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Cao Guimarães marcado pela sua fotografia única

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Cao Guimarães é graduado em filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e jornalismo na Pontifícia Universidade Católica – PUC, em Belo Horizonte, de 1983 a 1986. Posteriormente torna-se mestre em estudos fotográficos pela Westminster University, em Londres. Antes dedicado à fotografia, a partir dos anos 1990 produz vídeos, videoinstalações e filmes. No fim da década de 1990, passa a realizar principalmente documentários experimentais. Como cineasta e videomaker dirige os filmes “Otto, Eu Sou Um Outro” (1998); “The Eye Land” (1999); “Sopro” (2000); “Hypnosis” (2001); “Word/World” (2001); “Fim do Sem Fim” (2001); “Volta ao Mundo em Algumas Páginas” (2002); “A Alma do Osso” (2004); “Rua de Mão Dupla” (2004); “Da Janela do Meu Quarto” (2005); “Concerto para Clorofila” (2005) entre outros. Desde o fim dos anos 1980, exibe seus trabalhos em museus e galerias como Tate Modern, Guggenheim Museum, Museum of Modern Art NY, Gasworks, Frankfurten Kunstverein, Studio Guenzano, Galeria La Caja Negra e Galeria Nara Roesler. Participou de bienais como a XXV e XXVII Bienal Internacional de São Paulo e Insite Biennial 2005 (San Diego/Tijuana). Alguns de seus trabalhos foram adquiridos por coleções como Fondation Cartier Pour L’art Contemporain, Tate Modern, Walker Art Center, Guggenheim Museum, Museu de Arte Moderna de São Paulo, MoMA NY e Instituto Cultural Inhotim.

Cao, qual a sua definição de arte?

Arte para mim é um dos grandes agentes transformadores possíveis, tanto de um indivíduo, quanto de um grupo e de uma cultura. Arte é aquilo que nos faz transcender aquilo que nos limita. O que gera movimento e nos faz ir na direção do outro. A explosão dos sentidos.

O artista deve ser sempre cético com o que está estabelecido como padrão?

Não exatamente cético, mas desconfiado. Pois, sendo a arte algo em constante movimento seria contraditório estabelecer um padrão.

Quando acredita que a arte exerce um papel social?

Sempre. A arte só existe quando ela comunica ou afeta outro que não apenas o artista. O espectador é parte fundamental do processo artístico, logo a rede social se forma naturalmente em sua simples manifestação.

Gostaria que falasse um pouco da sua experiência em trabalhar com fotografia e o que isso trouxe de aprendizado para o seu ofício.

Sempre fui muito marcado pela fotografia. Meu avô tinha um laboratório em casa, e eu criança ficava fascinado por aquele mundo mágico naquela sala de luz vermelha. A fotografia me gerou paixão pela imagem e isso diz tudo do que aconteceu posteriormente.

Fui muito cinéfilo na juventude. Queria ser cineasta, mas na década de 80 em BH não era tão simples assim (até hoje não é, mesmo com toda a revolução digital). Ser fotógrafo era mais simples, não dependia de muita coisa, basicamente de uma câmera e de mim mesmo. As artes mais individualistas como a fotografia influenciaram no tipo de cinema que comecei a fazer, o homem e uma câmera, como uma caneta, anotando o mundo (como dizia Dziga Vertov). Finalmente sou um cineasta-fotógrafo, como existem cineastas-atores, cineastas-escritores, cineastas-dramaturgos. Tenho a tendência a enquadrar e compor tudo o que vejo, isso obviamente é algo decorrente do exercício da fotografia.

Qual a marca que todos os seus filmes têm e que às vezes passa despercebido pelo público?

Faço filmes bastante diferentes uns dos outros. Gosto de fazer algo diferente do que já fiz a cada novo projeto. Apesar de meus filmes serem bem diferentes entre si, certamente todos devem ter algo em comum, pode ser uma forma de olhar o mundo ou qualquer outra coisa, não saberia dizer. Os críticos são melhores para detectar estes traços do que os próprios autores. Já o público é plural e diversificado, cada um percebe coisas completamente diferentes do que seu vizinho na sala de cinema. A boa obra de arte é um objeto inapreensível em sua totalidade, pois, ela se completa de uma forma diferente em cada espectador.

Em qual deles esta marca se fez mais presente em sua visão?

Não saberia dizer.

Você afirmou em uma certa oportunidade, que o artista é uma grande esponja de percepção das coisas. Em que momento da sua vida esta percepção esteve mais aguçada?

Como dizia Joseph Beuys [artista alemão que produziu em vários meios e técnicas, incluindo escultura, fluxus, happening, performance, vídeo e instalação. Ele é considerado um dos mais influentes artistas alemães da segunda metade do século XX, 1921 – 1986] todo ser humano é um artista em potencial. Alguns desenvolvem (ou acreditam) mais neste ser esponja. Arte é quase uma forma de religião, não basta o talento, é preciso ter fé. Obviamente a intensidade dessa fé no fazer artístico é variável no decorrer da vida, às vezes ela chega a ser tão forte como apenas o que nos resta e isso pode ser muito perigoso. No meu caso sempre considerei vida e arte como duas coisas que andam juntas, inseparáveis uma da outra, sem distinção de valor.

A arte deve ser sempre desconstrutiva?

Obviamente que não. Das mais importantes correntes da história da arte chamava-se construtivista. Dizendo de outra forma: Para desconstruir algo você (você no sentido amplo da palavra, a cultura da qual pertence por ex.) necessariamente teve que construir antes.

Acredita que o seu filme “O Homem das Multidões” é o que mais retrata o mundo atual e suas peculiaridades?

Todos meus filmes retratam ou refletem um fragmento, uma peculiaridade do que é o mundo atual. Seria muito pretensioso dizer de uma totalidade em uma simples obra de arte ou em qualquer outra atividade humana.

E você, como encara a solidão?

Imagino que a solidão tenha diferentes formas de manifestação no ser humano. Cada um a sente de uma forma diferente. Pode ser muito perniciosa para alguém que se deixa tomar pelo seu lado negativo, como também pode ser proveitosa se você a encara e consiga ficar mais forte que ela.

Ninguém está livre da solidão, pois, fundamentalmente nascemos e morremos sós. A vida que está no meio destes dois pontos é apenas uma reverberação (que pode ser maravilhosa) desta solidão essencial e absoluta a que estamos todos condenados.

Como avalia a força da imagem em sua obra?

Como já disse anteriormente sou um artista da imagem. Ela é meu instrumento de criação principal. Para dizer de outra forma sou um viciado da imagem, mesmo às vezes estando farto dela.


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