O nome Chico Picadinho ainda ecoa como um dos maiores símbolos da barbárie e do sensacionalismo midiático no Brasil. Entre os anos 1970 e 1990, o ex-lavrador e assassino confesso Francisco Costa Rocha, apelidado de Chico Picadinho, ganhou infâmia após cometer dois crimes brutais que envolveram o desmembramento das vítimas. Seus atos macabros não apenas chocaram a opinião pública, mas também alimentaram uma era do jornalismo que transformava o grotesco em espetáculo. O extinto jornal “Notícias Populares”, com suas capas repletas de imagens dantescas e manchetes escandalosas, foi um dos principais catalisadores dessa transformação.
Entre outros casos notórios cobertos pelo “NP”, como o desastre do Edifício Joelma, o Massacre do Carandiru e as mortes dos Mamonas Assassinas, a história de Chico Picadinho ocupa um lugar especial. Ele foi convertido em uma figura mítica do submundo pela publicação. Com manchetes que misturavam terror e humor ácido, o jornal transformou um homicida cruel em uma espécie de anti-herói pop.
Esta reportagem não busca apenas resgatar os crimes e a trajetória de Chico Picadinho, mas também analisar o papel do “Notícias Populares” na construção de sua imagem. O NP não apenas reportava, mas espetacularizava o horror, disseminando fotografias e descrições de cenas de crimes que extrapolavam os limites do bom senso. Sua cobertura não se limitou a informar, mas a moldar a percepção pública sobre criminalidade e morbidez.
Entre críticas à ética jornalística, a análise do fenômeno do consumo de notícias violentas e a observação da transformação de criminosos em personagens, este artigo se debruça sobre um dos mais polêmicos casos da mídia brasileira. Chico Picadinho, que hoje, em 2024, ainda está encarcerado, permanece um reflexo de como a violência é tratada e explorada como mercadoria midiática.
A cobertura inicial dos crimes de Chico Picadinho pelo “Notícias Populares” foi crucial para sua transformação em uma figura midiática. O jornal não economizou em detalhes gráficos para descrever o horror dos assassinatos de Margareth Suida, em 1966, e Neuza da Silva, em 1976. Além das descrições, manchetes como “Chico Picadinho: O homem que fez do horror um ritual” garantiram que seu nome fosse sinônimo de maldade extrema.
A abordagem sensacionalista ajudou a moldar a percepção do público, criando uma narrativa que ia além da realidade dos crimes. Combinando ficção e fatos, o jornal perpetuava o medo e a curiosidade, enquanto alimentava a ideia de que o assassino era um tipo de vilão cinematográfico. Essa imagem, perpetuada por décadas, garantiu que Chico Picadinho permanecesse na memória coletiva como um dos personagens mais grotescos do Brasil.
Durante os anos de maior popularidade do “Notícias Populares”, a ética jornalística era uma questão secundária. Fotos de corpos mutilados, detalhes escabrosos de cenas de crimes e manchetes ultrajantes eram a marca registrada do jornal. No caso de Chico Picadinho, imagens das vítimas e reconstituições foram publicadas sem pudor.
Essa era do jornalismo sensacionalista não apenas chocava, mas também alimentava um voyeurismo coletivo. O público comprava o jornal para consumir o horror como entretenimento. Chico Picadinho tornou-se um dos “superstars” dessa dinâmica, ganhando notoriedade que extrapolava as páginas policiais.
O “Notícias Populares” sempre flertou com o limite entre o jornalismo e o entretenimento. O caso de Chico Picadinho foi um exemplo claro de como o jornal extrapolava suas funções. Manchetes como “O monstro da serra elétrica” não apenas reportavam, mas dramatizavam.
Além das capas impactantes, o jornal publicava entrevistas e perfis que buscavam humanizar Chico Picadinho enquanto o mantinham como uma figura macabra. Essa dualidade – entre o homem e o mito – era explorada de forma a maximizar o impacto e as vendas.
A cobertura do “NP” moldou a forma como o público via não apenas Chico Picadinho, mas também o próprio sistema de justiça. Ele foi visto como um exemplo de falha do Estado em proteger a sociedade. A repetição incessante de sua história criou um senso de pânico moral que ultrapassou os limites dos crimes individuais.
No entanto, o impacto também foi comercial. As vendas do jornal aumentaram significativamente durante os picos de cobertura, mostrando como o interesse pelo grotesco era explorado em benefício do lucro.
Com o encerramento das atividades do “Notícias Populares” em 2001, o fenômeno Chico Picadinho perdeu parte de sua força midiática. No entanto, sua imagem como uma figura de horror sobreviveu em livros, documentários e redes sociais.
Hoje, Chico Picadinho é lembrado tanto como um exemplo da crueldade humana quanto como símbolo de um jornalismo que explorava o horror sem remorso. O legado do “NP” e de sua cobertura ainda gera debates sobre os limites da ética na mídia.
Casos como o de Chico Picadinho abriram caminho para a normalização da exposição de crimes brutais na mídia. O consumo de notícias violentas tornou-se um entretenimento de massa, influenciando outras publicações e plataformas.
Em tempos de redes sociais e internet banda larga, o que o “Notícias Populares” fazia em suas páginas é reproduzido em escala global, com imagens de crimes sendo compartilhadas instantaneamente. Chico Picadinho, portanto, é um marco na história dessa morbidez midiática.
O fenômeno Chico Picadinho e o “Notícias Populares” levantam questões importantes sobre os limites entre jornalismo e exploração do horror. Enquanto o jornalismo deve informar, ele também carrega a responsabilidade de respeitar a dignidade das vítimas e do público.
Chico Picadinho permanece uma figura central em discussões sobre ética e sensacionalismo. Seu caso mostra como a mídia pode moldar narrativas e perpetuar mitos, enquanto explora os limites do aceitável em nome do lucro e da audiência.
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