Celso Orsini é graduado pela Fundação Álvares Penteado de São Paulo (FAAP). Faz referências constantes às Minas Gerais em seus trabalhos, dando ênfase a formas construtivas. Expõe no Museu de Arte Moderna de São Paulo em 1994, na mostra “Ainda a Figura”, e em 1999, na mostra “Figuras Quase Figuras”, consolidando sua trajetória artística. Em 2001 expõe seus trabalhos na Valu Oria Galeria de Arte, realizando também a primeira exposição internacional de sua obra em Madri. “Venho de um processo de procura desde o final dos anos 80, com a necessidade de trazer a questão do tempo na pintura, com lembranças da minha terra natal (Minas Gerais). Com isso todos estes anos, trato a cor e o espaço como fundamentos para meu trabalho. (…) Entre tantas surpresas gostaria de citar duas: textos críticos, escrito pela artista e doutora em arte Regina Johas nas exposições de 2009 e 2014. Na primeira ela traz a palavra “Horizontes” e junto Fernando Pessoa, que diz: “A comoção maior de pintor, o salto para o desconhecido – abismamento – começa aí. Antes, a abstrata linha. Agora, o sonho de antever as formas invisíveis da distância imprecisa, e, com sensíveis movimentos da esperança e da vontade, buscar na linha fria do horizonte, a árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte”. No segundo de Olavo Bilac: “Ora, direis, ouvir cores!”, trocando as estrelas de Bilac pelas cores da minha pintura!”, afirma o pintor.
Celso, quando a arte deve exercer um papel social?
A arte exerce um papel social o tempo todo. Ela questiona, traz novas reflexões, facilita o social, potencializa o corporativo, abre caminhos através de vivências e oficinas lúdicas, onde o desenho, a pintura, a dança, a música e o fazer servem como linguagem para exercícios de treinamento.
Você é considerado um artista insistente e resistente que não dá vez ao acaso. Alguma vez o acaso já o encontrou?
O acaso é parte do movimento de criação! Ser insistente e resistente é uma forma que se conquista ao longo da vida… é fazer acreditar na criação, no porvir, na invenção… no novo!
Questionar é a função primordial da arte ou ela vai muito, além disso?
Fazer, estar presente dentro da linguagem e do dia a dia de trabalho… Tudo isso traz questionamentos, dúvidas, angústias! Basta o artista saber lhe dar com o processo!
Tem a nítida sensação que a sua arte causa questionamentos?
Sim. Sempre há uma questão a tratar! Porém, vejo muito mais a contemplação, a forma e a cor… questões que são tratadas na minha pintura!
Como analisa o mundo das artes em nosso país?
Elitista. Vejo que os museus e as instituições são comandados por empresários, fazendo ser um mercado controlado e dirigido! Porém, jamais desisti de incorporá-la aos meios sociais, trazendo vivências e oficinas para classes menos privilegiadas, para comunidades, para professores dos CEUs, etc.
A arte sul-americana tem uma vocação construtiva. Ela lhe influenciou de algum modo?
Totalmente! Abrindo um pouco mais… arte na América e na Europa, que são os maiores centros de produtores de pintura e uma das maiores forças na dinamização do mercado de arte mundial. Tantas influências… No caso da Arte Contemporânea, com artistas consagrados como Gerhard Richter [pintor alemão. Viveu durante 16 anos debaixo do comunismo da Alemanha Oriental antes de se mudar para a Alemanha Ocidental, em 1961. 1932 – ], Richard Diebenkorn [pintor norte-americano, 1922 – 1993], Cy Twombly [artista norte-americano. Escolhia frequentemente seus temas na Antiguidade, fazendo menção a personagens, poetas ou a acontecimentos marcantes. 1928 – 2011], Sean Scully [artista irlandês, 1945 – ], Philip Guston [pintor norte-americano, 1913 – 1980], Clyfford Still [pintor norte-americano, 1904 – 1980], entre outros. No topo da lista, artistas como Picasso [Pablo Picasso, pintor, escultor, ceramista, cenógrafo, poeta e dramaturgo espanhol que passou a maior parte da sua vida na França. 1881 – 1973], Braque [Georges Braque, pintor e escultor francês, que fundou o cubismo juntamente com Pablo Picasso. Braque iniciou a sua ligação às cores na empresa de pintura decorativa de seu pai. 1882 – 1963], Mondrian [Piet Mondrian, pintor neerlandês modernista. Criou o movimento artístico neoplasticismo e colaborou com a revista De Stijl e depois com as formas da pintura concreta. 1872 – 1944] e Matisse [Henri-Émile-Benoît Matisse, artista francês, conhecido por seu uso da cor e sua arte de desenhar, fluida e original. Foi um desenhista, gravurista e escultor, mas é principalmente conhecido como um pintor. 1869 – 1954].
Sem deixar de lado os brasileiros concretos como Lygia Pape [gravadora, escultora, pintora, cineasta, professora e artista multimídia, identificada com o movimento conhecido por neoconcretismo. 1927 – 2004], Oiticica [Hélio Oiticica, pintor, escultor, artista plástico e performático de aspirações anarquistas. É considerado um dos maiores artistas da história da arte brasileira. 1937 – 1980], Mira Schendel [artista plástica suíça radicada no Brasil, hoje considerada um dos expoentes da arte contemporânea brasileira. 1919 – 1988], Volpi [Alfredo Volpi, pintor ítalo-brasileiro considerado pela crítica como um dos artistas mais importantes da segunda geração do modernismo. Uma das características de suas obras são as bandeirinhas e os casarios. 1896 – 1988], Waldemar Cordeiro [artista plástico, designer, ilustrador, paisagista, urbanista, jornalista e crítico de arte ítalo-brasileiro. 1925 – 1973] entre outros…
Você usa algo de trabalhos passados para recriar novos trabalhos ou tudo deve ser novo em sua concepção?
Evidente que todo processo de criação só funciona quando se tem repertório… o que se fez lá atrás! Portanto, talvez não seja a palavra recriar, mas sim repensar/rever. As novas criações fazem parte de um pensamento global, contudo, o que se fez entra como suporte para novos pensamentos!
Sua pintura lança muitas perguntas. Tem obtido muitas respostas?
Sim… facilita, acalma, seduz, pontua… Não sei se são respostas, mas sempre é uma vontade grande de procurar caminhos novos!
No ato da criação, você sofre para encontrar cor, textura, forma e traço daquilo que imagina ser ideal?
Venho de um processo de procura desde o final dos anos 80, com a necessidade de trazer a questão do tempo na pintura, com lembranças da minha terra natal (Minas Gerais). Com isso todos estes anos, trato a cor e o espaço como fundamentos para meu trabalho. Referências que não abro mão são os pintores como Matisse, Mondrian, Volpi e Richard Diebenkorn.
Em qual das suas exposições você foi surpreendido com uma frase ou com uma análise daquilo que justamente procurava enquanto estava criando algo?
Entre tantas surpresas gostaria de citar duas: textos críticos, escrito pela artista e doutora em arte Regina Johas nas exposições de 2009 e 2014. Na primeira ela traz a palavra “Horizontes” e junto Fernando Pessoa [poeta, filósofo, dramaturgo, ensaísta, tradutor, publicitário, astrólogo, inventor, empresário, correspondente comercial, crítico literário e comentarista político português. 1888 – 1935], que diz: “A comoção maior de pintor, o salto para o desconhecido – abismamento – começa aí. Antes, a abstrata linha. Agora, o sonho de antever as formas invisíveis da distância imprecisa, e, com sensíveis movimentos da esperança e da vontade, buscar na linha fria do horizonte, a árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte”. No segundo de Olavo Bilac [jornalista, contista, cronista e poeta brasileiro do período literário parnasiano, membro fundador da Academia Brasileira de Letras. Criou a cadeira 15 da instituição, cujo patrono é Gonçalves Dias. 1865 – 1918]: “Ora, direis, ouvir cores!”, trocando as estrelas de Bilac pelas cores da minha pintura!
Suas obras fazem constantes referências às Minas Gerais. O que Minas representa para você e que nunca se perderá?
O tempo! Essa reposição constante de peles, esse tempo que muda a cada segundo trazendo sempre coisas novas para nossas vidas! A pintura e as paredes desgastadas pelo tempo… “A Pintura e o Tempo”, texto escrito pelo crítico Agnaldo Farias na exposição de 1998 na Valu Oria Galeria em São Paulo.
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