Bruno Gouveia é cantor e um dos compositores do grupo Biquini Cavadão – um dos mais longevos representantes do rock brasileiro, com mais de 30 anos de carreira. Seus discos já passaram a marca de 1,5 milhão de cópias vendidas. Pioneiro entre os artistas na internet, viveu e acompanhou de perto todas as transformações pelas quais a indústria fonográfica e o show business passaram desde a década de 80 aos dias de hoje. Coautor de diversos sucessos, além de produtor musical, entre outros trabalhos, Bruno chega aos 52 anos, com seu primeiro livro: “É Impossível Esquecer o Que Vivi”, uma autobiografia que ilustra também a trajetória de sua própria banda, com doses de superação e relatos envolventes. Sempre antenado com a tecnologia, o autor inova ao criar uma navegação paralela. Usando QRcodes para ilustrar o livro com fotos, canções e vídeos, Bruno faz do celular do leitor um companheiro indispensável para total aproveitamento da obra. Com lançamento pela editora Chiado, o livro já se encontra nas principais livrarias do país. “Viver é escrever constantemente as páginas de um livro. Quem relê o passado o tempo todo, acaba sem ter como escrever novos capítulos. Busquei então seguir em frente. Não creio que a dor me fortaleceu, mas eu acredito que tudo se tornou pequeno demais depois da morte do Gabriel. A dor de sua perda me faz olhar para muita coisa hoje e dar menos relevância”, afirma.
Bruno, o que a música significa para a sua existência?
A música faz parte da formação de qualquer pessoa. Cantigas de ninar, de roda, canções em eventos marcantes, sua primeira banda favorita… Acontece que a música, às vezes, te leva para onde você jamais imaginou – pelo menos no meu caso. Nunca imaginei que estaria cantando para milhares de pessoas. E talvez, por isso, nutra esta enorme gratidão por tudo que ela me proporciona.
O Biquini Cavadão começou de forma despretensiosa. Em que momento você acredita que a despretensão se ligou ao prazer de estar fazendo aquilo que se gosta e que acredita?
A despretensão era associada a um prazer de tocar, sim, mas sem imaginar aquilo como nosso futuro profissional. Isso levou muito tempo para acontecer comigo. Fiz faculdade por alguns anos em meio a turnês, mas acho que foi em 1989 que me dei conta que não conseguia fazer mais nada que me desse tanto prazer como estar no palco. Já estava no terceiro disco da banda, um disco que não teve a mesma receptividade que os dois anteriores e que me colocava numa encruzilhada para o quarto disco – último de meu contrato. Ali se construiu a guinada para o Biquini Cavadão ser o que é hoje.
Quais os principais pilares que sustentam uma banda como o Biquini Cavadão por tanto tempo?
Acho que é um banquinho de três pés. Talento, Respeito, Vontade. Talento: sem música boa, nada acontece. E conseguimos lançar músicas novas, sempre nos renovando. Respeito: fundamental! Com o público, com a mídia e entre nós mesmos. Vontade: sem determinação, perseverança, profissionalismo, tudo sucumbe. Como disse, é um banco de três pés, se tirar um deles, tudo cai.
Quanto da sua visão pessoal está presente na banda?
Todo disco do Biquini Cavadão é confessional. Minha vida é um disco aberto (Risos).
Quando canções como “Tédio”, Vento Ventania”, “Zé Ninguém” (principalmente nos dias de hoje) e “Janaína”, se tornam hits atemporais, causam satisfações comparadas ao quê?
Gratidão. Não foram feitas com esta pretensão. A conquista é da música e do público. Somos apenas o instrumento.
No seu livro suas “entranhas” estão expostas. As dores lhe fizeram ser mais forte em quais sentidos?
As dores fazem parte do meu dia a dia. Mas não dominam o meu dia a dia. Viver é escrever constantemente as páginas de um livro. Quem relê o passado o tempo todo, acaba sem ter como escrever novos capítulos. Busquei então seguir em frente. Não creio que a dor me fortaleceu, mas eu acredito que tudo se tornou pequeno demais depois da morte do Gabriel. A dor de sua perda me faz olhar para muita coisa hoje e dar menos relevância.
O que mudou em suas composições com o passar do tempo?
Cresci. Não sou aquele adolescente que começou esta trajetória com a banda. Natural que isso se refletisse na forma de pensar e escrever.
E o que ainda continua igual?
A vontade de ser claro e dividir sentimentos. Através deles, eu tento fazer contato com quem sinta o mesmo.
Depois de tantos anos, qual palavra lhe define como artista e homem em sua análise?
A simplicidade.
Era essa palavra que você pensava que iria moldá-lo na maturidade quando começou a sua bem-sucedida carreira de uma forma despretensiosa?
Sempre busquei a simplicidade como norte de minha bússola. É um caminho, não um destino. Continuo a seguir por ele com gratidão.
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