A empreendedora Cintia Virginio, 37 anos, começou trabalhando na área de trading aos 18 anos, antes mesmo de fazer faculdade, identificou-se com o ramo e buscou uma formação para se especializar no tema. Após trabalhar em uma empresa de trading no centro de São Paulo, ela resolveu abrir um negócio e realizar o sonho da maioria dos brasileiros, o de ser o seu próprio patrão. Em 2009 com investimento inicial de R$ 10 mil para o aluguel de um escritório e 01 computador, assim nasceu a Zeit Trading. Quebrando vários paradigmas do setor de trading, que na maioria das empresas é comandada por homens, Cintia Virginio tem como foco trabalhar com novos clientes no exterior e está sempre em busca de pequenos produtores no Brasil. Este ano a empresa está com o objetivo em fortalecer o conceito ‘ONE STOP SHOP’ no mercado de prestação de serviços da área de Comércio Exterior (tendência de mercado ainda pouco difundida no Brasil e que possibilita ao cliente produtor/fabricante a contratação de um único facilitador com Know-how abrangente e capaz de gerir suas experiências no Comércio Exterior). A Zeit Trading realiza a importação e exportação de produtos para qualquer parte do mundo, tanto para pessoa física quanto jurídica. “Nosso diferencial é que não vamos atrás de pessoas estabelecidas, mas pequenos e médios produtores”, diz a empreendedora.
Cintia, como se deu o começo de sua carreira?
Comecei aos 18 anos em uma empresa essencialmente importadora de componentes eletrônicos. Na ocasião, tive que aprender os procedimentos de importação para assumir as atividades da empresa, regularizá-la perante a Receita Federal e iniciar as respectivas padronizações necessárias à prática da importação. Gostei tanto da área que optei por me aprofundar com cursos, graduação e pós-graduação, e assim tudo culminou para a abertura da Zeit em 2009.
Por que a área de trading chamou a sua atenção?
Sou uma pessoa muito agitada e pouco fã de rotinas. A área de comércio exterior proporciona um dinamismo único e uma maior abrangência de conhecimentos, você passa a aprender um pouquinho de cada assunto, e acaba sabendo de tudo um pouco.
Como você avalia a área de trading em nosso país?
Pouco ou nada explorada. O que é explorado, é feito de forma errada. Se você se apresenta como uma trading para um cliente, já é visto com maus olhos, as pessoas entendem por trading uma empresa que lava dinheiro, ou que se utiliza de seu movimento junto ao exterior para negócios escusos, quando, na verdade, uma trading nada mais é que uma empresa que aproxima compradores e vendedores, e que por meio de sua atividade e conhecimento, torna as negociações mais estáveis, para ambos os lados. Eu ainda sou da opinião que todo processo de importação e exportação deveria ser feito por meio de uma trading obrigatoriamente, visando regular os procedimentos, aumentar a eficácia da balança comercial, tirando do processo pessoas de caráter duvidoso ou cujo conhecimento para a correta atuação na área é limitado e acaba por prejudicar o fluxo do mesmo.
Um dos paradigmas que você quebrou, foi de ser uma mulher no comando de uma empresa neste setor. Como foi o seu impacto inicial num setor que é comandado por homens?
O ambiente aduaneiro já é, por si só, machista. Fora o ambiente aduaneiro, existem as operações negociais, as reuniões comerciais, as reuniões de estratégia logística, todas também dominadas pelos homens. Sou uma mulher, de estatura baixa, de expressão até bastante jovial e de pouca idade para atuar nesta área como fazemos hoje, mas com alguma experiência. Muitas vezes as pessoas duvidam num primeiro momento de que você é capaz porque te julgam pelo que parece ser. Somente após algum trabalho juntos com troca de conhecimentos, você passa a ser respeitado pelo que sabe, pelo que já vivenciou, pelas experiências boas e ruins, pelos conhecimentos adquiridos ao longo dos anos. E ser uma mulher faz com que você tenha que se provar pelo menos 2 vezes mais em termos de conhecimento e atitude. Mas é algo factível, o fato de sermos mulheres nos colocam em vantagem em relação aos homens, pois, somos mais objetivas, persistentes, flexíveis e intuitivas, a meu ver. Se usamos estas armas em favor próprio, a tendência é que um ambiente hostil ao sexo feminino torne-se favorável rapidamente.
Quais as maiores dificuldades que você destacaria para um operador deste setor?
Infelizmente nesta área somos obrigados a esperar uma performance quase que inexistente de servidores públicos e aeroportuários. É bem verdade que a privatização trouxe certas melhorias em termos de eficiência do setor logístico, mas longe ainda do que precisamos. Então na maioria das vezes ocorre de sua empresa ter uma performance absolutamente impecável em termos operacionais e esbarrar numa greve fiscal, por exemplo. Ou na completa falta de proatividade dos operadores em termos de resultado, seja porque não querem, seja porque não precisam aferir nenhum objetivo dentro de sua área de atuação. Este é o grande entrave, a meu ver, deste setor: nós, operadores privados, somos cobrados por apresentar uma atuação quase que inequívoca, todavia esbarramos na máquina entravada governamental, no servidorismo público de baixa performance, o que muitas vezes nos leva a ter que inclusive retomar um trabalho comercial feito inicialmente, seja por insatisfação dos clientes, seja para fazê-lo entender que foi feito tudo o que estava ao nosso alcance, e o que deu errado por ventura, infelizmente, está além de nossas mãos resolver.
Fale um pouco sobre a formação da Zeit Trading.
A Zeit foi formada por 3 pessoas da área de Agenciamento de Cargas e eu, da área de trading, em 2009 e com a finalidade de atender o mercado de brindes importados inicialmente. Posteriormente identificamos um déficit gigantesco na área logística das empresas importadoras e exportadoras e passamos à prestação de serviços por conta e ordem de terceiros, o que nos levou num terceiro momento ao foco na área de exportação, em decorrência da crise apontada no mercado brasileiro a partir de 2015. Com o trabalho de trading passamos a exportar mais que importar, e a prestação de serviços escalou um degrau rumo à Representação Comercial de empresas brasileiras no exterior, permitindo o aumento do leque nos serviços prestados pela empresa.
Qual o maior diferencial da Zeit Trading em relação a outras empresas que operam no país neste ramo de atividade?
Sempre optamos por atender o pequeno e o médio produtor/fabricante, não importava se o valor seria pequeno ou grande. Isto fez com que o nosso nome se tornasse referência no mercado como uma empresa que visa atender desde a pessoa física até o grande exportador de maneira igual, dando toda a estrutura necessária para a conclusão do trabalho. Creio que esta atenção com as empresas, ou mesmo com as pessoas físicas fez com que construíssemos um diferencial quase que sem concorrência, e daí para o aumento da participação da Zeit em mercados mais concorridos foi um pulo.
Falando no aspecto burocrático, como o Governo facilitaria a atuação dos tradings em nosso país?
Sou da opinião que as pessoas devem se especializar naquilo que vão produzir, e pensando desta forma, entendo que processos de importação e exportação deveriam ser autorizados apenas por meio de tradings, empresas tributariamente construídas para resultar num melhor aproveitamento de custos pelo importador/exportador final. Creio que se o Governo realmente ajudasse empresas como a Zeit a promover os produtos brasileiros no exterior, desse o real apoio que se diz dar, teríamos bastante chances de tirar o mercado nacional da situação em que se encontra. E se as tradings fossem essenciais ao processo de importação e exportação do ponto de vista burocrático, a tendência seria uma maior profissionalização do setor, e consequentemente melhora nos resultados.
Como se encontra no momento o grupo Zeit que tem em seu guarda-chuva a Zeit Trading?
O Grupo Zeit conta hoje com Freight Forwarder, Despacho Aduaneiro, Transporte Nacional e os procedimentos de importação e exportação por conta e ordem de terceiros totalmente inside, conceito que desenvolvemos sob os termos do “ONE STOP SHOP”, ou seja, todos os serviços em um único local. O Grupo é constituído de 4 empresas: Zeit Trading, Se7eComex, XDel Despachos e Iah Cosméticos. Crescemos pouco mais de 30% no último ano, um ano de crise para a maioria das empresas da área. Há dois anos éramos apenas 3 pessoas, hoje somos 17. Temos boas perspectivas para o segundo semestre de 2017 e 2018.
A instabilidade econômica do país, vem afetando o setor de trading em que pontos?
As pessoas estão com receio de arriscar. Estão com medo de tirar os projetos do papel. Creio que este seja o maior problema atual no setor, as pessoas encontram-se desconfiadas do mercado, e isso afeta diretamente o comércio exterior.
Além de dobrar o faturamento, quais os outros planos que a sua empresa tem para este ano?
Estamos abrindo 2 novos escritórios próprios para a área de representação comercial no exterior. Nossa expectativa é iniciar o processo de trading em si já no segundo semestre, com embarques semanais e consolidados de importação e exportação a partir do final do ano de 2017.
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