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Cenografia é fotografia para Felipe Morozini

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Reconhecido por seus trabalhos como fotógrafo e artista plástico, Felipe Morozini é um bacharel em Direito que há anos trocou a toga pela máquina fotográfica. Além de seu trabalho artístico, também desenvolve fotografias para revistas e catálogos de moda. A cenografia é outro campo de atuação para esse artista que não sabia que era artista porque não acredita que existam não-artistas. Para Felipe a arte está nos gestos mais banais, principalmente na vida comum emoldurada pelas janelas que se debruçam sobre as paisagens da cidade de São Paulo. Criado no bairro do Tatuapé, na zona leste da capital paulista, há 17 anos o artista decidiu morar no apartamento da avó, bem em frente ao famigerado Minhocão. Da janela de sua casa, fotografou milhares de cenas do cotidiano da região. “Eu nasci ativista. Ele veio antes de todos. Desde pequeno, segundo minha mãe, eu sempre questionava e era bem crítico em relação as várias questões sociais e estéticas. Fui fazer Direito por isso. Eu achava que poderia ser presidente da República e resolver todos os problemas do mundo. Creio que a função da arte é de ser um escape, que não faz sentido algum. (…) Acredito que existam várias formas de você enxergar a arte. Existe a que nasce de dentro para fora do artista e outra de fora pra dentro, e é isso que vai dimensionar e categorizar uma obra”, afirma o multiartista apaixonado por São Paulo.

Felipe, em que momento o advogado tornou-se artista, ou melhor, em que momento o artista que você sempre foi deixou de ser advogado?

No momento que percebi que talvez eu fizesse mais justiça através das minhas fotografias e de meus pensamentos. Por não existir regras, o ambiente fotográfico me seduziu de todas as maneiras.

O que lhe impressionou na imagem em um primeiro momento que a fez tornar a sua grande paixão?

Foi quando percebi que eu poderia contar histórias através de minhas imagens. Uma forma quase imediata de falar sem usar palavras.

A arte deve ter um papel social, ou acredita na visão da artista experimental Laurie Anderson que diz que o mundo muda sozinha, não precisando da arte para mudar?

Acredito que existam várias formas de você enxergar a arte. Existe a que nasce de dentro para fora do artista e outra de fora pra dentro, e é isso que vai dimensionar e categorizar uma obra. Creio que a função da arte é de ser um escape, que não faz sentido algum. Por isso faz bem.

Em uma certa ocasião, você afirmou que o brasileiro é um povo escolhido para viver em uma situação não confortável. Em que momentos de sua vida, sentiu essa sensação de desconforto?

Sinto até hoje essa sensação. Desde o descaso e falta de apoio por parte de nossos governantes até a falta de segurança no espaço público.

Nos seus trabalhos você sempre preza a coletividade, já que disse que se você crescer sozinho vai ficar um monte de gente para trás. Trazer essa consciência para um debate mais amplo é difícil em que situações?

É difícil quando encontramos no caminho pessoas que ainda não entenderam esse novo mundo, menos individualista e menos egocêntrico.

A poesia, é o fator mais importante de uma cenografia?

Enxergo a cenografia como uma fotografia. Enquadro ela dentro da minha cabeça. E tiro uma foto na memória. E se eu faço poesia através da minha fotografia, então continuarei fazendo na cenografia. Na verdade, eu não faço distinções hoje em dia. Tudo eu vejo como uma manifestação artística. Seja numa galeria de arte, num festival de música ou num hotel em Florianópolis.

Você é cenógrafo, fotógrafo e designer. Quando o ativista entrou em ação?

Nasci ativista. Ele veio antes de todos. Desde pequeno, segundo minha mãe, eu sempre questionava e era bem crítico em relação as várias questões sociais e estéticas. Fui fazer Direito por isso. Eu achava que poderia ser presidente da República e resolver todos os problemas do mundo. Jovens… Ah os jovens…

Quando a ideia de transformar o Elevado Costa e Silva em uma área de lazer, se tornou mais patente em você?

Depois que eu voltei de uma viagem a Europa e vi vários exemplos de ocupação espontânea do espaço público. A relação das pessoas com suas cidades com um olhar antropológico.

A possibilidade do impossível é o que lhe fascina em São Paulo, como disse em novembro de 2015. Já encontrou essa possibilidade do impossível em outros lugares que já visitou?

Sim, na Ilha de Boipeba, Bahia. Quando cheguei lá há uns 4 anos e visualizei, quase que um sonho, a Bienal de LandArt de Boipeba. Pela grandiosidade da Natureza, pela possibilidade de fazer algo que nunca foi feito. Misturar arte e Natureza – meus temas preferidos.

Alguns consideram a sua arte moderna e sensível. Como enxerga a sua arte?

Eu não tenho real consciência do que faço e talvez, se tivesse, eu não faria. Mas sei e sou consciente do poder de diálogo que meu trabalho tem. E é exatamente isso que me faz continuar. O diálogo com o outro…

No artista o corpo espiritual parece se manifestar de uma maneira mais efetiva. Em alguma ocasião, essa manifestação já ocorreu com você?

Trabalho minha espiritualidade de uma forma orgânica e livre. Ela deve ser visceral e autêntica. Sem pretensão de ser nada, apenas existir. E como manifestação espiritual, deve permanecer no campo do efêmero e do não palpável.


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