ou com a minissérie que ela estará inserida?
A música composta para a imagem é aquela que ajuda a contar a história. É um elemento como a luz, o figurino, o cenário, etc. E o compositor depende de um diretor para orientar a linha criativa.
Certa vez vi um programa na TV sobre John Williams [compositor norte-americano, 1932 -] um dos maiores compositores do cinema. E ali ele disse que a música para a imagem não é do compositor, mas do diretor. Sendo assim, a música “casa” perfeitamente com a imagem quando o diretor aprova.
No caso específico da TV, pelo volume de músicas a produzir, quando o diretor aprova as primeiras obras musicais, o compositor fica sabendo as linhas a seguir.
E por falar em televisão, como foi o seu começo na “máquina de fazer doidos”, como dizia Stanislaw Ponte Preta?
Comecei fazendo trabalhos para a CGCOM (Central Globo de Comunicação). Eram vinhetas, pequenos comerciais e vídeos institucionais. Na sequência fui chamado para compor eventualmente música original para alguns programas isolados. Depois fui convidado pela TV Manchete para compor a música original de duas minisséries (Floradas na Serra e Guarani). Até que, na TV Globo, fiz a produção do programa Você Decide. A partir dali vieram as novelas e as minisséries.
Uma das novelas mais marcantes da Globo, foi sem dúvida nenhuma “Mulheres Apaixonadas” de Manoel Carlos. Em especial, você poderia nos falar como foi a concepção da trilha sonora da mesma?
O universo do Manoel Carlos [escritor e autor de novelas, 1933 -] gira muito em torno da vida carioca e, em especial, do Leblon. E a música brasileira, e, em especial, a Bossa Nova é parte importante deste universo. Sendo assim a concepção da música dessas novelas acaba sendo como a Bossa Nova… É muito natural.
As faces mais dramáticas também são feitas com muito bom gosto. Marca registrada de Manoel Carlos. E aí Villa Lobos [Heitor Villa-Lobos, maestro e compositor carioca, 1887 – 1959], Edu Lobo [Edu de Goés Lobo, cantor, compositor, arranjador e instrumentista carioca, 1943 -] Pixinguinha [Alfredo da Rocha Vianna Filho, flautista, saxofonista, compositor e arranjador carioca, 1897 – 1973], Zequinha de Abreu [músico, compositor e instrumentista paulista, 1880 – 1935], Matita Perê [álbum de Tom Jobim lançado em 1973] e Urubu [álbum de Tom Jobim lançado em 1976] acabam sendo fontes de inspiração para o processo criativo.
Qual a lembrança que você tem da época em que trabalhava com um dos principais nomes da música brasileira, a capixaba Nara Leão?
Ficaram muitas boas lembranças. Ter trabalhado com a musa da Bossa Nova foi um prêmio na minha vida. Música, carinho, bom gosto, inteligência eram coisas com que tive o privilégio de conviver. Aprendi muito sobre várias coisas boas naquela época.
No ano passado, você lançou o CD “Mata Atlântica”. Como tem sentido a reação do público, no disco que em suas palavras é muito carioca, e evoca a fauna e a flora da floresta?
É um trabalho que me deixa muito feliz de ter podido realizar. O mercado fonográfico está passando por transformações profundas com a chegada de tantas novas mídias e meios de divulgação. Sinto que a coisa fica um pouco pulverizada. Mas, de forma simples, posso dizer que as pessoas que têm acesso, interesse, que sabem da existência do “Mata Atlântica” gostam de ouvir a aquarela que eu pintei neste trabalho. Que, na verdade, poderia se chamar “Da Mata ao Atlântico”.
Antes de lançar “Mata Atlântica”, um crítico de um grande jornal disse que o seu nome era pouco lembrado fora do circuito televisivo. Você não acha estranho quando alguém escreve isso, já que trabalhou com tantos nomes importantes da música nacional como Joanna, Simone, Francis Hime, Zé Renato e a própria Nara Leão a qual já citamos?
Já faz muitos anos que não toco com esses nomes ilustres da MPB. Estou há quase 30 anos na televisão. E, embora seja uma mídia poderosa, eu sou um daqueles “que você não vê e que faz a televisão que você vê”. E durante esses anos todos tenho a sensação de ter aproveitado a oportunidade de me desenvolver como músico, compositor, orquestrador e produtor musical. Trabalhando em várias novelas, minisséries e seriados. Então essa questão de ter o nome lembrado é relativo. Lembrado por quem? Lembrado onde?
Muitos dizem que o seu segundo álbum “De Bem Com a Vida” que teve participações de Zélia Duncan, Ney Matogrosso, Ivan Lins entre outros é elegante. Você gosta dessa definição e acha o seu álbum elegante também?
Essa é uma resposta que eu deixo para quem ouvir o CD. Mas posso dizer que tive vários privilégios nessa realização.
Apesar de ter um trabalho predominantemente instrumental, consegui juntar um time de primeira de poetas/letristas/parceiros para confeccionar um CD de canções. E, como não sou cantor, consegui a colaboração de uma constelação de cantoras e cantores brasileiros para me ajudar a defender essas canções. Procurei fazer arranjos mais enxutos para dar espaço a essas vozes maravilhosas. O resultado deste desafio me agrada muito.
Para finalizar, como você definiria a palavra música em sua vida?
Essa pergunta me sugere a célebre frase de Nietzsche [Friedrich Nietzsche, filólogo, filósofo, crítico cultural, poeta e compositor alemão, 1844 – 1900]: “Sem a Música, a vida seria um erro”.
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