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As lições de João Paulo dos Reis Velloso

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Formado em economia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), João Paulo dos Reis Velloso foi ministro do Planejamento durante os Governos de Emílio Garrastazu Médici e Ernesto Geisel, permanecendo no cargo entre 1969 e 1979. Sua gestão foi marcada por dois momentos distintos: o apogeu do chamado “Milagre Brasileiro” e a “Crise do petróleo de 1973”. Nessa época também fundou o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Antes disso, foi funcionário do Banco do Brasil (desde 1955), assessor da presidência (1958 a 1961) e assessor do Ministério da Fazenda (1961 a 1962). Recusou um convite para se candidatar ao Senado pelo PDS do Piauí em 1982, após sondagem feita pelo então governador Lucídio Portela. Atualmente dedica-se a presidir o Fórum Nacional, onde busca soluções para as questões econômicas brasileiras. Também serve no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. É detentor da Medalha Santos Dumont, da Medalha da Ordem do Rio Branco, da Ordem do Mérito Naval, além de membro da Academia Piauiense de Letras. “Realmente, o Brasil parecia estar alçando voo. Agora a saída viável é termos uma nova Grande Visão. Tem que ser uma estratégia, que começa pela redução, a um nível muito menor, do Leviatã (Governo) que está espremendo o país contra a parede. Temos 38% de carga tributária. É o nível dos Estados Unidos”, afirma o economista.

Em 2009, o senhor afirmou que o crescimento viria dos emergentes. Por que o Brasil cresce tão pouco em relação, por exemplo, aos outros emergentes como China e Índia?

Porque o Brasil não tem uma nova Grande Visão. Segundo a OECD (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), entre 1930 (Grande Depressão mundial) e 1980, o Brasil foi o país que mais cresceu, no mundo. Isso, principalmente em função de três Grandes Visões: I – Era Vargas, II – Era JK e III – Era Geisel. Houve senões, em todas elas. Mas havia uma grande concepção (Visão) que impulsionava o país. Acontece que desenvolvimento é corrida de longa distância. As Grandes Visões mixaram em 1980.

Voltando ainda em 2009, o senhor disse que naquele período, o Brasil estava reagindo bem à crise que começou no mercado imobiliário americano. E agora, quais seriam as saídas viáveis para o momento turbulento em que passa a economia nacional?

Realmente, o Brasil parecia estar alçando voo. Agora a saída viável é termos uma nova Grande Visão. Tem que ser uma estratégia, que começa pela redução, a um nível muito menor, do Leviatã (Governo) que está espremendo o país contra a parede. Temos 38% de carga tributária. É o nível dos Estados Unidos. Temos 39 Ministérios. Deveríamos ter 15. Precisamos aumentar o investimento. Fortalecer nossa competitividade internacional. Expandir a Infraestrutura. Desenvolver a Inovação. Incorporar a Economia do Conhecimento. E (muito importante) integrar o país à Nova Revolução Industrial, para viabilizar o aproveitamento de nossas grandes oportunidades. Deveríamos estar usando telescópio, para ver o alto das montanhas que nos cercam. Estamos de olhos vendados.

O senhor é considerado um dos grandes pensadores do desenvolvimento de longo prazo do país. Os mandatários com quem o senhor já conversou, têm essa mesma percepção de modo geral?

Converse com o Henry Kissinger: “País sem grandes concepções é país destinado ao fracasso”; Converse com o Paul Krugman: “A crise do Brasil é gerenciável”.

Há muitos anos, é dito que o Brasil deveria investir pesado em Tecnologia da Informação. Quais os caminhos para isso ocorrer em um país que é muito forte na exportação de commodities agrícolas, mas que ainda não investiu pesadamente nesse setor tão importante para o desenvolvimento da nação?

Certamente. Porque a Tecnologia de Informação é muito importante na Nova Revolução Industrial. De acordo com estudo do MIT (Massachusetts Institute of Technology), o segundo impulso à Nova Tecnologia está exatamente nessa área. Hoje em dia, é possível digitalizar quase tudo (documentos, mapas, fotos, manuais, vídeos). Uma vez digitalizados, faz-se possível fazer circulá-los através da internet, entre países. É a universalização, praticamente. Por isso, o Fórum Nacional, e a Brasscom, lançaram a “Estratégia TIC Brasil 2022”, para: “Tornar o Brasil referência global e líder dos BRICs no uso de TIC, levando o país para um nível superior de Desenvolvimento Econômico, Social e da Gestão Pública, contribuindo para aliviar os problemas estruturais do país, apoiado por uma Indústria de TIC altamente competitiva e líder em Inovação e em Setores Estratégicos”. A propósito, no próximo Fórum Nacional, em maio de 2016 (XXVIII Fórum), no Painel I, vamos apresentar nossa proposta: “Estratégia TIC – 2022: fazendo acontecer”. E isso não impede que o Brasil continue sendo altamente competitivo em Agronegócio, inclusive através da “Agricultura de Precisão”, que usa até Ciências Geoespaciais (“Noncommodities”).

O apresentador Jim Cramer da rede de televisão norte-americana CNBC, disse que atualmente a Petrobras é o maior problema do mundo. A Petrobras é o maior problema do mundo, ou existe um certo exagero nessa afirmação?

Perdeu a oportunidade de ficar calado. Com boa gestão (e sem “Lava Jato”), a Petrobras pode voltar a ser uma das grandes oportunidades do país, inclusive desenvolvendo o Pré-sal. Principalmente se voltarmos ao regime de concessões, nos moldes da Lei de 1997.

Por que o senhor considera um retrocesso a volta da CPMF?

A hora é reduzir, ou suprimir impostos, e não de recriar tributos. Já dissemos: temos de aumentar os investimentos, reduzindo as despesas correntes. O país gasta demais, em custeio. Por isso, cobra imposto demais. O contrário do que deveríamos fazer, é uma boa receita para não crescer.

Qual a avaliação que faz dos cortes anunciados pelo Governo?

Cortes, que cortes? Só vemos aumento de despesa, aumento de tributos.

O economista inglês Jim O´Neill, criador da sigla BRIC, afirmou que o Brasil deve abandonar a preguiça de crescer. Ele está correto em sua visão?

Não é preguiça de crescer. É fazer “mensalão”. É fazer “Lava Jato”. É não ter visão estratégica. É não saber sair da crise. É pensar que “voo de galinha” é crescimento.

Em maio último, o Fórum Nacional disse que o Brasil precisa se integrar à nova Revolução Industrial. Poderia nos explicar um pouco melhor sobre esse tema?

O mundo está passando por uma Revolução Industrial que é a maior – desde 1790. E que causará um baque até na nossa Educação. Sem aprofundar o assunto, a Nova Revolução Industrial se baseia num avanço tecnológico mais rápido, que “cria máquinas inteligentes, capazes de tomar decisões” (robôs inteligentes, por exemplo). Um outro impulso é a digitalização do que se queira considerar, fazendo, em seguida, a sua circulação, através da internet. E, ainda, impulsiona novas frentes de Inovação, criando tecnologias do século XXI, como o desenvolvimento da Nanoeletrônica (não confundir com Nanotecnologia). É a eletrônica do futuro. Mais ainda: existe a coalimentação de todas essas coisas, criando um efeito maior. Num país com as grandes oportunidades do Brasil, essa Nova Revolução faz milagres. E cria maior competitividade internacional. Estamos chegando ao mundo da “Odisseia Espacial”. Salvo se continuarmos apenas como expectadores, assistindo ao filme.

2016 já pode ser considerado um ano perdido como muitos analistas estão projetando?

Depende de nós: continuar “olhando o trem passar” ou dizer: “chegou a hora” de ter e fazer acontecer uma nova Grande Visão, como já fizemos.

É possível alcançar um crescimento de 5% ou 6% nos próximos anos, ou vê algum empecilho no horizonte para que isso venha ocorrer?

“Last, but not the least” (Por último, mas não menos importante), há obstáculos a superar, mas também existem caminhos que levam ao crescimento, ao alto crescimento e à busca do desenvolvimento. Já, superamos…”A Seara de Caim”, ou seja, a mania de querer resolver crises através de rebeliões armadas. Enfrentamos a Depressão de 1929, passando de um país que vivia de exportar café (e alguns outros produtos agrícolas), criando uma indústria que, nos anos 30, crescia a 8% ao ano. Já fomos o país que mais cresceu no mundo, durante 5 décadas. Acontece que desenvolvimento é para “corredor de longa distância”. Temos de voltar ao alto crescimento, e partir para a busca do desenvolvimento. Mas, isso só se faz com uma sociedade que se manifeste. E diga a quem está no poder (Executivo, Legislativo e Judiciário) que queremos um Brasil em corrida célere, objetivando o Brasil desenvolvido. Logo, logo.


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