Almir Moraes de Albuquerque, mais conhecido como Almir Pernambuquinho, é lembrado tanto por seu brilhantismo nos gramados quanto por seu temperamento explosivo e vida pessoal conturbada. Com uma carreira marcada por grandes clubes, brigas icônicas, uma rivalidade complexa com Pelé e uma morte trágica aos 35 anos, sua trajetória no futebol brasileiro deixou muitos com uma percepção dúbia em relação ao futebolista. Almir jogou em grandes times como Sport, Vasco da Gama, Corinthians, Boca Juniors, Fiorentina, Genoa, Santos, Flamengo e América-RJ, mas sua personalidade intensa sempre o colocava em destaque tanto dentro quanto fora de campo.
Neste texto, exploraremos a trajetória desse jogador singular, suas passagens pelos clubes, a relação conturbada com Pelé e os episódios de brigas que culminaram em uma morte trágica e precoce. Almir não foi apenas um jogador de futebol; ele foi um personagem de uma época marcada por futebol arte e tensões fora das quatro linhas.
Almir Pernambuquinho começou sua carreira profissional no Sport Recife, onde rapidamente se destacou como uma jovem promessa do futebol brasileiro. Sua habilidade e agressividade dentro de campo chamaram a atenção de grandes clubes do Brasil, e não demorou para que ele fosse contratado pelo Vasco da Gama, em 1957.
No Vasco, Almir consolidou sua reputação como um jogador habilidoso e raçudo, sendo uma peça importante do time carioca. Sua técnica, aliada à sua garra, fazia dele um jogador temido pelos adversários. No entanto, sua personalidade rebelde começou a despontar. Almir não aceitava desrespeitos nem provocações e frequentemente se envolvia em brigas, tanto com adversários quanto com colegas de equipe. Apesar disso, sua passagem pelo Vasco foi positiva, o que abriu portas para a sequência de sua carreira em outros grandes clubes, tanto no Brasil quanto no exterior.
Depois de se destacar no Vasco, Almir foi contratado pelo Corinthians, um dos maiores clubes de São Paulo, em uma tentativa de expandir ainda mais sua carreira. No Timão, ele chegou com a alcunha de “Pelé Branco”, uma comparação que, desde o início, criou enormes expectativas em torno de seu desempenho. No entanto, a pressão de carregar esse apelido se mostrou pesada demais para o jogador, que não conseguiu repetir o sucesso que tivera em clubes anteriores.
Durante sua passagem pelo Corinthians, Almir disputou 29 jogos e marcou apenas cinco gols, um número bem abaixo do esperado para alguém com seu potencial. Além disso, seu temperamento forte continuava a ser um problema. Ele vivia uma vida boêmia e desfrutava de um salário elevado, o que gerava ciúmes e conflitos com alguns de seus companheiros de equipe. Almir, por sua vez, começou a questionar o sistema do futebol e a corrupção nos bastidores, o que o tornou uma figura controversa dentro do clube.
Almir sempre foi honesto sobre as lições que aprendeu durante sua passagem pelo Corinthians, confessando: “Despertei para a verdade do futebol, conheci suas grandezas e mesquinharias: o caráter dos cartolas, os riscos da profissão, a corrupção dos juízes”. Essa desilusão com os bastidores do esporte foi uma marca de sua personalidade durante toda sua carreira.
Após uma passagem sem brilho pelo Corinthians, Almir decidiu buscar novos desafios fora do Brasil. Ele se transferiu para o Boca Juniors, na Argentina, um dos maiores clubes da América do Sul. Jogar no Boca foi uma oportunidade de ouro para Almir, que sempre desejou se provar em cenários internacionais. No entanto, sua estada em Buenos Aires foi curta e tumultuada.
O estilo aguerrido de Almir se encaixava bem com a mentalidade argentina de “garra”, mas seus problemas de comportamento continuaram a prejudicar seu desempenho. Em campo, ele mostrava sua habilidade, mas as brigas e discussões com colegas de equipe e adversários seguiam o jogador. Em pouco tempo, Almir decidiu retornar ao Brasil para tentar redirecionar sua carreira, desta vez no Santos, um dos clubes mais vitoriosos da época e lar de ninguém menos que Pelé.
Em 1963, Almir foi contratado pelo Santos, clube que vivia o auge da “Era Pelé”. O time da Vila Belmiro era um dos mais temidos do mundo, e Almir logo viu a oportunidade de se destacar ao lado de Pelé, Zito e outros craques. Mas a relação entre Almir e Pelé sempre foi marcada por uma certa rivalidade. Embora os dois fossem jogadores talentosos, Almir não gostava da maneira como Pelé era tratado como uma estrela intocável, e sua personalidade forte fazia com que ele muitas vezes desafiasse a autoridade do “Rei do Futebol” dentro do time.
Foi também no Santos que Almir viveu um de seus momentos mais memoráveis, na final da Copa Intercontinental de 1963, contra o Milan. Pelé estava machucado, e Almir foi o escolhido para substituí-lo. Nas duas primeiras partidas da final, o Santos perdeu por 4 a 2 na Itália, mas devolveu o placar no Brasil, com um gol crucial de Almir. No terceiro jogo, um pênalti duvidoso sofrido por ele deu ao Santos a vitória e o título de campeão mundial.
Além da glória em campo, Almir também protagonizou brigas memoráveis, como o episódio com Amarildo, jogador brasileiro que estava no Milan. Após Amarildo ter declarado que “Pelé estava acabado”, Almir, furioso com o desrespeito, prometeu dar uma lição no compatriota, o que cumpriu com entradas duras durante o jogo.
Após seu sucesso no Santos, Almir ainda teve passagens por Flamengo e América-RJ. No Flamengo, ele jogou entre 1965 e 1967, mas já não era o mesmo jogador de antes. Embora ainda fosse respeitado por sua habilidade e competitividade, seu comportamento dentro e fora de campo continuava a criar problemas para sua carreira.
No América-RJ, clube onde encerrou sua carreira, Almir já não conseguia manter o mesmo nível de desempenho. Ele tentava continuar jogando, mas sua saúde física e mental estava em declínio, em grande parte devido à sua vida pessoal desregrada e ao uso abusivo de álcool. A aposentadoria do futebol chegou cedo para Almir, mas sua personalidade não permitiu que ele desaparecesse dos holofotes.
A vida de Almir foi interrompida de forma trágica e violenta em 1973. Aos 35 anos, ele foi assassinado durante uma briga em um bar chamado Rio-Jerez, localizado em frente à famosa Galeria Alaska, em Copacabana, no Rio de Janeiro. O incidente ocorreu após Almir intervir em uma discussão envolvendo atores do grupo Dzi Croquettes, que estavam sendo hostilizados por um grupo de portugueses.
Existem várias versões sobre o que de fato aconteceu naquela noite. Em uma delas, Almir teria defendido os atores-bailarinos, que ainda estavam maquiados após uma apresentação, dos insultos e agressões verbais dos portugueses. Em outra versão, ele e os atores teriam iniciado a briga, que culminou em um tiroteio no calçadão da Avenida Atlântica. O fato é que, durante a confusão, Almir foi baleado na cabeça e morreu no local.
O assassino, Artur Garcia Soares, alegou legítima defesa e nunca foi preso, o que gerou revolta e controvérsia na época. A morte de Almir chocou o Brasil, especialmente porque ele era uma figura pública conhecida não só pelos seus feitos no futebol, mas também pelas brigas e controvérsias que sempre cercaram sua vida pessoal.
O legado de Almir Pernambuquinho é marcado por uma dualidade. Ele foi, sem dúvida, um dos grandes talentos do futebol brasileiro, um jogador habilidoso, corajoso e de personalidade forte, que não aceitava ser subestimado nem desrespeitado. Dentro de campo, sua técnica e garra eram inquestionáveis, mas fora dele, sua vida cheia de excessos e conflitos acabou manchando sua carreira.
Almir será lembrado como um jogador que viveu intensamente, sem medo de confrontar adversários e até mesmo colegas. Sua trajetória, marcada por brigas e desavenças, reflete também um tempo do futebol em que o esporte era vivido com mais paixão e intensidade. Embora sua morte tenha sido trágica e precoce, o nome de Almir Pernambuquinho continua a ecoar na memória do futebol brasileiro, como um símbolo de talento, rebeldia e fatalidade.
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