Publicitário graduado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing e jornalista pela Fundação Cásper Líbero, Celso Sabadin especializou-se em jornalismo cinematográfico a partir de 1979. Foi crítico de cinema em diversos veículos, entre eles Folha da Tarde, Jornal do Vídeo, cadernos de vídeo dos jornais O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo, além das revistas Cláudia, Vídeo Mercado, Vídeo Business, Íris Foto, Vídeo News, Classe News e Ver Vídeo. Produziu e apresentou programas sobre trilhas sonoras de cinema nas rádios USP, Brasil 2000 e 89FM. De 1989 a 2001, foi apresentador, roteirista e crítico de cinema na Rede Bandeirantes, atuando tanto na Rádio e na TV Bandeirantes, e nos canais Band News e Canal 21. Cobre Festivais nacionais e internacionais de Cinema desde 1990. É autor dos livros “Vocês Ainda Não Ouviram Nada – A Barulhenta História do Cinema Mudo” (atualmente na 3.ª edição, pela Summus Editorial) e “Éramos Apenas Paulistas”, pela Imprensa Oficial do Estado. “Hoje, é muito menor do que era antes. Hoje, a mídia é muito mais massificante, a informação rápida e concisa domina os corações e mentes, enquanto que a opinião mais longa e elaborada impacta pouca gente. Hoje, o poder do crítico é maior em filmes ditos “menores”, autorais, que estreiam em poucas salas. (…) São poucos os críticos que conseguem viver exclusivamente da Crítica”, afirma o crítico.
Celso, como foi o seu começo, já que você quis ser crítico para unir suas duas paixões que são o cinema e o jornalismo.
Bom, acho que não foi nada muito planejado. Eu sempre gostei muito de Comunicações, Cinema, Jornalismo, TV, etc., mas na época em que eu fui prestar vestibular, anos 70, fazer cinema no Brasil era um sonho que poucos conseguiam. Tudo muito caro, muito difícil, equipamentos enormes, películas caríssimas… Era preciso ter uma estrutura por trás, que eu, garoto de classe média paulistana, nem sonhava ter. Também eram raríssimos os cursos de cinema naquela época.
Acabei então prestando vestibular para Propaganda, que eu também curtia. Fiz ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), trabalhei muito com propaganda, cheguei a abrir minha própria agência, e aprendi muito. Paralelamente, como uma espécie de hobby, comecei a escrever críticas de cinema. Quando terminei a ESPM, por mais que eu curtisse a Propaganda, a crítica cinematográfica começou a falar cada vez mais alto dentro de mim. Era uma paixão incontrolável ver cada vez mais filmes, pesquisar sobre eles e escrever. Decidi então fazer uma segunda faculdade, e fiz Jornalismo na Cásper Líbero. A esta altura do campeonato, o Jornalismo e a Crítica estavam muito mais fortes, muito mais presentes em mim, e eu decidi abandonar a Propaganda para me dedicar totalmente à Crítica. Não me arrependo. Peguei meus textos, coloquei debaixo do braço, fui batendo de porta em porta, até que eu consegui meu primeiro emprego profissional como crítico de cinema na extinta Folha da Tarde, aqui em São Paulo. Não parei mais.
Críticos dizem que quando assistem a um filme, separam o espectador do crítico. Por que você acredita que isso é impossível?
Porque crítico de cinema também é gente. Às vezes não parece, mais é [risos]. Claro que a gente analisa um filme sob critérios profissionais, mas nosso repertório está lá, nossa bagagem humana está lá, nossos amores, humores e sentimentos estão todos lá, dentro do crítico. A crítica é uma matéria assinada, portanto, subjetiva, passível de erro e humana. Uma crítica não pode ser totalmente técnica.
Você disse certa vez, que se o filme não emocionar, não adianta nada ele ser tecnicamente perfeito. Que filme lhe marcou conseguindo unir emoção e técnica de uma forma que ainda não foi superada?
Não consigo responder a essa pergunta. Não consigo escolher meus filmes preferidos, meus “melhores”. Não estou fugindo da pergunta, não… Simplesmente não consigo. Além da quantidade de filmes vistos ser muito grande, a gente vai mudando com os filmes e os filmes vão mudando com a gente. Nossas emoções, gostos e sensações não são os mesmos com o passar do tempo, fazendo com que a experiência de se ver filmes seja algo mutante, flutuante com o tempo, o espaço, as disposições e humores. Eu diria que há filmes diferentes para ocasiões diferentes, e que eleger alguns como melhores ou mais importantes é uma tarefa que supera minha capacidade.
Qual o real poder do crítico de cinema?
Hoje, é muito menor do que era antes. Hoje, a mídia é muito mais massificante, a informação rápida e concisa domina os corações e mentes, enquanto que a opinião mais longa e elaborada impacta pouca gente. Hoje, o poder do crítico é maior em filmes ditos “menores”, autorais, que estreiam em poucas salas. Estes filmes são vistos por um número menor de pessoas que se dispõem, sim, a ler as críticas antes de escolher o que vai assistir. Já em relação aos grandes blockbusters (filmes populares com elevado sucesso financeiro), o poder da crítica é bem menor: a divulgação é tão intensa que as pessoas vão correr para assisti-los, independente da opinião da crítica.
Em 2011, você afirmou que a crítica de cinema era mais um hobby do que propriamente um mercado. Isso interfere de que forma na qualidade da crítica que se faz no Brasil?
São poucos os críticos que conseguem viver exclusivamente da Crítica. Isto infelizmente tira do crítico seu tempo de estudo e de pesquisa, o que é importantíssimo para um bom desenvolvimento da profissão. O resultado é uma crítica mais superficial, feita mais às pressas, não por “culpa” do crítico, mas por uma imposição de mercado. Que bom seria se os vários veículos pudessem, por exemplo, remunerar satisfatoriamente uma boa equipe de críticos, para que pudesse haver mais troca, mais conteúdo, mais discussão de ideias. Isso não acontece quase nunca na nossa imprensa.
Alguns cineastas brasileiros, afirmam que o cinema argentino hoje é superior ao nosso. Enxerga essa afirmação da mesma forma?
Não necessariamente. Sabe aquela frase “Quem vê as pingas que eu tomo não vê os tombos que eu levo?”. No cinema é a mesma coisa: a Argentina também faz muita coisa ruim, mas que a gente não vê, porque são filmes que não chegam até nós. Aliás, o mundo inteiro faz muitos filmes péssimos, que a gente não vê porque não chegam até nós. Já o filme brasileiro, nós, os críticos, vemos “sem filtros”. Tentamos ver todos, e é claro que entre estes “todos” há coisas excelentes e péssimas, como há no cinema de todo o mundo. Mas os “tombos” de todo o mundo, Argentina, inclusive, a gente não vê, não conhece. Só as “pingas”. Por isso fica esta impressão, que é falsa.
É possível fazer uma revista sobre cinema que dê certo e faça sucesso como a lendária francesa Cahiers du Cinéma aqui no Brasil?
Não, não acredito. Os custos são altíssimos e o mercado brasileiro de gente interessada em cinema é muito pequeno, muito restrito.
Temos uma população de 200 milhões de pessoas, mas em 2013, “apenas” 27,5 milhões foram ao cinema. Você que é um observador e um realizador, acredita que esse número poderia aumentar ou já está alto pelo poder socioeconômico e cultural da nossa população?
É um número muito baixo. Nem sei se este número de 27,5 milhões é correto. Acho até que é menos gente. De qualquer maneira, vamos estimar que 10% dos brasileiros tenham o hábito de ir ao cinema. E os outros 90%, cadê? Estão aprisionados, de todas as maneiras. Aprisionados em cidades que não têm salas de cinema (apenas 8% dos municípios brasileiros têm sala de cinema, segundo o IBGE); aprisionados por um sistema de ensino e de cultura que desde o Golpe de 64 faz questão de formar uma população alienada e não-pensante; aprisionados por uma lei envelhecida que distribui concessões de TVs a grupos e pessoas sem a menor capacidade de tê-los, contribuindo ainda mais para a falta de cultura audiovisual da população; aprisionados por uma ganância empresarial que desde o final dos anos 90 vem tornando o ingresso de cinema no Brasil cada vez mais caro. Há muito o que libertar para que este número cresça, e cresça muito. Potencial existe, mas não sei se existe vontade política.
Entrevistamos alguns cineastas e eles são unânimes em dizer que falta uma indústria cinematográfica em nosso país para que o cinema alcance cada vez mais pessoas. Pensa da mesma forma?
Sim. Mas não há indústria que sobreviva a um mercado interno fraco, pequeno. E aí a gente volta para a pergunta anterior.
Como foi estar atrás das câmeras no documentário “Mazzaropi”, figura que de certa forma inovou a produção e a distribuição de filmes no Brasil?
Foi sensacional. Eu não sabia que ia gostar tanto. Estou inclusive agitando novos projetos para tentar fazer novos documentários.
O crítico Celso gostou de ver o filme do realizador Celso?
Sim, gostou… [Risos.] Claro que hoje eu faria várias coisas diferentes, mas de uma forma geral gostou sim…. com ressalvas… [Risos.]
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