Ana Neute é arquiteta formada pela Escola da Cidade, em São Paulo. Em 2008, trabalhou no IBOIS (Instituto de Madeira da Politécnica de Lausanne, Suíça), e em 2010 estudou filosofia da arte com o artista Rubens Espírito Santo. É membro do grupo de designers (In)Vasão, coordenado pelo curador de design Waldick Jatobá. Por quatro anos, entre 2010 e 2015, Neute desenvolveu uma parceria com Rafael Chvaicer, na Neute Chvaicer, em diversos projetos na prática de design de objetos. Durante esse período, realizou instalações, entre elas para SP-Arte 2014 na Bienal e tem trabalhos produzidos por grandes nomes da indústria nacional como La Lampe e Riva. Em 2015, Ana Neute lançou seu próprio estúdio de design. “Tenho uma compreensão dos processos de fabricação envolvida e é através dessa compreensão que começo a criar. A criação sempre é a partir de algo possível, factível e físico. Existe um espaço entre o projeto e a sua existência física. Esse espaço é o processo de uma peça sair do projeto até se materializar em objeto. O processo de materialização de um projeto numa coisa real/física é a parte mais interessante do percurso. Pois, o objeto se transforma daquele projeto inicial do 3D para algo real e material. No Brasil não temos indústria para diversas coisas. Não podemos simplesmente desenhar um projeto onde a tecnologia para fabricar a peça deixa o custo inviável”, afirma a designer.
Ana, como se deu o início de sua carreira?
Estudei arquitetura, mas tinha dificuldade com a escala e tempo da arquitetura. Cheguei a estagiar em alguns escritórios, mas não fui em frente. No fim da faculdade me interessei por escultura. Minha mãe um dia me deu a ideia de começar a fazer algumas luminárias, no fim da faculdade. E comecei a experimentar, fazendo coisas muito simples, estilo DIY (do it yourself). Fui me interessando cada vez mais pela ideia de construir objetos e desenhar luz. O design para mim, foi uma possibilidade entre a arte e a arquitetura. Entre o lúdico e o técnico. Escultura X produto.
Trabalhando há cinco anos na área, a parceria com a Itens (já há um ano) foi fundamental para o trabalho ganhar outra escala. Itens é a marca responsável pela produção e venda das peças itenscollections.com. Hoje estamos com os produtos em lojas por 30 cidades pelo Brasil. Também estamos atendendo a demanda de arquitetos, hotéis, restaurantes e espaços públicos, em geral. A parceria com a Itens me ajudou a organizar o processo e a profissionalizar o meu trabalho. Com isso, ganhei tempo para fazer pesquisas para novas peças, desenhar mais e testar formas e acabamentos.
Você é arquiteta e designer. Quando a cabeça da designer funciona juntamente com a cabeça da arquiteta?
Tenho uma compreensão dos processos de fabricação envolvida e é através dessa compreensão que começo a criar. A criação sempre é a partir de algo possível, factível e físico. Existe um espaço entre o projeto e a sua existência física. Esse espaço é o processo de uma peça sair do projeto até se materializar em objeto. O processo de materialização de um projeto numa coisa real/física é a parte mais interessante do percurso. Pois, o objeto se transforma daquele projeto inicial do 3D para algo real e material. No Brasil não temos indústria para diversas coisas. Não podemos simplesmente desenhar um projeto onde a tecnologia para fabricar a peça deixa o custo inviável e portanto inacessível (a não ser quando se trata de uma pesquisa de forma, onde o custo não é uma questão). O designer tem que saber quais os recursos disponíveis. A indústria entender como trabalhar no seu limite, de maneira criativa. No melhor que aquela fábrica pode fazer e pensando com o designer. E vice-versa. A partir dessa realidade, conseguimos ir modelando a forma. E entendendo como é a sua maneira de existir no mundo real. Quais são suas limitações, máquinas necessárias para produzir esse objeto, custo, conforto, textura etc… O processo de prototipagem é ajustar todos esses fatores até ter um equilíbrio e coerência. Esse é um processo que dura meses e faz parte da maturação do projeto. O projeto é vivo e está em constante mudança nesse processo de prototipagem X projeto.
E quando essas “duas cabeças” pensam em criar objetos diferentes?
Acredito que seja uma cabeça só, mas a escala que escolhi trabalhar é muito menor. O modernismo na arquitetura, me ensinou a usar a estrutura do objeto como adorno. Quer dizer, não existe adorno. A beleza está na própria estrutura.
Qual a dificuldade de encontrar o tom ideal de pensamentos da arquiteta e da designer quando se está trabalhando em novo projeto?
No começo do processo as coisas não vêm prontas, já que elas vêm com algum tipo de impulso mais artístico. E começo a desenhar à mão sem saber ao certo como tudo vai ser resolvido. Só que o design se trata dessa experiência de transformar uma ideia, num objeto físico a ser utilizado por uma pessoa. Acho que a formação de arquiteta me ajuda a tirar as ideias do papel e trazer para o mundo da realidade.
Por que a luz te fascina tanto?
Fazer luminárias me encanta, pois, é ao mesmo tempo, um objeto físico e imaterial. Imaterial, pois, o espaço é transformado através da luz. A iluminação modela um espaço e cria atmosferas. Ao mesmo tempo, este objeto tem que ser funcional, tecnicamente resolvido.
Fale um pouco sobre a criação da original Luminária Guarda-chuva.
A Luminária Guarda-Chuva tem uma base clássica de abajur, mas o globo no topo nos faz lembrar um personagem. O globo de vidro produz uma luz suave e cria uma atmosfera no ambiente, já a cúpula direciona e concentra a luz para baixo, uma luz funcional. Materiais: estrutura em latão, repuxo em branco microtexturizado e globo de vidro branco fosco.
Algum ponto de um trabalho anterior já foi aproveitado em um novo trabalho?
Sim, cada trabalho é uma porta de entrada para um novo. Pois, em cada um escolhemos tomar um caminho, que poderia ter sido diferente. Às vezes é a partir desse caminho que não foi, que começo um novo projeto.
Outra coisa que chama atenção em suas obras é o minimalismo. Desde o começo você quis trabalhar com esse minimalismo ou isso foi acontecendo de uma forma natural?
No começo as minhas peças eram mais carregadas, com o tempo fui compreendendo o que já tinha aprendido em teoria. Simplicidade na forma e ação. Isso não quer dizer falta de complexidade, mas de uma complexidade que é sintetizada em um ato. Exemplo: Luminária Jabuticaba.
Algum pai do minimalismo influenciou você?
Le Corbusier [arquiteto, urbanista, escultor e pintor de origem suíça e naturalizado francês em 1930, 1887 – 1965], Lina Bo Bardi [arquiteta modernista ítalo-brasileira. Foi casada com o crítico de arte Pietro Maria Bardi e é conhecida por ter projetado o Museu de Arte de São Paulo, 1914 – 1992], Marcio Kogan [arquiteto, formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade Presbiteriana Mackenzie em 1976, 1952 – ], Enzo Mari [arquiteto italiano, 1932 – ] e Achille Castiglioni [designer italiano, 1918 – 2002].
Como você encontrou a mistura perfeita entre cores, simetria e natureza?
Acredito que não existe o certo ou errado. Mas a experimentação. Eu acho que somente através da experimentação que tive mais domínio do que estava fazendo.
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