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Cássio Vasconcellos fala do seu ofício fotográfico

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Cássio Campos Vasconcellos iniciou sua carreira em 1980. Em 1981, frequentou cursos de fotografia na Escola Imagem-Ação, em São Paulo. Começou a trabalhar como fotojornalista na revista IstoÉ, em 1984. No ano seguinte, permanece seis meses em Nova York. Trabalha na Folha de S. Paulo em 1988 e, vai morar em Paris, onde atua como freelancer para esse jornal e para a Editora Abril, em 1989. Em 1990, faz fotografias publicitárias para a agência DPZ Propaganda. Paralelamente às atividades comerciais, desenvolve projetos experimentais nos quais realiza intervenções que descaracterizam o aspecto documental da imagem fotográfica. Em 1994, lança o livro “Cássio Vasconcellos”. “Paisagens Marinhas” (outro trabalho notório), foi realizado com fotos feitas com base em fragmentos de negativos colados com fita adesiva e fogo, além de manipulações no laboratório que dão aos trabalhos o aspecto de gravura. Recebeu o Prêmio Nacional de Fotografia, da Fundação Nacional de Arte – Funarte em 1995; Prêmio J. P. Morgan de Fotografia, 1999 e Prêmio Porto Seguro de Fotografia, 2001. Participou do evento Arte Cidade, na capital paulista, em 1994 e 2002. Ganhou o prêmio de melhor exposição do ano concedido pela APCA com a mostra “Noturnos – São Paulo”, que dá origem ao livro homônimo. Entre 2003 e 2004, viveu na Cité International des Arts [Cidade Internacional das Artes], em Paris.

No meio de tantas mídias, qual o espaço da fotografia no momento atual?

O espaço da fotografia me parece cada vez maior, mesmo com tantas outras mídias. Às vezes eu me pergunto: para que fotografamos tanto? Por que sempre queremos mais? Por que não resistimos a ficar vendo milhares de fotos novas todos os dias, mesmo que elas sejam tão repetitivas? O ser humano sempre gostou de se comunicar por imagens, é só vermos em todas as civilizações o quanto de imagem foi produzida, seja na forma de pintura, escultura, desenho, etc… mas agora com a fotografia disponível para praticamente toda a população do mundo, ela está passando por uma verdadeira explosão. Sinceramente, não sei aonde tudo isso vai dar, pois, produzimos muito mais do que podemos digerir. Todos têm em seus celulares milhares de imagens guardadas e que raramente ou nunca são revistas. Então, para que tanto? Por que não conseguimos destruir estas imagens, ficamos acumulando cada vez mais?

O que faz uma fotografia ter destaque num mundo cheio de opções e dispersões?

Uma fotografia isolada de fato é cada vez mais difícil de se sobressair nos dias de hoje, em que somos bombardeados por milhões de imagens. Acho que as séries fotográficas dão conta melhor de ter um destaque, pois, só assim é possível reconhecer um projeto mais denso, uma pesquisa, uma história, um pensamento e uma estética por trás do trabalho.

Qual fator é fundamental para que a fotografia não caia na efemeridade?

A imagem tem que ser forte em questões que ultrapassem apenas o momento e local onde foi realizada. Uma imagem que possa ser entendida por diferentes gerações e diferentes tipos de pessoas. Uma imagem que não fique presa apenas ao seu nicho de espectador. Enfim, uma imagem que não precise de explicações em qualquer que seja a época que for vista.

Como a criatividade anda em uníssono com o seu ofício?

Não tenho como prever quando grandes momentos de criatividade vão aparecer, no entanto, sei que quanto mais experiências tiver, isso vale não somente para questões ligadas à arte, mas da vida como um todo, vai alimentar o inconsciente com a principal matéria-prima para a criatividade.

Em que momento de sua carreira, sentiu que essa criatividade havia transbordado além do que imaginava inicialmente?

Acho que acontece principalmente no meio do processo criativo de cada série. O início é o mais difícil, quando sei que tem algo muito interessante para explorar, algo que me dá muita vontade de fazer, mas ainda fico tateando. Em um determinado momento parece que tudo fica claro e as ideias vão aparecendo uma atrás da outra. Mas não tem regra para isso acontecer.

Quando a fotografia exerce um papel social?

Acho que a fotografia exerce esse papel social se ela tem algo de fato diferente para mostrar, e de uma forma contundente. Tem que sensibilizar na alma o espectador, não basta mostrar algo de uma forma que ele já conheça, senão corre o risco de acontecer o contrário, o espectador ficar anestesiado e nem mais dá atenção ao que está vendo. Uma imagem para sensibilizar tem que trazer a pessoa para dentro da imagem.

Já sentiu que as suas fotografias cumpriram esse papel?

Acho difícil mensurar se meu trabalho cumpre esse papel social, até porque não é o foco do meu trabalho. Mas creio sim, que com os questionamentos que um trabalho deve conter, isso ajude na reflexão do que estamos passando e vivendo e com isso podemos ver com mais clareza o que está passando ao nosso redor.

Em “Aéreas” de 2010-2014, suas fotografias registraram a alma das cidades. Como se encontra a alma de lugares em um clique?

Pelo fato de eu ter voado muito de helicóptero nos últimos 20 anos, acabei tendo uma percepção diferente das cidades, o que eu não tinha antes destes voos. Por ser um anglo de visão completamente diferente do que estamos acostumados a ver no dia a dia, acabei retratando as cidades do alto com muito mais intimidade, diferente de quem faz um voo ocasional e não está familiarizado com um ângulo tão diferente.

O que a “alma” das cidades e das pessoas trazem em comum em uma fotografia?

É interessante notar como todas as cidades têm muito mais em comum entre elas do que podemos imaginar e reflete muito bem o que é o ser humano, que é super social, precisa viver em comunidade e quer estar cada vez mais conectado uns aos outros. As diferenças entre as cidades são visíveis em um plano mais fechado, cada qual com suas respectivas características, mas vistas de longe, do alto, creio que não diferem muito entre si.

Como acredita que conseguiu encontrar o seu modo singular de fotografar e que pode ser visto em livros, exposições e séries?

Cada série que eu faço tem seu caminho próprio, e sempre uma muito diferente da outra, é só ver as séries “Navios”, “Noturnos”, “Paisagens Marinhas”, “Coletivos”, “Viagem Pitoresca”, etc. Cada série tem uma pesquisa própria e foi desenvolvida com suas especificidades. Mas acho que tem algo que une todas estas séries: aproveitar esta linguagem tão incrível que é a fotografia e buscar explorar sempre os seus limites.

Em que momento de sua carreira o desafio do desconhecido se tornou essencial para o resultado final do seu trabalho?

Eu adoro o desconhecido e enveredar por um caminho que sei apenas onde se inicia, mas quase nunca aonde termina. E o acaso é sempre muito bem-vindo, muitas vezes ele ajuda a achar o caminho final de um ensaio.


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