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Danilo Brito busca pela perfeição revigorante

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Danilo Brito começou a tocar por volta dos 5 anos por influência de seu pai, bandolinista amador. Na sua casa eram tocados diariamente os discos de Waldir Azevedo e Jacob do Bandolim. Seu primeiro instrumento foi o cavaco e, sua primeira execução, o chorinho “Delicado” de Waldir Azevedo. Em pouco tempo, também tocava músicas de Jacob do Bandolim no instrumento de seu pai. Mais tarde, optou por dedicar-se ao bandolim. Foi convidado pela primeira vez a tocar no exterior aos 19 anos, mas precisamente na Espanha, na final do torneio de regatas. A cerimônia de entrega de prêmios não encobriu a sua performance: o pavilhão ficou completamente lotado para vê-lo tocar e foi longamente ovacionado. Nos EUA, sua estreia não foi diferente. Em 2009, com o apoio do Ministério da Cultura do Brasil, apresentou-se e ministrou oficinas no festival de música acústica Wintergrass. O trabalho de Brito é voltado para a pesquisa e o estudo de conjuntos, arranjos e composições. Em 2006 passou a promover eventos gratuitos de música instrumental, declarando sua intenção de popularizar o gênero e torná-lo acessível. Organizou diversas vezes o espetáculo “Roda de Choro”, em que conduziu apresentações pautadas pelo conhecimento tradicional e improviso, unindo outros músicos brasileiros da atualidade. Em 2008 fundou a produtora e selo musical Orpheu Music, que executa projetos de produção e preservação da música brasileira.

Danilo, seu pai Demócrito foi a sua maior inspiração. O que você acredita que herdou dele musicalmente falando?

Meu pai era um homem extremamente inteligente e experiente, de grande personalidade; quando eu nasci, ele já tinha 50 anos. A personalidade dele era tal que, hoje, amigos músicos repetem suas frases como provérbios, até mesmo quem não o conheceu pessoalmente. Eu diria que algumas de suas heranças foram sua fantasia e seu amor pela música. A imaginação de meu pai era muito rica, em todos os aspectos. Seus pensamentos fantasiosos me impressionavam tremendamente quando eu era criança. O seu amor pela música era tanto que ele dizia, muito enfaticamente, “Eu sou escravo da música!” e esse é um sentimento muito parecido com o meu. Meu temperamento é muito parecido com o dele, sua emotividade e sua honestidade em relação à música e a tudo. Ele nasceu em 14.10.1935 e faleceu em 20.05.2016, aos 80 anos.

Quando você acredita que a música passa a ter um papel social?

A música, puramente instrumental, quando atinge o mais alto nível de arte, tem a capacidade e o poder únicos de transformar e elevar os corações e as mentes. Não há palavras, discursos, política, ideologias que façam isso. Um milagre.

Dos 11 aos 12 anos você morou na Paraíba. O que os fatos decorrentes desse período lhe trouxeram de aprendizado para a sua vida e sua carreira?

Foi uma época excelente, em que tive a convivência com os valores dos nordestinos mais velhos, primos e irmãos do meu pai, e da vida natural no campo, no sítio, cercado por serras. Valores que me marcaram profundamente e fazem parte da minha personalidade. Também, musicalmente, foi quando aumentei significativamente meu repertório, junto de um amigo da família, Antônio Messias, músico amador que me acompanhava ao violão e me ensinou diversas melodias. Era levado para cima e para baixo para tocar para as pessoas; foi onde fiz minha primeira apresentação no rádio, na cidade de Sumé.

Quando a interpretação e a composição se tornam perfeitas em sua visão?

Quando o músico está livre de sentimentos superficiais e efêmeros, para ter uma corrente espontânea de inspiração, que vem cem por cento do coração; quando a sua técnica serve tão somente como ferramenta para transmitir beleza e sentimento puros.

Você é um virtuose sem sombra de dúvidas. Buscar sempre a excelência traz algum tipo de estresse mesmo quando se tem prazer no seu ofício?

O estudo é muito gratificante e, a busca pela perfeição, para mim, é revigorante. Eu, como perfeccionista, quero sempre apresentar a melhor música possível e, embora me preocupe com a parte técnica, tomo muito cuidado para que isso não interfira na música que será transmitida ao ouvinte. Isto é, deve haver um equilíbrio entre o esforço técnico pela perfeição e a naturalidade, para que o ouvinte somente perceba a beleza e o sentimento da música e não os anos incansáveis de estudo.

Alguns músicos que já entrevistamos, relataram que seus instrumentos são “ciumentos”, afinal querem uma dedicação total. O bandolim é um “parceiro” ciumento a esse ponto?

Estou ligado em música 24 horas por dia. Até nos meus sonhos há trilha sonora. Talvez, por isso, eu não tenha necessidade de ficar muito tempo com o bandolim em mãos, já que a música, em minha mente, estende-se para além de meu instrumento. Graças a Deus, tenho intimidade com o bandolim e até que ele me é bastante tolerante.

Quando está tocando extremamente concentrado, você percebe que o seu corpo, sua mente e o seu espírito estão em harmonia num ato que pode parecer como um transe?

Quando toco, minha energia é totalmente canalizada para a ocasião. Assim deve ser, também, com meus músicos, que me acompanham e dividem o palco comigo. A prática nos dá uma liberdade para não nos preocuparmos com a execução técnica e sim com buscar o âmago dos sentimentos pertinentes à música e à arte.

Em 2004 você ganhou o Prêmio Visa como o melhor instrumentista do país. Até chegar neste momento, existiu alguma dúvida (mesmo que seja interna) sobre sua carreira no mundo musical ou sempre teve em seu consciente que triunfaria?

Quando eu era criança, confesso, chegou a passar pela minha cabeça a fantasia de um músico que triunfaria no futuro a exemplo de meus dois maiores ídolos, então: Waldir Azevedo e Jacob do Bandolim. Logo, mudei espontaneamente meu pensamento para algo mais modesto. Deleitava-me ouvindo e privando com os velhos mestres como Carlos Poyares, Altamiro Carrilho, João Macambira e muitos outros que, assim como esses, tinham a música como uma religião e seus cultos eram as rodas de Choro, que externavam os mais honestos e puros sentimentos de um estado de espírito sublime. Para mim, não havia esse negócio de concorrência em música e eu não estava minimamente interessado em entrar numa disputa. No ano de 2004, houve o sétimo e badalado Prêmio Visa, e eu recebia muitos conselhos para me inscrever, a que resisti até quase o último momento (entreguei a fita no último dia). Alistei-me entre os 514 inscritos, ainda sem dar muita atenção. Recebi, dias depois, a ligação de um amigo que, após ler os jornais, disse-me entusiasmado que eu estava entre os 24 selecionados para prosseguir no festival. Dediquei-me, sempre fiel aos meus princípios de que música de verdade deveria vir do coração, fui em frente e venci, tirando em 1º lugar. Aos 19 anos de idade, fui o mais jovem dos ganhadores do Prêmio Visa.

O que lhe chamou a atenção na absorvição da sua música em outros países do globo?

Chama-me a atenção o fato de que a música brasileira, não estereotipada, não encontra barreiras no que diz respeito a sua assimilação por plateias estrangeiras. A música, que pode ser representativa do sentimento de um povo, pode ser sentida, compreendida e louvada por públicos pertencentes a outras nações, com culturas semelhantes ou completamente diferentes. Isto é o que sinto em relação a minha música, que tem a tradição e o sentimento brasileiro mas que também é original e não está presa ao tempo.

Como vê o tratamento dado à música instrumental em nosso país?

Depende. O Brasil tem uma tradição de música instrumental riquíssima e muito ampla, tão ampla quanto suas fronteiras. O povo brasileiro adora as coisas do seu próprio país. Pudera, são coisas criadas a partir de seu sentimento, nobre, emotivo, carinhoso, festivo, melancólico, nostálgico, rasgado, explosivo, etc. etc. etc… O Choro, música tradicional brasileira instrumental por excelência, não foge à regra, e é a música que representa a alma do povo brasileiro. Nossa música instrumental está em todos os cantos. O Choro e seus derivados – como a valsa caipira, a valsa-choro, o frevo, o baião, o samba, etc. – podem estar numa roda informal de amigos durante um churrasco, num teatro sofisticado, em bailes dançantes ou no carnaval, em botecos dos mais variados estilos e classes. Permeia, também, todas as idades, na lembrança da senhora idosa que escutava o Dilermando Reis ao rádio e se emociona, e no entusiasmo de uma criança ou de um jovem ao querer aprender a tocar um instrumento musical qualquer. É impressionante o deslumbramento que um bom instrumentista causa em qualquer uma dessas situações. Isto é nosso! Agora, hoje em dia, quando partimos a falar de certos núcleos, de algumas pessoas, que tomam decisões diversas em matéria de música, em instituições privadas ou públicas, sem levar em conta ou subjugando o público, com poucas exceções, é abominável, péssimo.

Você é visto como um músico sofisticado e um dos mais talentosos da sua geração, com álbuns espetaculares como “Danilo Brito” de 2014. Como avalia o seu trabalho que tem como norte cuidar bem da música brasileira?

Tenho a sorte de poder afirmar que nunca toquei uma nota de meu bandolim que não fosse honesta. A música quando não é feita com o coração é em vão e, sendo assim, é melhor não fazer. Sempre fiz o que quis. Sempre! Continuarei assim.


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