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Ana Cañas declara todo o seu amor pela sua música

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Nascida em 14 de setembro de 1980, a jovem e talentosa paulistana Ana Cañas, é um dos principais e mais prestigiosos nomes da nova geração de cantoras e compositoras do nosso país. Anos atrás, estudante de Artes Dramáticas da USP, ela foi fazer um teste para uma peça de teatro. O tão decantado espetáculo trazia na sua trilha sonora uma bela canção do repertório da cantora americana Ella Fitzgerald. Ana se apaixonou pela canção e pôs na cabeça que seria cantora. Estreou em 2007 no cenário musical com o álbum “Amor e Caos”, cuja canção “Coração Vagabundo”, de Caetano Veloso, integrou a trilha sonora da novela Beleza Pura, da Rede Globo. Fez sucesso na internet com hits como “Super Mulher”, “Devolve, Moço” e “Cadê Você?”, e, a partir de 2008, participou de algumas edições do programa Som Brasil, exibido pela mesma Rede Globo. Em 2009 lançou “Hein?”, que contêm o hit “Esconderijo”, da trilha sonora de Viver a Vida, e em 2012 o disco “Volta”. O seu mais recente trabalho é o CD e DVD “Coração Inevitável”, que teve a direção do showman Ney Matogrosso. “É a vontade de correr riscos e uma certa propensão a isso. O delírio fatal da entrega absoluta, o corte que sangra, a ferida exposta. Não sei. É tudo muito subjetivo e prático quase, um paradoxo extremo onde apenas a loucura pode equacionar os desejos e possíveis coragens. (…) Acho que faz parte de sua idiossincrasia o papel do questionamento, reflexão, comunhão e os subjetivos resultantes”, afirma.

Ana, você surgiu para a mundo musical no ano 2000 vindo a ter um grande destaque em 2007 com o álbum “Amor e Caos”. Quais foram os maiores desafios nesse cenário antes de 2007?

Olá. Bom, na verdade, considero esse período em que cantava nos bares em SP uma verdadeira faculdade – musical e de vida – pois, lá todos estão conversando, bebendo ou comemorando. Ninguém está ali necessariamente para te ver ou prestando muita atenção. Então, foi um exercício muito grande poder perceber como seria possível conquistar a atenção sincera das pessoas e a sua empatia. Então este foi um período de grande aprendizado. Hoje, os aprendizados continuam – e acredito que sempre existirão. Mas é uma busca essencialmente existencial e artística profunda através da composição de repertório, atitude e poéticas. A fé no insondável continua, mas de uma maneira diferente.

Quando entrevistamos artistas de modo geral, sempre fazemos uma pergunta e para você não será diferente. Acredita que a arte deve ter um papel social?

Acho que faz parte de sua idiossincrasia o papel do questionamento, reflexão, comunhão e os subjetivos resultantes. A arte reflete a vida, que reflete o humano, que por sua vez reflete suas relações e conflitos intrínsecos.

No álbum “Amor e Caos”, existe um cover de Bob Dylan e você fala muito do cantautor em suas entrevistas. O autor de “Like a Rolling Stone” é uma das suas principais influências?

Para mim, a música é antes e depois dele. Acho que ele libertou as nossas mentes. Inseriu poesia e injetou questionamentos rasgados de formas ainda não feitas na música popular.

Nos seus shows, você diz que o abismo está sempre presente e te convida a ter coragem de não deixar de ser o que não é. Fale mais sobre isso.

É a vontade de correr riscos e uma certa propensão a isso. O delírio fatal da entrega absoluta, o corte que sangra, a ferida exposta. Não sei. É tudo muito subjetivo e prático quase, um paradoxo extremo onde apenas a loucura pode equacionar os desejos e possíveis coragens. É comunhão, um pacto com o sagrado e a grande beleza humana.

Como você enxerga os novos meios de divulgação para músicos independentes?

Acho positivo a democracia oferecida no território da internet. Mas o custo dessa abrangência muitas vezes é a superficialidade e não-verticalização de assuntos e debates importantes e que requerem maior compreensão ou aprofundamento.

Quando se está numa gravadora, ainda sim é possível manter uma certa independência ou o chamado “mercado” atrapalha tudo no final das contas?

Na verdade, criar um selo meu foi mais um gesto poético e metafísico de liberdade e independência artísticos. Na prática, mesmo, lancei meu disco “Volta” (2012) e agora o DVD “Coração Inevitável” – ambos em parceria com a gravadora Som Livre (distribuição e divulgação). Mas gostaria muito de lançar outros projetos da cena musical independente futuramente.

O Jazz e a MPB são vistos por muitos em nossa sociedade inclusive por alguns críticos, como gêneros musicais elitizados. E você que interpreta os dois, como enxerga essa questão?

Não acredito em elitização da arte. Vejo apenas uma tragédia anunciada quando falamos de um país onde cultura e educação não são prioridades. Tudo que é bom, verdadeiro e genuíno é acessível, pois, fala de alma para alma. Nos toca e comove. Arranca do lugar-comum e transforma. Eu acredito nisso. Arte pra mim, é isso.

Assim que começou a se destacar, muitos cantores renomados elogiavam o seu trabalho entre eles Chico Buarque, Caetano Veloso e Toquinho, mas você disse que apenas fazia o seu trabalho da melhor forma possível. O quanto você é exigente com o seu próprio trabalho?

Sou muito crítica, excessivamente às vezes. Mas sou virginiana e acho que os astros me fizeram assim. Mas, ao mesmo tempo, isso me leva pra frente, me faz questionar tudo o tempo todo. E se puder melhorar, porquê não fazê-lo.

O seu segundo disco “Hein?” traz a sua canção de maior sucesso que é ‘Esconderijo’ e também foi a fase mais difícil da sua carreira. Como você trabalhava isso na sua cabeça?

Olha, eu acho importante abrir a história e jogar a real. Não quero mentir nem pra mim, nem para o público que me prestigia de forma tão positiva e igualmente aberta. É uma fase encerrada. Mas ainda sinto uma importância muito grande na eterna reflexão das dores e é num período difícil que construímos verdadeiras fortalezas e também descobrimos quem somos. Foi na queda que encontrei grandes respostas e porquês. Perder-se também é caminho.

Qual o peso do disco “Volta” na sua vida e na sua carreira?

Eu o considero meu disco mais coeso e bonito. Ele reflete e alicerça valores importantes e sensíveis pra mim. Ainda me cobro ‘um grande disco’. Mas ele – a sua maneira – foi fundamental, pois, sedimentou o caminho para o show “Coração Inevitável” com a direção do Ney e, posteriormente, a gravação do DVD – que me trouxe muitas alegrias.

Ney Matogrosso dirigiu o seu DVD “Coração Inevitável”. Como foi trabalhar com ele e o que você espera de seu mais recente trabalho?

Foi mágico. Ney sabe muito bem o que faz, porque faz e como faz. É um astronauta lírico. E é uma bênção e uma honra muito grande poder conviver e aprender com um ídolo. Ele me ajudou a resgatar a feminilidade e a sensualidade sutis. Montamos um repertório que abordasse diretamente a questão do gênero feminino e suas inúmeras facetas, cores e densidades. Estou muito feliz com o resultado do show e do DVD. Espero continuar focada, dedicando-me ao que me faz bem e feliz. Realizo-me quando faço o que amo.


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