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Competência à frente da Escola do Mecânico

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Sandra Nalli é fundadora e CEO da Escola do Mecânico, edtech de impacto social e geração de renda, que forma mecânicos, homens e mulheres, para trabalharem no setor de reparação automotiva. Aos 14 anos, dirigia o fusca vermelho do pai e, com essa idade, começou a trabalhar na área de reparação automotiva como jovem aprendiz, em uma grande rede do país. O primeiro contato com a mecânica foi o suficiente para se apaixonar, e nunca mais saiu. Sofreu muito preconceito nessa jornada até aqui, principalmente quando pediu para gerenciar a oficina da empresa que trabalhava e a resposta foi não. Depois, se colocou à disposição para estudar e aprender a fazer manutenção dos carros. Fez cursos, se especializou na área e, mesmo assim, ouvia frases do tipo dos clientes “Não tem um homem para vistoriar o meu carro?”, “Mas, você tem habilitação”. Resiliente, ela respondia que sim, mas exigiam sempre que um homem da equipe estivesse com ela na vistoria. Nunca desistiu, até que conseguiu a oportunidade. A ideia de empreender começou como um projeto social na Fundação Casa, onde era voluntariada. Ela percebeu que podia formar alguns detentos que tinham vocação para esse tipo de trabalho. Ela viveu o dilema de, já naquela época, ter dificuldade para encontrar e recrutar bons mecânicos. Então viu que podia ela mesma formar essas pessoas, empregá-las e regenerá-las. O impacto social sempre esteve presente.

Sandra, qual foi o momento mais desafiador que você enfrentou ao longo da sua trajetória na área de reparação automotiva?

Um dos momentos mais desafiadores, foram quando eu comecei a ocupar o cargo de mecânica, tive que lidar com o preconceito, por parte do cliente, pois, naquela época praticamente não existiam mulheres atuando como mecânica automotiva. No início da minha jornada como empreendedora, eu também enfrentei grandes desafios, pois, além do preconceito por ser mulher, eu não tinha recurso suficiente para o capital de giro, então fiz um empréstimo com o meu pai para conseguir manter a empresa aberta.

Por que você decidiu fundar a Escola do Mecânico e qual foi o papel do projeto social na Fundação Casa nessa decisão?

Em 2011 comecei a dar aulas na Fundação Casa de forma voluntária, sem nenhuma pretensão de empreender, era um projeto social, onde de forma muito precária eu comecei a levar conteúdo de mecânica para os jovens internos, percebi que existia brilho nos olhos de alguns meninos, em um determinado momento decidi alugar uma sala no centro da cidade de Campinas e mandei grafitar na parede “Escola do Mecânico”, para a minha surpresa começaram a aparecer pessoas que queriam comprar o curso, pensei: “poxa isso pode ser um negócio”. Procurei o SEBRAE e fiz meu primeiro plano de negócios, foi quando eu me dei conta de que era possível empreender, formalizei a empresa com ajuda do SEBRAE, separei as minhas economias, captei recurso com o meu pai e a partir daí nasceu a Escola do Mecânico.

Quais são as principais dificuldades que as mulheres enfrentam ao ingressar e se destacar no setor de reparação automotiva?

Preconceito por parte do mercado como um todo, embora estejamos em constante evolução ainda é um segmento predominantemente masculino, outro ponto que dificulta a entrada das mulheres nesse mercado, é a falta de aderência das oficinas mecânicas na contração de mulheres e a falta de apoio das famílias para elas seguirem nessa profissão.

Por que você acredita que ainda existem tantos estereótipos de gênero associados a profissões como a de mecânico?

Na minha opinião é em função do modelo cultural da nossa sociedade. Ao longo dos anos tentamos fazer alguns movimentos que vem colaborando para mudança cultural, embora saibamos que isso acontece a passos lentos, mas também acredito que a forma em que estamos educando as nossas crianças de hoje, ser a tendência para uma mudança cultural para as próximas gerações.

Quais foram os maiores obstáculos que você teve que superar para construir um negócio bem-sucedido na área de educação e geração de renda?

Empreender no Brasil não é uma tarefa fácil, não temos incentivo de crédito para iniciar um negócio, as altas taxas juros e os tributos altos, são gargalos consideráveis no processo de empreender e tornar uma empresa bem-sucedida. Quando falamos de um negócio de impacto social, que no nosso caso procura a geração de renda por meio da capacitação, os desafios são maiores, pois, é preciso equilibrar lucro e impacto social, pois, nossos objetivos vão além dos lucros.

Como você lida com o preconceito e os comentários discriminatórios que pode enfrentar por ser mulher nesse campo predominantemente masculino?

Não existe nada que resista à clareza no propósito e nos objetivos, eu sei exatamente qual é o meu legado e o que eu quero para a Escola do Mecânico, então qualquer comentário discriminatório eu utilizo como combustível para continuar nessa jornada pela geração de renda através da educação. Meu papel é sempre utilizar das dificuldades para empoderar outras mulheres.

Quais são as principais iniciativas que a Escola do Mecânico adota para promover a igualdade de gênero e combater o preconceito no setor automotivo?

Criamos a maior comunidade de mulheres mecânicas do setor, um movimento para impulsionar outras mulheres. Aumento de alunas matriculadas. Projetos sociais em parceria com algumas indústrias exclusivo para capacitação de grupos de mulheres como, por exemplo, Fundação Toyota, Fórmula 1, etc. Contratação de instrutoras mulheres.

Por que é importante incentivar e capacitar mulheres interessadas em se tornar mecânicas ou trabalhar na área de reparação automotiva?

Primeiro pensando em igualdade de gênero, isso é a base para uma sociedade igualitária, justa e economicamente ativa. Existe um contrassenso, há disponibilidade de muitas vagas de emprego para o segmento de reparação automotiva e, por outro lado, existe um alto índice de desemprego no nosso país. Uma das formas de reduzirmos qualquer tipo de abuso contra as mulheres em vulnerabilidade social é empoderamento por meio de uma profissão que gere renda.

Quais são os principais impactos sociais que a Escola do Mecânico busca gerar por meio da formação de mecânicos, tanto homens quanto mulheres?

Nossa razão de existir é em prol da geração de renda, vender um curso de mecânica qualquer um pode vender, preocupar-se genuinamente com sucesso e empregabilidade do cliente é bem diferente de vender curso. Nosso projeto foi criado para causar a transformação de vida dos nossos alunos por meio de um emprego ou por meio do empreendedorismo no segmento. Nossa meta até o final de 2023 é gerar mais de 3 mil empregos diretos via o app Emprega Mecânico.

Como você vê o futuro do setor de reparação automotiva em termos de igualdade de gênero e inclusão?

Com as pautas de ESG que vem sendo discutidas nas companhias do setor automotivo, percebo uma movimentação significativa para o segmento voltada para a igualdade de gênero. Acredito que nos próximos 10 anos o setor passará por uma grande modificação nesse sentido. Na Escola do Mecânico, por exemplo, vem crescendo o total de alunas matriculadas, até 2014 não tínhamos mulheres cursando e, no ano de 2023, elas correspondem a 10% do total de alunos matriculados.

Quais são os seus planos e objetivos para o crescimento e desenvolvimento da Escola do Mecânico nos próximos anos?

Nosso objetivo é expandir em números de unidades, ampliando a nossa atuação em regiões com escassez de mão de obra para o setor. Ser a solução de mão de obra para o segmento via app do Emprega Mecânico. Fomentar o crescimento do Instituto Escola do Mecânico com objetivo social, cumprindo a pauta do ESG. Além disso, ampliar a participação de mercado no segmento B2B capacitação customizada para empresas do segmento. Expansão da Escola do Funileiro, com atuação em capacitação profissional em funilaria, pintura, estética automotiva e perícia automotiva. Por fim, novas parcerias e treinamentos em ambiente de realidade virtual do Meta Mecânico Verso.


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