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Camila Morais analisa o ambiente de trabalho

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Camila Morais é terapeuta ocupacional graduada pela USP desde 2007; psicanalista com início da formação desde 2008; acompanhante terapêutica desde 2005; supervisora clínica desde 2011; especialista em Psicopatologia e Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública pela USP desde 2009; coordenadora do Curso de Formação em Acompanhamento Terapêutico da Cont.AT.o desde 2011; membro da Ger-Ações: pesquisas e ações em gerontologia desde 2014 e mestranda em Psicologia Clínica pelo Instituto de Psicologia da USP. A psicanalista diz que desde a adolescência, se interessa pelas pessoas e por suas histórias de vida, e que pensando em formas de ajudá-las a lidar com as mais diferentes situações, escolheu trabalhar como terapeuta. “As empresas têm um papel social importante. Na medida em que elas reconhecem como valor a experiência de uma pessoa mais velha podem, por exemplo, criar cargos novos dentro da empresa para que aquele funcionário se mantenha, pode aderir a projetos sociais favorecendo que os funcionários que se aposentem se mantenham de alguma forma ativos experimentando outros papéis ou funções, auxiliar ao longo da vida o desenvolvimento dos funcionários para que eles descubram atividades que lhe deem prazer e satisfação além do trabalho – pois, são estes projetos que muitas vezes podem fazer parte de um projeto de velhice”, afirma a terapeuta.

O que os abusos mentais podem causar em um longo prazo na vida de um funcionário em um ambiente de trabalho?

Uma pessoa que vivencie situações de violência no trabalho (mais conhecida como assédio moral), a curto, médio e a longo prazos, pode apresentar sofrimentos emocionais de diferentes níveis de intensidade e manifestações.

É comum que a pessoa perca o ânimo e a vontade de ir para o trabalho – o que pode evoluir para um quadro de depressão, perca o rendimento (pelas dificuldades de manter a atenção e concentração nas atividades laborais), sinta ansiedade ou irritabilidade quando está próximo da pessoa que pratica abusos mentais contra ela.

Como o assédio moral não é algo que deixa marcas visíveis, como uma violência física, o funcionário muitas vezes sente-se acuado e com medo por não ter provas concretas para comprovar as situações de violência. É comum que colegas de trabalho, chefes ou até mesmo os médicos do trabalho não acreditem no sofrimento emocional advindos destas situações.

Como este colaborador deve estar preparado psicologicamente na hora que pretende se tornar um empreendedor?

Considero importante que as pessoas que desejam se tornar empreendedoras façam um bom plano de negócios. Há profissionais no mercado que acompanham os empreendedores nesta etapa inicial justamente para minimizar os riscos desta nova empresa dar errado. Com um bom plano de negócios o empreendedor tem maior clareza das etapas do processo e evita ser surpreendido por fatores que não havia previsto. Um bom planejamento – o que inclui ter clareza do que este empreendedor espera com o novo negócio, organizar a quantidade de dinheiro que precisa investir e deixar como reserva até a sua empresa se firmar, prazos, evitar ansiedades e atropelos desnecessários, entre outros.

A ausência de perspectivas de crescimento no ambiente de trabalho causam mais angústia ou ansiedade?

Quando um profissional não encontra perspectivas de crescimento, aumento na remuneração ou não se sente reconhecido quando apresenta melhor desempenho ou dedicação, sente-se desmotivado no trabalho e estes aspectos também podem ser acompanhados de níveis variados de angústia.

Em que momento esses dois fatores podem ser bloqueadores de uma ação para a resolução destes problemas?

A angústia e a ansiedade podem ser motores importantes para que o profissional busque caminhos e alternativas diferentes aos que estava trilhando até aquele momento. No entanto, é bastante comum que as pessoas sintam-se paralisadas em um momento inicial. É necessário certo tempo para compreender os motivos que levam a ansiedade e a angústia e também para encontrar caminhos para lidar com as situações.

Como a ansiedade e angústia devem ser controladas?

A ansiedade e a angústia são emoções normais dos seres humanos. A ansiedade geralmente se apresenta antes de algum evento importante e pode inclusive contribuir para que a pessoa se prepare melhor para enfrentar determinada situação. Se ela atinge níveis que começam a atrapalhar a pessoa em atividades da vida cotidiana, como, por exemplo, o trabalho, requer atenção e cuidados.

Já a angústia é decorrente de conflitos relacionados a desejos que a pessoa tenha, escolhas e decisões que precise tomar. A angústia muitas vezes pode ter elementos inconscientes, ou seja, a pessoa não sabe propriamente o que é a angústia, mas sente os sintomas físicos de pressão ou queimação no peito, taquicardia, falta de ar, tontura, entre outros. Quando a angústia atinge níveis insuportáveis, a pessoa pode perder o controle e isso desencadear uma crise de angústia – mais conhecida como crise de ansiedade. Um ponto fundamental para que a pessoa lide (ou controle) a angústia e a ansiedade é se conhecer melhor. Há pessoas que não entram em contato com os sinais que o corpo apresenta e nem com as emoções, o que torna muito mais difícil reconhecer o que está se passando consigo mesmas.

Quais os sinais físicos da angústia e da ansiedade em um local de trabalho?

Os principais sintomas de uma crise de ansiedade são aumento da frequência cardíaca e da percepção dos batimentos do coração (que parece mais acelerado do que o habitual), respiração ofegante ou falta de ar; tontura; mãos e/ou pés frios ou com sudorese intensa; sensação de que algo ruim está para acontecer. Há pessoas que sentem também náuseas, dores de cabeça e fraqueza.

Alguns idosos quando chegam ao fim da sua jornada de trabalho se tornam depressivos. Como mudar esse paradigma?

Na cultura ocidental contemporânea os idosos ainda são pouco reconhecidos pelo seu conhecimento, experiência de vida e como aqueles que podem trazer contribuições para a sociedade de uma forma geral. Há muitas pessoas na idade entre 50 e 60 anos com habilidades técnicas, conhecimento e experiência, encontrando muitas dificuldades de inserção no mercado de trabalho e isto precisa mudar. Além disso, quando uma pessoa se aposenta, ainda que ela queira ou necessite continuar trabalhando, encontra inúmeras dificuldades para se (re)inserir profissionalmente. Em uma sociedade que valoriza o trabalho, aqueles que ficam à margem do mercado, perdem seu valor social e simbólico, o que tem impactos subjetivos desastrosos. Se a figura do idoso é atrelada àquele que já viveu tudo no passado e que não há expectativa de viver experiências significativas no presente e no futuro, não há espaço social para que ele exerça funções e papéis.

Qual o papel da empresa para uma saída que não cause transtornos psicológicos neste trabalhador?

As empresas têm um papel social importante. Na medida em que elas reconhecem como valor a experiência de uma pessoa mais velha podem, por exemplo, criar cargos novos dentro da empresa para que aquele funcionário se mantenha, pode aderir a projetos sociais favorecendo que os funcionários que se aposentem se mantenham de alguma forma ativos experimentando outros papéis ou funções, auxiliar ao longo da vida o desenvolvimento dos funcionários para que eles descubram atividades que lhe deem prazer e satisfação além do trabalho – pois, são estes projetos que muitas vezes podem fazer parte de um projeto de velhice.

Vamos voltar ao tema ansiedade. Como domar esse sentimento em uma entrevista de emprego ou mesmo em uma decisão que altera o curso de uma carreira?

Antes de uma entrevista de emprego sugiro tentar ter uma boa noite de sono na véspera, chegar antes do horário (para isso avalie a melhor forma de se deslocar até o local e saia com antecedência de casa), “estudar” o próprio currículo – no sentido de construir um percurso pelo qual se apresente e ter estas informações claras para si, treinar com um amigo ou parente as possíveis perguntas que o entrevistador pode fazer, refletir sobre seus pontos fortes e sobre os seus pontos fracos para que possa falar deles com mais tranquilidade e objetividade. Uma decisão que altera o curso da carreira também requer preparo prévio como elencar os pontos positivos e negativos que estão atrelados a esta mudança, avaliar se a decisão está sendo tomada para ajudar alguém porque a pessoa realmente deseja fazê-la, identificar o que será exigido dela nesta nova etapa e se está disposta a abrir mão de algumas coisas para alcançá-la.

A falta de propósito em um trabalho é algo que pode aumentar os problemas psicológicos de uma pessoa?

Na nossa sociedade, o cotidiano das pessoas está bastante voltado para atividades laborais. Desta forma, a quantidade de horas que as pessoas se dedicam ao trabalho é maior que qualquer outra atividade. Quando uma pessoa não se sente realizada em seu trabalho, de fato pode se deparar com situações bastante ruins e que podem levar a algumas manifestações de sofrimento emocional. É importante que a pessoa avalie o que não a motiva ou não traz satisfação em seu trabalho, pois, alguns aspectos podem ser modificados ao longo do tempo. Ter clareza sobre as insatisfações auxilia a encontrar caminhos para a mudança.

Em que momento uma autorreflexão pode mudar essa visão de mundo?

Uma espécie de autoanálise é importante a qualquer momento, pois, ela faz com que o indivíduo entre em contato consigo mesmo para compreender como se sente em determinadas situações, quais as respostas que costuma dar diante de certos cenários ou conflitos e tentar encontrar novos modos de lidar ou responder à determinadas situações que o angustiam.

A ajuda de um profissional de saúde mental é bastante valiosa, especialmente porque há certos pontos que não conseguimos enxergar sozinhos e com base na autoanálise, sendo necessária a ajuda de um profissional especializado para auxiliar neste processo.

Última atualização da matéria foi há 2 anos


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