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Antonio Lavareda fala da política como arquiteta

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Antonio Lavareda é doutor em ciência política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ) e mestre em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Também é presidente do conselho científico do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (IPESPE) e fundador do Laboratório de Neurociência Aplicada (NeuroLab). Foi professor e coordenador do mestrado em ciência política da UFPE (1984-1986) e pesquisador visitante na Universidade da Califórnia em Berkeley (1983-1984). Participou, como coordenador ou consultor de estratégia de mais de 91 campanhas majoritárias – presidente, governadores, senadores e prefeitos – em todo o país, tendo trabalhado também em Portugal e na Bolívia. Foi sócio do publicitário Duda Mendonça na agência de propaganda DM/Blackninja. Apresenta um programa de televisão, o Ponto a Ponto, dedicado às pesquisas de opinião pública, juntamente com a jornalista Mônica Bergamo, na BandNews TV, e é colunista da rádio BandNews. Desde setembro de 2017, apresenta o programa de entrevistas 20 Minutos na TV Jornal, afiliada do SBT em Pernambuco. É autor de livros nas áreas de opinião pública, partidos políticos e eleições, sendo os mais conhecidos “A Democracia na Urnas – O processo partidário-eleitoral brasileiro 1945-1964” (Ed. Revan) e “Emoções Ocultas e Estratégias Eleitorais” (Ed. Objetiva).

O marqueteiros políticos podem ser considerados os grandes arquitetos do poder?

Mitologia antiga, superada. A grande arquiteta do poder é a política.

Acredita que o marketing político terá um papel central nas eleições presidenciais deste ano?

Não terá. A centralidade será dos candidatos, da sua personalidade, da capacidade de cada um de ocupar o cargo mais importante do país e de suas propostas.

Existe alguma semelhança desta eleição com a eleição de 1989?

Sim. Alguma semelhança porquanto a eleição se dá quando o país atravessa uma conjuntura de grave crise, o que também ocorria naquele momento. E as pesquisas registram hoje elevada taxa de fragmentação das intenções de voto tal como se verificou naquele ano. Porém, as semelhanças param aí. A origem das crises é muito diferente e aquela eleição, solteira, com um único cargo em disputa, será sempre um evento singular na nossa trajetória eleitoral.

O ex-presidente Lula, terá condições de transferir votos que cheguem perto dos seus 30%?

Sua capacidade de transferência – que é grande – será ponderada pelas dificuldades concretas que enfrentará para participar da eleição estando preso. Será muito mais difícil exercitar a relação emocional que ele mantém, sobretudo com os milhões de eleitores na base da sociedade, para realizar todo o seu potencial de transferência. Mas ainda assim o seu candidato poderá chegar às urnas com pelo menos 20% dos votos válidos.

Muitos que votariam em Lula irão votar em Bolsonaro. Como explicar essa transferência de votos?

Não são muitos. Em termos percentuais correspondem segundo as pesquisas a dois por cento do total. São eleitores menos instruídos principalmente. Quando o candidato de Lula for mais conhecido e começar a se dar a transferência efetiva dos seus votos, deve minguar esse número que já é reduzido.

Como vê o fenômeno Bolsonaro?

A crise que acometeu as legendas tradicionais somada ao infortúnio de Aécio Neves e do PSDB abriu espaço para uma candidatura situada à extrema-direita do espectro político ideológico.

Esse fenômeno se sustentará sem uma máquina partidária tradicional?

Hoje é possível mobilizar categorias e eleitores através das redes sociais, conforme ficou demonstrado na recente paralisação dos caminhoneiros. O quanto lhe fará falta a estrutura dos partidos sobretudo nos pequenos municípios é algo que devemos acompanhar. O certo é que a ausência de apoio partidário consistente já lhe impediu de conseguir um tempo mínimo de TV e de rádio.

A televisão ainda terá um papel fundamental para escolha de candidatos?

Sim. Pesquisa recente da CNT/MDA trouxe dados bem conclusivos a respeito: 67,2% dos eleitores entrevistados disseram nesse momento eleitoral que a televisão é o meio mais importante para informação sobre o Brasil.

As mulheres, as classes menos abastadas ou os indecisos, quem decidirá essa eleição?

Não acredito que os indecisos resolvam a eleição. Quando você tem Lula na disputa eles são relativamente poucos. Esse número cresce no cenário sem Lula. O que indica que boa parte dos indecisos, na verdade, são lulistas à espera do candidato de Lula. Quanto às mulheres e os eleitores mais pobres, aí, sim, serão dois contingentes decisivos. Têm renda igual ou inferior a dois salários mínimos 50% do eleitorado. E as mulheres são 52% dos eleitores. Sem esquecer que esses dois contingentes têm elevada superposição. As campanhas deverão ficar de olho nas mulheres pobres, principalmente nas chefes de família, que decidem seu voto no apagar das luzes da campanha.

Como as redes sociais e a internet se encaixam neste grande tabuleiro?

Com a mudança na matriz da comunicação social, internet e redes embora não vindo a ser ainda decisivas nesse ciclo eleitoral, assumirão um papel de grande importância no Brasil como têm desempenhado nos EUA desde a primeira eleição de Obama em 2008. Sua utilidade será maior quanto mais possam estar inseridas em uma estratégia que contemple a convergência das diversas plataformas.

Qual o legado do Governo Temer para o país?

Em uma perspectiva histórica ele será creditado como o período que interrompeu o mais profundo processo recessivo da economia brasileira. Um Governo de transição que iniciou reformas importantes e entregou o país ao sucessor em um estado bem melhor do que aquele em que o recebeu. Não obstante, por motivos conhecidos, ter recebido da opinião pública ao seu tempo um julgamento implacável.


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