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As análises do ensaísta João Pereira Coutinho

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João Pereira Coutinho é um cronista e ensaísta português. É também professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, em Lisboa (UCP). Nasceu na cidade do Porto no dia 1 de junho de 1976. Cresceu em Matosinhos (cidade portuguesa), onde os pais foram professores de História, e aí fez os seus estudos até à conclusão do ensino secundário na escola João Gonçalves Zarco. Licenciou-se em História, na variante de História da Arte, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Doutorou-se em Ciência Política e Relações Internacionais na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, onde também ensina no Instituto de Estudos Políticos. Foi ainda Academic Visitor do St. Antony’s College da Universidade de Oxford. É colunista da revista Sábado (desde 2017), do Correio da Manhã (desde 2009) da Folha de S. Paulo (desde 2005). Foi colunista dos semanários Expresso (2004 – 2008) e O Independente (1998 – 2003) bem como comentarista da TVI-24 nos programas “25ª Hora” e “A Torto e a Direito”. Em 2002, juntamente com Pedro Mexia e Pedro Lomba, fundou o pioneiro blog A Coluna Infame. “Há pessoas que pensam que a democracia está a ser corroída por forças reacionárias, que marcham contra a globalização e querem um retorno qualquer ao passado. É precisamente o contrário. A democracia liberal, esse produto precioso do século XVIII, está a ser posta em causa pela velocidade típica da modernidade”, afirma.

O que é ser conservador na atual conjuntura global?

É uma pergunta muito abstrata para um conservador. O conservadorismo responde a desafios muito específicos que põem em causa formas de vida, valores, instituições que um conservador deseja preservar. Apesar de tudo, diria que a defesa da liberdade – a defesa da mera possibilidade de vivermos as nossas vidas sem a interferência constante do Estado ou de fanáticos diversos que nos querem “doutrinar” ou “modelar”, é uma atitude conservadora e necessária.

Quais as diferenças cruciais entre o conservadorismo português e brasileiro?

Também é uma questão muito abstrata. Não faço a mínima ideia.

As ideologias estão em “desuso?”.

As ideologias estão para o conhecimento político como o McDonald’s para a gastronomia. São soluções rápidas, simples, simplórias, para interpretar e transformar o mundo. Enquanto existirem cabeças simples e simplórias, as ideologias jamais estarão em desuso. As pessoas precisam desesperadamente de uma Bíblia, de uma cartilha, de uma resposta porque a complexidade é dolorosa.

Fake news, crise da elite política ou outros fatores, o que está corroendo as democracias em sua visão?

A velocidade. Há pessoas que pensam que a democracia está a ser corroída por forças reacionárias, que marcham contra a globalização e querem um retorno qualquer ao passado. É precisamente o contrário. A democracia liberal, esse produto precioso do século XVIII, está a ser posta em causa pela velocidade típica da modernidade. As virtudes democráticas, que são virtudes antiquadas, como o sacrifício, a tolerância, o altruísmo, etc., estão a soçobrar pelo culto do instantâneo, da resposta imediata, da impaciência, do desejo pessoal e ilimitado, aqui, agora. Não sei se haverá solução para isso.

Salvini, Bolsonaro, Trump, Orban e outros. Que recado foi dado ao mundo de uma forma tácita com a eleição desses novos líderes?

Que as pessoas perderam a paciência com as formas tradicionais de fazer política. As elites tradicionais comportam-se como se ainda estivessem no século XVIII, perante uma massa informe e passiva. Não estão!

Qual a maior dificuldade em ser um cronista em um mundo altamente conectado?

Não ceder ao primeiro impulso porque ele será sempre generoso, como diria Talleyrand. O que é válido para a crise da democracia, é válido para tudo: nunca reagir; repensar.

Vamos voltar ao conservadorismo. Qual a linha tênue que separa um conservador de um reacionário?

Um reacionário é um revolucionário do avesso. É alguém que tem a mesma predisposição utópica para acreditar que algures no tempo existe um estado de perfeição. É um náufrago da realidade, como diria o Mark Lilla.

Você afirmou que conservadores e progressistas precisam uns dos outros para sobreviver. Que fator pode acabar com essa “retroalimentação” em qualquer parte do mundo?

O que eu queria dizer é que a política é sempre um exercício de equilíbrio entre conservação e mudança. É como um carro: se tiver apenas freio, não sai do lugar; se tiver apenas acelerador, é o desastre.

Esquerda e progressismo são divergentes?

Não. A esquerda define-se por uma posição progressista rumo a um fim que se deseja mais igualitário, mais justo, mais perfeito. Como é evidente, isso só é possível porque a esquerda acredita que a natureza humana é infinitamente maleável e, na gênese, boa. Eu tenho uma posição mais cética sobre esse assunto.

Você acredita que o progressismo tem um viés hipócrita em que situações?

O problema do progressismo já foi bem diagnosticado pelo filósofo Kenneth Minogue: não sabe quando parar. O que começou por ser um esforço louvável de garantir condições mínimas de decência para vidas de pobreza material e intelectual converteu-se agora numa máquina de intolerância contra qualquer exibição de “privilégio”.


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