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Andreza Carício fala sobre a inteligência espiritual

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A inteligência espiritual é uma terceira inteligência que coloca nossas atitudes em um contexto mais amplo de sentido e valor. É uma inteligência que nos impulsiona, pois, está ligada à necessidade humana de ter propósito de vida. Segundo a especialista em autoconhecimento e palestrante Andreza Carício, estudiosos dizem que estamos em uma era em que o ponto de fé no cérebro está cada vez mais desenvolvido. Trata-se de uma área nos lobos temporais, que nos faz buscar significado e valores para nossas vidas. Quanto mais desenvolvemos essa área do cérebro, mais tomamos decisões pautadas em valores e propósito. A espiritualidade pode trazer muitos benefícios para o âmbito profissional, isso porque ela desenvolve a humanidade, a sensibilidade, a empatia, a generosidade, a expressividade, entre outras qualidades. Outro ponto importante, é que durante uma adversidade que cause um momento de irritabilidade, a inteligência espiritual irá proporcionar artifícios para que o equilíbrio emocional se restabeleça rapidamente. Em anos de estudos, laboratórios e pesquisas, Andreza Carício eleva a importância de descobrir e exercitar a inteligência espiritual e, assim, aplicá-la no trabalho para as pessoas colherem os frutos. Toda a equipe será estruturada no respeito ao próximo e ao ambiente, na comunicação saudável entre os colaboradores, nos valores e, principalmente, nos conceitos, visão e missão.

Andreza, por que a inteligência espiritual lhe chamou tanta atenção?

A inteligência espiritual me chamou muito a atenção pelo fato de não focarmos apenas na inteligência emocional e no QI. Na verdade, este terceiro tipo de inteligência, a espiritual expande nossos horizontes. Nos faz sair da caixa, nos torna criativos. Manifesta dentro de nós o sentido pela vida, pela existência, pelo propósito, valores e significado do porque estamos aqui. Não estamos limitados aos acontecimentos externos, existe uma dinâmica que estamos inseridos e isso é um mistério. Ao mesmo tempo a ciência diz que existe em nosso cérebro um ponto de fé, localizado nos lobos temporais, uma área responsável por experiências espirituais que nos faz buscar significados e valores para nossas vidas.

Como as observações externas refletem em seu trabalho?

Quando aprendemos a observar as coisas que nos acontecem externamente do jeito certo, elas refletem no nosso trabalho de maneira positiva. Isso que a experiência e a inteligência espiritual te convida a fazer. Eu mesma estive diante dessa dinâmica esses dias aqui no meu trabalho. Havia uma grande decisão a tomar e eu estava em conflito, porque para o cliente seria uma decisão um tanto quanto desafiadora, mas para a empresa seria algo muito importante. Então quando isso ocorre, me pergunto qual é a missão da empresa, qual é o propósito, o significado e então percebo que minhas decisões se ampliam e ficam mais fáceis de serem tomadas. Ou seja, eu me desapego dos sentimentos alheios e foco no que é melhor para aquela organização, para as pessoas que ali estão, para a comunidade e serviço como um todo. Então essas observações externas quando feitas do jeito certo trazem um significado de sentido, valor e missão.

E as reflexões internas?

As reflexões internas são extremamente importantes, porque só quando nos conhecemos é possível desenvolver um bom trabalho. Sem isso, você vai colocar a culpa nos outros, vai delegar responsabilidades. Quando conhecer seus gostos e o que faz sentido em sua vida suas ações serão mais produtivas. A energia em congruência com o que quer e o que vive dentro da empresa, torna-se um combustível para um melhor desempenho. Mas para isso também é preciso equilíbrio entre o externo e o interno, ter a conexão entre os polos, montar um ciclo de abundância. Não tem como mergulhar no interno e esquecer que está em um universo externo. Não somos um tipo de Buda da empresa. Não tem como se isolar. Ao mesmo tempo, se eu não evoluir meus projetos de forma que englobem minhas necessidades como um todo não conseguirei ter energia, ânimo, pois, esses sentimentos vêm de valores que estão conectados às reflexões internas do que desejo.

Vivemos um momento de evolução espiritual nos negócios e nas carreiras?

Sim, é um momento de completa evolução espiritual, porque os negócios neste mundo competitivo têm atravessado uma crise muito grande em que as pessoas perceberam que a felicidade e o sucesso não vêm apenas de uma promoção. Na verdade, práticas estritamente relacionadas ao dinheiro veem devastando toda a sociedade com pessoas cada vez mais depressivas, ansiosas que buscam o “ter” que não contenta. E após tanta correria, desgaste, desconexão com a família se enxergam dentro de uma dinâmica do capitalismo que nada mais é que uma destruição emocional e ambiental também. Então, hoje quando trazemos a espiritualidade para a carreira e para os negócios significa um trabalho mais profundo, com propósito.

Com uma perspectiva ampla, sabendo que vou olhar para o meu colaborador como um parceiro que está junto comigo, alguém que é tão importante quanto meu cliente. Se meu colaborador não estiver satisfeito não poderá atender meu cliente de uma forma boa, porque ele não está bem. Então hoje, com a noção de espiritualidade conseguimos compreender que é preciso alinhar o desejo do nosso colaborador com o trabalho que ele desempenha. Aprendemos que no jogo dos negócios não existe apenas um vencedor, mas dois. Há um sentido mais profundo e humanizado, espiritualizado onde buscamos motivação com amor, propósito para que o recurso financeiro seja uma consequência e não o fim.

A pandemia também pode ser uma “faísca” para essa evolução?

A pandemia é sim uma faísca para aumentar a consciência, porque nunca se voltou tanto para o lado de dentro quanto agora. E também não tínhamos essa concepção de que as empresas podem falir, mas nós não. Nosso interior não pode ruir. Uma empresa derrubada se reconstrói, quem não pode desistir da vida somos nós. Quando percebemos que o mais importante não é o lucro imediato, mas sim a cultura de cooperação, valores como o afeto, a colaboração e o companheirismo, onde gerentes viraram líderes que estão prontos para ajudar, preocupados com clientes, com funcionários, com o meio ambiente e com a comunidade. A pandemia, abriu os nossos olhos para percebemos que o lucro não é o mais importante e sim o ser humano.

Quais os maiores benefícios da espiritualidade no plano profissional?

Um dos maiores benefícios da espiritualidade no plano profissional (e que está composta por colaboradores) é uma cultura que sai da superfície para que cada um se torne mais conectado e animado com a empresa. O colaborador se torna mais responsável, ousado, mais reflexivo, passa por obstáculos, passa a vestir mais a camisa da empresa, pois, está mais feliz com sua escolha.

Qual a importância da espiritualidade para as lideranças?

Essencial. Quando um líder deixa que sua espiritualidade o mova, ele tem o desejo muito grande de ser um exemplo e demonstra com atitudes. Ele se ocupa mais em servir do que ser servido, traz uma visão ampla aos colaboradores, para a empresa, não apenas a de bater metas, mas a visão de que todos os que estão dentro dessa cadeia são importantes. É uma visão de águia, ampliada. Ele é uma inspiração.

Quais são os pilares da inteligência espiritual?

Os pilares da inteligência espiritual são: descubra seus valores e traga para a sua vida uma congruência de atitudes. Esteja sempre alinhado com Deus, consigo mesmo e suas ações. Faça sempre essas três perguntas: Por quê? Para que? E se o que faz é o que quer para sua vida. Se as respostas estiverem de acordo, você está no caminho certo. Tudo que acontece em sua vida exterior deve se adaptar ao seu interior, se algo de ruim acontece a sua espiritualidade deve entender como resiliência. Uma forma de se reconectar. Busque relações de empatia consigo mesmo, com seus amigos, colegas de trabalho e por fim entenda que a vida é um processo de compreensão ampla, de mudança e evolução.

Como alimentar essa inteligência espiritual?

A partir de experiências diárias, das dinâmicas que temos todo santo dia. Eu alimento minha inteligência espiritual a partir do momento que faço uma auto-observação para saber se o caminho que estou seguindo está alinhado a minha vida pessoal, ao que acredito. Embora eu seja uma profissional, não deixo de ser mãe, de ser mulher e de ser amiga. Alimento minha inteligência espiritual quando saio da empresa e sei que volto para casa e não me sinto sugada, saio de lá realizada. Com sensações abundantes.

É possível ter um alto desempenho usando a Inteligência espiritual?

Lógico. Se eu usar minha inteligência espiritual, automaticamente terei um desempenho melhor dentro da minha empresa, e comigo também como ser humano. Porque eu consigo solucionar melhor os meus problemas, as minhas dificuldades e os meus obstáculos. Com visão de águia, coloco a solução do problema no sentido Lato Senso, trazendo valor, trazendo propósito. Trago uma necessidade humana alinhada com a necessidade da sociedade e da espiritualidade, ou seja, do organismo como um todo, um sistema, e não de pessoas individuais. Desenvolvemos melhor os valores éticos e norteamos nossas ações por um significado em nossas vidas.

Quando eu trabalho com essa inteligência espiritual, fico muito mais motivada, porque consigo ver aquilo que antes não via com um pensamento mais criativo. Com essa inteligência me possibilito ter mais insights. Ouso mais, formulo mais regras, revogo regras anteriores que não fazem mais sentido. A inteligência espiritual abre a possibilidade de fazer uma organização neural dentro do cérebro, que não é baseada somente no racional, no lógico, e não somente também no emotivo. Os neurônios passam a ser organizados de uma forma que é possível ampliar minha perspectiva, a minha mente e meu horizonte, e dessa forma me faz pensar no que me fez chegar até aqui. Diante disso, enxergo novas regras, novas possibilidades e transformo aquilo que anteriormente não estava me dando êxito. Alinhada aos meus valores, me torno um campo de automotivação.

Como achar o equilíbrio emocional em um mundo cada vez mais complexo?

Encontro meu equilíbrio emocional quando entendo minha emoção, o que a provocou e como lido com ela. Ou seja, a inteligência emocional permite que eu consiga compreender uma determinada situação para que eu me adeque e me comporte, dentro dos meus recursos internos, àquela situação da melhor forma possível. Então, para manter o equilíbrio emocional em um mundo cada vez mais complexo é necessário entender que não é o externo que me transforma, ele poderá influenciar, mas se eu tiver consciência quem dita as regras sou eu. Mesmo porque, o mundo sempre terá variadas frentes, pessoas boas, ruins, honestas e desonestas, mas como eu lido com cada situação, aquilo que eu permito que faça parte do meu mundo ou não, é diferente.

O universo pode estar cada vez mais complexo, mas o meu interior não. O equilíbrio da inteligência emocional é isso, é eu saber o que é o meu, e o que é do outro, bem como o que é o mundo no sentido de várias possibilidades, e escolher com qual quero conectar. Aliada a isso, a inteligência espiritual vem exatamente para me permitir fazer um grande questionamento: quero estar dentro desse mundo complexo? Ou existe um mundo dentro de mim que eu crio a partir das escolhas que faço, das decisões que tomo e das atitudes que tenho?


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