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Carol Zerbato está dando voz aos bichos

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Caroline Zerbato ou Carol Zerbato como se tornou conhecida, é formada em rádio e televisão, mas seus caminhos profissionais sempre foram guiados pela escrita. Comunicóloga, já fez um pouco de tudo na área de comunicação: trabalhou com televisão, locução, redação e comunicação interna. Ao todo, são mais de 10 anos atuando no mercado – 7 deles no segmento pet. E foi a proximidade com os animais que despertou em Carol a vontade de dar voz aos bichos – mas pela visão deles. Criou alguns projetos nessa linha, foi amadurecendo a ideia, e então surgiu a cachorra Carol, uma vira-lata maior falante. Carol tem uma cachorra “labralata” (Rachel Green), e uma gata vira-lata (Doloris Van Cartier). Hoje dirige a Ô de Patas, sua agência especializada em comunicação pet. “Acho que o brasileiro é solidário por si só. Não só com a causa dos bichos, mas com todas as quais ele pode colaborar. O que acontece é que, principalmente nesta fase da hiper-informação, as pessoas são frequentemente impactadas por pedidos de resgate e adoção. E, como tudo é muito efêmero, a mensagem que acaba ficando é a de que, se ele não pode resgatar nem adotar, seja qual for o motivo, não pode ajudar. (…) Tem gente que só te trata bem ou te dá uma oportunidade quando você tem alguma coisa para oferecer em troca. Mas isso não é da causa, é do ser humano. É um dos motivos pelos quais prefiro lutar pelos animais”, afirma a comunicóloga.

Carol, se apresente para quem ainda não lhe conhece.

Olá! Meu nome é Carol Zerbato, sou comunicóloga, microempresária, revisora publicitária e criadora da cachorra Carol – histórias em quadrinhos que retratam as relações humanas através do olhar de um cão, com o objetivo de conscientizar a sociedade sobre a causa animal. Também sou palmeirense e fã do Chaves. Esses dois últimos podem parecer características irrelevantes na minha luta pelos animais, mas não são. Quando era pequena e ainda não tinha muita consciência, parei de comer carne de porco por causa do Palmeiras, porque me negava a comer a minha espécie (…); e crescer assistindo Chaves me ajudou a entender que uma linguagem simples e com inversões de texto pouco rebuscadas, além de divertida, é eficaz para que o receptor compreenda com clareza a mensagem que desejamos transmitir.

Você possui formação na área de televisão. Como enxerga o tratamento dado pelo maior veículo de comunicação do país, nas questões ligadas à defesa da causa animal?

Na verdade, acho que a questão ainda não é bem desenvolvida em diversos veículos e segmentos – muitas vezes, até dentro da proteção animal. Eu mesma, quando comecei a me envolver na causa, não tinha uma visão muito abrangente, não enxergava o tema como um todo. E isso prejudica o discernimento e a assertividade da luta pelos bichos. Certa vez, estava em um evento com uma amiga, que foi repelida por um outro convidado por comer carne. O curioso é que a pessoa que a rechaçou era vegetariana, mas estava usando sapatos de couro. Esse comportamento incoerente e prepotente de “eu sou evoluído e você, não”, “eu faço e você, não”, “eu sou e você, não” – além de irritante – é extremamente nocivo para a causa. O discurso deve ser de agregamento, não de exclusão. Infelizmente, as questões ligadas à defesa dos bichos ainda tropeçam em pessoas que as usam para autopromoção, para associar afetividade à própria imagem ou para suprir as próprias carências afetivas. Fiz 8 anos de terapia para aprender a fugir dessa última [risos].

Muitas pessoas dizem que não podem adotar animais, mas você sempre afirma que existem muitos meios para ajudar várias frentes de trabalho que adotam animais que são maltratados. De modo geral, o brasileiro é solidário para essa causa?

Acho que o brasileiro é solidário por si só. Não só com a causa dos bichos, mas com todas as quais ele pode colaborar. O que acontece é que, principalmente nesta fase da hiper-informação, as pessoas são frequentemente impactadas por pedidos de resgate e adoção. E, como tudo é muito efêmero, a mensagem que acaba ficando é a de que, se ele não pode resgatar nem adotar, seja qual for o motivo, não pode ajudar. Mas têm muitas outras maneiras, sim. Mesmo porque a causa animal vai desde cães e gatos abandonados até animais marinhos explorados pela indústria do entretenimento em parques e aquários, por exemplo. Quem quiser ajudar e não estiver apto para resgatar ou adotar, pode escolher uma ONG com a qual se identifique e apadrinhar um cão ou gato carente; pode também oferecer um pouco do seu tempo para passear com animais abandonados – o CCZ de São Paulo tem o projeto Cãominhando, por exemplo, em que, mediante cadastro prévio, as pessoas podem passear com os cães do canil aos domingos; ou, simplesmente, não pagar para nadar com golfinhos ou assistir a shows de orcas em cativeiro, e não financiar essa indústria cruel. Opções não faltam. É só ter consciência e querer, claro.

A invasão do Instituto Royal em outubro em 2013, pode ser considerada um divisor de águas para a luta pela causa animal em nosso país?

Acho que foi importantíssima para trazer à superfície a problemática e a crueldade dos testes em animais. Mas é um acontecimento bastante divergente para mim, porque os beagles foram salvos, mas os ratos, não. E fiquei mal por isso. Por outro lado, não posso julgar, porque eu não estava lá. O que nós que lutamos pela causa não podemos – nem devemos – é deixar que o ocorrido se transforme em um divisor “raso” de águas. O problema continua, com milhares de animais sendo usados na indústria farmacêutica e cosmética, não só para testes, mas também como ingredientes em processos escravizadores de produção em grande escala. E, aí, vem a pergunta: “Ah! Mas como acabar com isso?”. Ler os rótulos e se interessar pela procedência dos ingredientes dos produtos que compramos já é um bom começo.

O segmento pet movimentou no ano passado R$ 16,5 bilhões no Brasil. Quais os cuidados que o mercado como um todo deve tomar, para que cães não sejam transformados apenas em números ou simplesmente em bibelôs?

Justamente não tratá-los como números ou bibelôs. Um exemplo bastante claro está no segmento de ração: a marca líder de mercado vende seus produtos sem precisar falar de seus produtos, porque foi uma das primeiras a entender que o foco da comunicação não é o produto; é o cachorro. E foi ainda mais longe: compreendeu que era incoerente cuidar do cachorro sem cuidar da causa. E, bingo: atingiu e conquistou o público de forma assertiva e eficaz.

Fale um pouco mais da sua agência especializada em comunicação pet, a Ô de Patas.

A Ô de Patas nasceu há, aproximadamente, um ano e meio, do meu caso de amor com o mercado pet – que já dura mais de 8 anos. Minha sócia – que é designer e também foi contagiada pela imensa satisfação de criar para os bichos – e eu começamos com dois clientes, sendo que um era pro bono [risos]. Hoje, estamos com 11. E amamos criar para cada um deles. Fazemos comunicação on e off e somos super-rígidas com nossa cultura empresarial. Por exemplo: se um cliente quiser nos contratar, pelo dinheiro que for, mas não se preocupar genuinamente com o bem-estar dos animais, nada feito. Recusamos. Ser assim faz a gente ganhar menos? Faz. Mas, se não formos coerentes com nossos princípios, como vamos exigir isso dos outros? A gente anda de ônibus, mas de consciência tranquila [risos].

No ano passado, você lançou uma seleção especial de tirinhas sobre uma esperta cachorrinha chamada Carol. Como tem sido o seu retorno junto ao público e se ela é o seu alter-ego?

Sempre quis dar voz aos bichos – mas, pela visão deles. E com a cachorra Carol consegui realizar essa vontade. Com certeza, ela é meu alter-ego. Eu sou ela e ela sou eu. Costumo dizer que ela sou eu melhorada, porque os animais são mais evoluídos que a gente. E o retorno é sensacional, o público a recebeu de braços abertos e com um carinho imenso. E, além de apoiarem, as pessoas compreendem e compartilham as mensagens da cachorra Carol exatamente como são. Tenho muita, muita sorte mesmo por um ter um público tão amoroso e comunicativo. Ela e eu, eu e ela nunca teremos como agradecer.

Os defensores dos animais hoje detêm uma grande força de atuação. Você já foi assediada por grupos políticos que de certa forma, querem usar a popularidade dos ativistas para outros fins?

Por políticos, não. Por gente política, sim. Muito. Tem gente que só te trata bem ou te dá uma oportunidade quando você tem alguma coisa para oferecer em troca. Mas isso não é da causa, é do ser humano. É um dos motivos pelos quais prefiro lutar pelos animais.

Quais os cuidados que um ativista da causa animal deve ter para que ele não fique maior do que a causa que representa?

Todos [risos]. Eu costumo falar que sou uma ativista torta, do lado B, porque não saio por aí brigando com as pessoas sem antes entender por que elas comem vitela ou pagam para nadar com golfinhos. Dependendo dos motivos, aí eu brigo [risos]. Mas apontar o dedo não é eficaz. Parar, ouvir e entender o porquê de determinado comportamento é a mais valiosa ferramenta para construir uma nova consciência. Acho que o segredo é entender que a causa animal é uma questão de ser, não de estar nem de “star”. Mas, infelizmente, o objetivo de muita gente que se diz ativista é justamente aparecer mais que a causa. Gente que, enquanto fica divagando sobre o próprio umbigo, não sabe que uma orca sofre vivendo sozinha há quase 40 anos em um aquário de Miami. Gente que não percebe que aplauso é consequência, não objetivo. Gente que não entende que Nelson Mandela [advogado, líder rebelde e presidente da África do Sul de 1994 a 1999, considerado como o mais importante líder da África Negra, ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1993, e pai da moderna nação sul-africana, onde é normalmente referido como Madiba (nome do seu clã) ou Tata (‘Pai’), 1918 – 2013] saiu da prisão com o propósito de fazer sua parte por um mundo melhor e, consequentemente, foi capa da Time, não o contrário.

Você já disse que recebeu vários depoimentos emocionantes e que fizeram compreender que o seu projeto valia a pena. Cite pelo menos um que você acredita ser inesquecível.

Muitos. Não só depoimentos, mas também presentes inesquecíveis, daqueles que parece que a pessoa preparou com tanto amor, mas tanto amor, que veio uma parte do coração dela junto! Desses. Mas o que mais me emociona é quando, por meio de um comentário bom ou até ruim, a mensagem de que temos que melhorar como seres humanos e tratar melhor os animais chega para as pessoas. Certa vez, uma adolescente compartilhou uma tirinha da cachorra Carol e escreveu: “O desenho é meio tosco, mas o que importa é respeitar os animais, galera” [risos]. Morri de rir. Ela falou mal do meu trabalho, mas e daí? Se ela entendeu que é para respeitar os bichos, para mim, já está valendo [risos]. Porque o objetivo é exatamente esse.

O que lhe move para continuar a sua luta como ativista da causa animal, mesmo em dias que as coisas não saem da maneira que você gostaria?

Tem dia que dá vontade de desistir mesmo. Não só da luta, mas do mundo [risos]. Porque a quantidade de gente louca que usa a causa animal em benefício próprio não é brincadeira. Mas, aí, paro, respiro e lembro de uma conversa que tive com um especialista em defesa dos animais, em que estávamos tentando traçar alguma estratégia para ajudar o Tilikum, a maior orca em cativeiro, e ele me disse: “Sabe, Carol… Às vezes, tudo que a gente precisa para salvar um animal é de uma pessoa desequilibrada como você”. No dia, encarei como um elogio [risos] e, hoje, como um mantra. Aí, engulo o choro, levanto a cabeça e sigo em frente.


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