Pioneira e empreendedora, a médica brasileira PhD, cirurgiã, pesquisadora e professora, Marise Gomes, é a primeira a lançar um programa voltado para o atendimento humanizado: Médico Concierge. Nesta entrevista exclusiva ao portal Panorama Mercantil, a especialista e médica reconhecida internacionalmente, explica detalhadamente como funciona o programa, que atua no resgate do atendimento, da relação direta e contínua entre médico e paciente, baseado nos pilares: empatia, compaixão e conexão. “A proposta é trazer o Médico Concierge como uma Especialização Médica que tem como proposta mais do que o atendimento de uma condição clínica específica, o gerenciamento da saúde dos seus pacientes. Para isso, além de vasta experiência clínica, o profissional – o Médico Concierge – oferece atendimento de forma personalizada, onde a relação médico-paciente é próxima, abrangente e baseada em relação de confiança, de comprometimento e responsabilidade. Uma conexão baseada na empatia e conexão. No livre acesso do paciente ao médico. No acompanhamento das múltiplas condições que o paciente possa apresentar, na comunicação com outros especialistas que possam também atender ao paciente, na condução do tratamento das múltiplas condições. No conhecimento amplo do contexto familiar, pessoal e profissional dos pacientes. Na interação com famílias e cônjuges quando necessário”.
Doutora, que experiência e habilidades você traz para o lançamento do serviço Médico Concierge no Brasil?
Trago a experiência de uma profissional com 30 anos de graduação em medicina e atuação em clínica médica, cirurgia geral, cirurgia do trauma e cirurgia cardiovascular bem como a experiência acadêmica de ter me pós-graduado mestre em técnica operatória e cirurgia experimental e doutora em cirurgia cardíaca. De uma profissional que além de ter atendido, tratado e operado uma infinidade de pacientes como médica e cirurgiã, como professora de cirurgia em universidades brasileiras e americanas formou muitos cirurgiões. Como pesquisadora, atuei em pesquisas clínicas multicêntricas internacionais que envolviam drogas inovadoras além de materiais e abordagem cirúrgicas para novas técnicas operatórias.
Porém, a experiência internacional acumulada nos últimos 15 anos de prática médica nos EUA, o trabalho em universidades americanas e o envolvimento com a medicina humanitária no mundo foram cruciais para o meu desenvolvimento profissional. Foram oportunidades que me fizeram ver o quanto a medicina atual no Brasil e no mundo está “engessada”. Os médicos estão inseridos num sistema de atendimento que não lhes permite mais olhar para seus pacientes de forma personalizada, criteriosa e responsável. Os atendimentos em larga escala propostos pelos convênios e seguros médicos promovem uma forma impessoal de relacionamento médico-paciente. Os pacientes e os médicos se sentem desamparados e não se conhecem mais. Sequer se sabe se a consulta de retorno será com o mesmo profissional da primeira. Além disso, não há tempo para que o paciente seja visto como uma pessoa inserida num contexto familiar, profissional, emocional, de moradia, de hábitos e vícios, que tem antecedentes pessoais e familiares, que tem doenças associadas, medicações de uso prolongado. O que se vê é uma condição clínica, um sinal e/ou sintoma ou uma doença.
Minha vida profissional me fez ver que não há meios de atender adequadamente um paciente sem desenvolver com ele uma relação de pessoalidade. A gênese e a manutenção da maior parte das condições clínicas está relacionada aos hábitos de vida e às vivências das pessoas. O Médico Concierge como especialidade médica foi desenvolvido nos EUA não por mero acaso, mas por absoluta necessidade de interação e envolvimento com o paciente para que haja conexão, empatia e compaixão na relação médico-paciente e a partir de então, haja um bom atendimento médico. Trago comigo a experiência em gerenciar a saúde dos meus pacientes e integrar suas múltiplas condições clínicas bem como seus especialistas. A experiência em lidar com pessoas, não apenas com doenças. Com famílias e com situações de vida que, em geral, são parte da condição clínica dos pacientes.
Como você liderou o processo de pesquisa e desenvolvimento da primeira versão biossimilar da HBPM no Brasil?
Diante das complicações e óbitos por tromboembolismo venoso (TEV), trombose venosa profunda (TVP) e embolia pulmonar (EP), inerentes aos grandes procedimentos cirúrgicos e aos pacientes graves acamados ou imobilizados, é que me senti impelida a buscar solução para nossos pacientes do hospital de ensino da Faculdade de Medicina do ABC em São Paulo. Nessa ocasião, em 2004, era professora de cirurgia, pesquisadora e speaker nacional sobre a profilaxia, complicações e tratamento do TEV para uma grande indústria farmacêutica multinacional, Sanofi-Aventis. Não me era confortável saber que havia métodos profiláticos, físicos e medicamentosos, que pudessem evitar complicações e óbitos pelo TEV e não poder usá-los em nossos pacientes por serem onerosos demais para a instituição acadêmica dispensar ou para os nossos pacientes adquirirem. Menos confortável ainda era o fato de poder operar meus pacientes de instituições privadas com segurança que não tinha nas instituições públicas de ensino. As medicações antitrombóticas são drogas biológicas e por essa razão, não passíveis de serem produzidas como medicações genéricas a fim de atender a demanda dos pacientes menos abastados ou instituições públicas.
Diante do desafio de oferecer aos nossos pacientes do hospital de ensino a mesma segurança dos demais, saí em busca de uma solução. E, em parceria com a indústria farmacêutica nacional Eurofarma – que buscava por uma inovação, desenvolvemos a primeira droga antitrombótica biosiomilar do mundo, o Versa®️. Foram quase 5 anos de pesquisas como cofundadora e CEO da empresa de pesquisa clínica privada – Fifty Medical Research e parcerias com laboratórios internacionais. Em 2008 publicamos internacionalmente nossos resultados e em 2009 a medicação foi para o mercado nacional e desde então é a medicação antitrombótica mais vendida do país. Esse feito foi o meu passaporte para o mundo que também estava em busca de um antitrombótico biosimilar.
Quais são as suas especializações em cirurgia e por que você acredita que é considerada uma referência mundial nessas áreas?
Minhas especialidades são Cirurgia Geral, Cirurgia do Trauma, Cirurgia do Aparelho Digestivo e Cirurgia Cardiovascular. Não tenho a percepção de ser uma referência mundial nessas áreas, mas a certeza de que sou uma médica que leva o seu ofício com muita seriedade, responsabilidade e comprometimento com os seus pacientes e alunos. O reconhecimento internacional se deu pelo conjunto da obra como médica, professora e pesquisadora. Ao meu envolvimento integral com meus pacientes e alunos. À minha paixão por ser médica. À minha devoção à medicina, ao ensino médico e à pesquisa.
Por que você decidiu retornar ao Brasil após anos de atuação nos Estados Unidos?
A decisão não foi exatamente o de retornar ao país, mas a de voltar a atender pacientes brasileiros. Tal fato se deu por estar no país – em visita a minha família – por ocasião da pandemia de Covid-19. Tão logo cheguei ao Brasil, em fevereiro de 2019, se deu lockdown. Na impossibilidade de retornar à Nova York, cidade onde moro, decidi prestar meus serviços como médica junto à linha de frente dos hospitais de campanha da cidade de Santo André/SP – cidade onde cursei a faculdade de medicina e trabalhei os meus primeiros anos como médica e cirurgiã.
Prestar serviço junto aos SUS e voltar a atender os brasileiros depois de 14 anos foi tudo o que precisei para lembrar como é bom ser médica no Brasil. Como é bom falar português, ouvir o nosso povo, participar da nossa vida outra vez. Essa experiência e esse sentimento de pertencimento e de acolhimento que tive no Brasil foi o que me fez decidir trazer minha experiência como profissional internacional, porém, sem abandonar minha vida em NY. E essa possibilidade mais uma vez, se deu por conta da pandemia e a oficialização e legalização do atendimento por telemedicina. Desta forma, venho me dividindo entre Brasil e EUA por telemedicina e a cada 3 meses, presencialmente.
Qual é a proposta do serviço Médico Concierge que você lançou e como ele se diferencia dos demais serviços de saúde?
A proposta é trazer o Médico Concierge como uma Especialização Médica que tem como proposta mais do que o atendimento de uma condição clínica específica, o gerenciamento da saúde dos seus pacientes. Para isso, além de vasta experiência clínica, o profissional – o Médico Concierge – oferece atendimento de forma personalizada, onde a relação médico-paciente é próxima, abrangente e baseada em relação de confiança, de comprometimento e responsabilidade. Uma conexão baseada na empatia e conexão. No livre acesso do paciente ao médico. No acompanhamento das múltiplas condições que o paciente possa apresentar, na comunicação com outros especialistas que possam também atender ao paciente, na condução do tratamento das múltiplas condições. No conhecimento amplo do contexto familiar, pessoal e profissional dos pacientes. Na interação com famílias e cônjuges quando necessário. O atendimento personalizado, abrangente e integral dos pacientes, além do acesso livre ao médico é o diferencial para as outras especialidades, que não são excluídas, mas gerenciadas.
O Serviço Concierge de Atendimento Médico é o sistema de otimização do atendimento e triagem dos pacientes atendidos pelos sistemas coletivos de atendimento médico – os convênios e seguros médicos – onde profissionais de saúde como enfermeiros, nutricionistas, assistentes sociais e outros fazem uma consulta de triagem e orientação que visam diminuir filas de espera e assistência para marcação de exames e etc. São serviços completamente diferentes. Apenas o termo “concierge” é comum entre eles.
Como você concilia sua residência em Nova York com sua atuação no Brasil?
Concilio minha vida entre SP e NY por intermédio da telemedicina e visitas periódicas (a cada 3 meses) ao Brasil.
Quais são os pilares fundamentais do serviço Médico Concierge que você idealizou?
Conexão, Empatia e Compaixão.
Como a sua experiência nos Hospitais de Campanha durante a pandemia influenciou no desenvolvimento do serviço Médico Concierge?
Minha experiência nos hospitais de campanha no Brasil durante a pandemia de Covid-19 não influenciou no processo de desenvolvimento do serviço Médico Concierge. Esse modelo, ou especialidade, já era parte da minha vida nos EUA há pelo menos 6 anos. Prestar serviços médicos no país após longos anos de afastamento – 14 anos – reiterou minha percepção de que essa especialidade seria bem aceita no país. Muito embora, o Médico Concierge seja um modelo que será sempre bem-vindo em qualquer lugar do mundo, tendo em vista o sistema de atendimento médico atual no mundo; sobrecarregado, distante e impessoal.
Não pude deixar de sentir a frustração dos pacientes por não terem a quem recorrer no momento em que a orientação de um médico de confiança, que conhecesse os pormenores clínicos dos seus pacientes, poderia aliviar muito os hospitais ou unidades de atendimento emergencial. Foi um momento de grandes dúvidas, de novidades tecnológicas, de muita opinião e orientação leiga ou até de desinformação – inclusive de alguns colegas médicos despreparados.
Quais são os benefícios e vantagens para os pacientes que buscam o atendimento diferenciado oferecido pelo serviço Médico Concierge?
1 – Acesso ao Médico Vantagens: Direto e Imediato Desvantagens: Indireto e Tempo Espera/Fila.
2 – Relação Médico-Paciente.
Vantagens: Próxima e Permanente; Desvantagens: Distante e Imprevisível.
3 – Atendimento Médico.
Vantagens: Personalizado e Abrangente; Desvantagens: Impessoal e Específico.
4 – Atendimento de Urgência PS.
Vantagens: Suporte pessoal ou telefônico ao hospital/equipe; Desvantagens: Sem suporte.
5 – Procedimento Cirúrgico.
Vantagens: Suporte ao paciente e à equipe; Desvantagens: Sem suporte.
6 – Internação Hospitalar.
Vantagens: Suporte pessoal ou telefônico; Desvantagens: Sem suporte.
7 – Tempo de Consulta.
Vantagens: Tempo que for necessário; Desvantagens: Tempo controlado e em geral insuficiente.
8 – Frequência Vantagens: Quanto for necessário Desvantagens: 1 consulta e retorno em 30 d.
9 – Contato do Médico p/ FUP Vantagens: Periódico Desvantagens: Raro.
10 – Contato do Médico p/ Orientação vacinal, dietética, novidades sobre as condições clínicas, dicas, efeito de medicação nova ou do tratamento proposto.
Vantagens: Periódico ou quando necessário; Desvantagens: Sem contato.
11 – Conexão, empatia e compaixão Vantagens: Base do atendimento Desvantagens: Dependente de tempo e interesse do profissional.
12 – Suporte à família ou cônjuges.
Vantagens: Sempre que for necessário Desvantagens: Raro
13 – Exames subsidiários Vantagens: Quando necessário Desvantagens: Quase sempre – se ou não necessário (pressão).
14 – Prescrição de Receitas Vantagens: Sempre que necessário Desvantagens: Quase sempre – p/ justificar atendimento rápido.
15 – Esclarecimento de Dúvidas do Paciente ou Dr. Google Vantagens: Sempre que abordado ou orientada busca conjunta Desvantagens: Quase nunca – se houver tempo ou interesse.
16 – Contato com Especialistas Vantagens: Sempre que necessário Desvantagens: Esporadicamente (?).
17 – Documento Fonte – Histórico Médico Pessoal.
Vantagens: Elabora, atualizada periodicamente e disponibiliza ao paciente Desvantagens: Não elabora. Não oferece ao paciente como recurso de facilitar interconsultas com outros especialistas.
18 – Estratégias para adesão aos tratamentos Vantagens: Sempre Desvantagens: Às vezes.
19 – Estratégias para aquisição de metas como perda de peso, controle de diabetes, pressão arterial e etc Vantagens: Sempre Desvantagens: Às vezes
20 – Ter um médico “pra chamar de seu” Vantagens: Sempre Desvantagens: Raros casos
Poderia enumerar tantas outras vantagens ou desvantagens em ter um Médico Concierge. Mas, talvez fosse interessante lembrar as vantagens para os serviços médicos de atendimento coletivo – convênios e seguros saúde – que tem seus gastos diminuídos com consultas médicas e exames subsidiários desnecessários, que são solicitados em excesso, como prescrições de medicamentos, são solicitados por pressão dos “pacientes”. Pacientes que não têm tempo e atenção dos seus médicos costumam se sentir compensados com exames pedidos por sentirem-se seguros. E, prescrições feitas, por se sentirem tratados.
O Médico Concierge pode “mudar” ou reprogramar a vida de seus pacientes com estratégias para a adesão aos tratamentos e medidas físico, dietéticas e posturais que podem levar a diminuição da dosagem de medicações usadas para o controle de doenças crônicas – como o Diabetes e a Hipertensão Arterial – ou até mesmo a suspensão dos mesmos.
Como você pretende promover a empatia, compaixão e conexão entre médico e paciente por meio do serviço Médico Concierge?
Essa é a única pergunta que a mim talvez não “faça sentido”. Pretendo promover o serviço Médico Concierge sendo eu mesma. Não conheço outra forma de exercer o ofício de ser médica senão com paixão pelo propósito e interesse genuíno pelo objeto, o paciente.
Quais são os seus planos futuros para expandir e aprimorar o serviço Médico Concierge no Brasil?
Meus planos para o futuro do Médico Concierge no Brasil como especialidade é o de guiar ou formar outros colegas médicos nessa especialidade além de, apresentar a especialidade, o modelo de atendimento, aos serviços de atendimento médicos coletivos – os convênios médicos, os seguros de saúde e a saúde pública, e demonstrar os benefícios que este modelo de atendimento médico pode ser valioso.
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