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Danniel Rangel com olhos abertos para o novo

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Danniel Rangel é jornalista de formação, mas sempre foi envolvido com arte, arquitetura, design e moda. Desde 1998, atua no circuito Nova York – Paris – Los Angeles onde participa como curador e consultor de arte. Por mais de 12 anos foi correspondente internacional da revista Vogue e Casa Vogue Brasil, editor da revista inglesa VERY, além de contribuir para edições internacionais da Architetural Digest, Elle Décor, Marie Claire e Maison Française. Como curador, alguns dos seus projetos mais reluzentes são: “Fashion Passion” – Oca São Paulo 2007; “Vera Valdez – O Sol da Maison Chanel” – Sesc – Rio de Janeiro 2009; “Casa Canadá” – Sesc – Rio de Janeiro – 2011; “Willy Rizzo no Brasil” – MuBE – São Paulo 2012 e “Oscar Niemeyer “Souvenirs d’une France” – Downtown Gallery – FIAC – Paris Outubro 2012 – Janeiro 2013. “Acho que temos ótimos museus… E acho que às vezes falta informação que não chega a todos… o que é uma pena. Acho que o estímulo começa nas escolas. Lembro-me das minhas aulas de educação artística quando estudava no primário… foram superimportantes para mim. Lembro-me vivamente dos meus trabalhos… Visitas em museus, deveria ser um estímulo dado pelo Governo – mas primeiro é preciso ter escola e educação, claro. O apoio aos museus, instituições e as faculdades de Belas Artes são extremamente importantes”, afirma o especialista no mundo das artes.

Danniel, o que seria essencial para se tornar um curador bem-sucedido?

Primeiro você tem que gostar muito do que faz. Ter curiosidade, olho para o belo, mas também um senso crítico e de questionamentos, além de conhecer bem o que está fazendo. A curiosidade é um fator muito importante. Na verdade, é um conjunto de coisas que te fazem ser um curador profissional bem-sucedido. E quando se trabalha com arte, tudo é muito relativo… Você pode ser bem-sucedido em uma mostra, sendo que em outra você pode não agradar tanto. Alguns gostam de Picasso [pintor espanhol, escultor, ceramista, cenógrafo, poeta e dramaturgo que passou a maior parte da sua vida em território francês. É conhecido como o co-fundador do cubismo ao lado de Georges Braque, 1881 – 1973] e outros de Matisse [Henri Matisse, artista francês, conhecido por seu uso da cor e sua arte de desenhar, fluida e original. Foi um desenhista, gravurista e escultor, mas é principalmente conhecido como um pintor, 1869 – 1954], mais os dois são grandes artistas certo? Para mim a arte é uma maneira de levantar questões, mudar o olhar, ser político, aprendendo a cada dia algo novo… Eu mesmo continuo aprendendo. Isso é o melhor e o mais gratificante… É mais importante você trabalhar com o que gosta que receber críticas positivas – por mais que elas sejam bem-vindas. Umas pessoas irão gostar mais e outras menos…, mas faz parte. Se você entende que no outro dia você vai acordar e fazer o que gosta, trabalhando com pessoas interessantes, conhecendo novos lugares e culturas, acredito que isso é ser bem-sucedido… a vida continua.

O que seria uma curadoria perfeita?

Aquela que levanta questões, emociona, causa sentimentos sejam eles positivos ou negativos. Não existe perfeição. E ótimo realizar belas mostras, e mais importante ainda usar a arte como instrumento para mexer com as pessoas, com o seu inconsciente… E ótimo quando saímos de uma exposição que mexe conosco… Me lembro de uma mostra do Mike Kelley [artista norte-americano, 1954 – 2012] há dois anos no Centre Pompidou que mexeu muito comigo. Depois dela mergulhei na análise profundamente. Foi ótimo. Como dizia Francis Picabia [pintor e poeta francês, 1879 – 1953]: “Nossas cabeças são redondas para que possamos mudar nossos pensamentos…”; um gênio dadaísta que fez o que quis e nunca se preocupou com os outros movimentos, sendo hoje aclamado no MoMa em Nova York, como um dos grandes gênios da Arte Moderna e uma grande influência para a Arte Contemporânea.

Nos últimos anos, as obras brasileiras dos anos 60, têm chamado muita atenção dos colecionadores. Por que você acredita que isso aconteceu?

Por que por anos ficamos fechados por causa do Golpe Militar e após a nossa abertura política, isso está crescendo… Mas nossos grandes artistas como Oiticica [Hélio Oiticica, pintor, escultor, artista plástico e performático de aspirações anarquistas. É considerado um dos maiores artistas da história da arte brasileira, 1937 – 1980], Clark [Lygia Clark, pintora e escultora brasileira contemporânea que se autointitulava “não artista”, 1920 – 1988], Camargo [Iberê Camargo, pintor, gravurista e professor, 1914 – 1994], Antonio Dias [artista plástico e multimídia, 1944 – ] entre outros, já eram bem conhecidos dos colecionares e galerias lá fora. Hoje são uma febre no Brasil e agora o mercado internacional está conhecendo mais por causa das exposições, feiras e grandes galerias. É uma pena que com os grandes impostos, ainda não possamos ter um intercâmbio cultural e fazer das nossas coleções privadas mais diversificadas e internacionais. Mas também é bom lembrar que foram realizados em um período de Ditadura Militar, e muitos deles têm essa característica política do não conformismo. Em alguns casos, existe até falta de material, como aconteceu na Alemanha do pós-guerra e que influenciou artistas como Penck [A. R. Penck, pintor e escultor alemão, 1939 – ]. Acho que “Hard Times Make Good Work” [“Em Tempos Difíceis se Fazem Bons Trabalhos” em tradução literal].

O momento econômico do Brasil, tem afetado de alguma forma, a aquisição de novas obras de arte pelos colecionadores do nosso país?

Acho que não. As feiras continuam a acontecer; as galerias estão aí viajando e exportando arte; temos ótimos artistas jovens e já conhecidos, sem contar nos consagrados… Claro que com a crise os colecionadores são mais seletivos, o que de certo modo é bom. Por acaso a Lygia Pape [gravadora, escultora, pintora, cineasta, professora e artista multimídia, identificada com o movimento conhecido por Neoconcretismo, 1927 – 2004] vai ocupar o Metropolitan Museum este ano; a Ana Maria Maiolino [artista plástica ítalo-brasileira, 1942 – ] no Moca em Los Angeles e Willys de Castro [artista expoente do movimento Neoconcreto, 1926 – 1988] vai abrir uma exposição em Nova York em breve. O mercado continua aquecido e mais seletivo.

Em sua visão, a arte deve ter algum papel social?

Sempre, como disse na pergunta anterior. A arte tem um grande papel social e político, pois, reflete o momento em que vivemos. A visita a museus por escolas ensina e amplia o conhecimento e o olhar das crianças e dos jovens… sem falar dos adultos. Além de trazer cura e outros benefícios, quando peças de arte são leiloadas para a caridade (o que acontece muito nos EUA e Europa). A filantropia ajuda tanto aos museus quanto as entidades sociais. No Brasil, estamos caminhando com doações para museus e outros eventos. O importante é gerar movimento. Artistas como Marilyn Minter [artista norte-americana, 1948 – ], Judith Bernstein [artista feminista norte-americana, 1942 – ], Barbara T. Smith [artista norte-americana, 1931 – ] são revolucionárias, já que querem dar o poder às mulheres e usam a suas obras para isso… principalmente agora em tempos de extrema-direita, a arte nunca foi tão importante – me disse Lynn Hershman Leeson [artista e realizadora norte-americana, 194 – ] outro dia. Eu concordo com ela!

Como acredita que deve ser o estímulo das pessoas em nosso país para que elas possam consumir mais arte?

Acho que temos ótimos museus… E acho que às vezes falta informação que não chega a todos… o que é uma pena. Acho que o estímulo começa nas escolas. Lembro-me das minhas aulas de educação artística quando estudava no primário… foram superimportantes para mim. Lembro-me vivamente dos meus trabalhos… Visitas em museus, deveria ser um estímulo dado pelo Governo – mas primeiro é preciso ter escola e educação, claro. O apoio aos museus, instituições e as faculdades de Belas Artes são extremamente importantes. Já para o público que compra, um bom Art Advisor [consultor que consiste em aconselhar, pesquisar e dar direções específicas para aqueles que procuram começar uma coleção de arte] que seja dedicado é fundamental para compra e para acompanhar uma coleção, pois, ninguém nasce sabendo, além é claro, da vontade de colecionar e estar aberto para aprender.

Publicações apostam que a fotografia será uma das artes mais valiosas deste século. Como tem visto esse cenário em especial?

Adoro fotografia, sempre gostei e acredito também. As grandes feiras como o tão badalado Paris Photo, os museus como a MEP (Maison Européenne de la Photographie) e a coleção Pirelli no Brasil, são uma boa prova disso. Além de ser uma mídia usada por grandes artistas modernos e contemporâneos. Eu sou um grande fã, além de colecionar, sempre utilizei as fotografias e os videoartes em minhas exposições e coleções particulares, tais como: Heinecken [Robert Heinecken, artista visual norte-americano, 1931 – 2006], Rizzo [Willy Rizzo, fotógrafo e designer italiano, 1928 – ], Miles Aldridge [fotógrafo e artista de moda britânico, 1964 – ], Bert Stern [fotógrafo norte-americano, 1929 – 2013], Stan VanDerBeek [cineasta experimental norte-americano, 1927 – 1984]… O meu livro “Chanel por Willy Rizzo” que conta o retorno de Mademoiselle Chanel a moda no pós-guerra através das lentes do fotógrafo Willy Rizzo é um documento importante que aconteceu graças a fotografia.

Você é jornalista de formação. Como foi o seu enveredar para o mundo das artes?

Sempre escrevi sobre arte e arquitetura, e acho que foi um caminho natural… aconteceu naturalmente, claro com muita dedicação e trabalho, além da vontade de aprender todo o dia. Quando você tem conhecimento, tudo é mais fácil em todos os sentidos.

As publicações internacionais e nacionais que cobrem o mundo das artes, têm cumprido bem o seu papel?

Sim. Acho que temos revistas ótimas como a Artforum, Beaux Arts Magazine, Frieze, Flash Art International, Art in America entre outras nacionais. Revistas como Vogue, Casa Vogue e GQ sempre tiveram uma seção especial que dão dicas sobre o assunto – é importante para os leitores. Hoje a informação é rápida, sendo que a internet está muito presente em nossas vidas. Então o acesso ficou mais fácil.

Dos seus vários projetos, gostaríamos que falasse de três em especial, e o que ficou deles em você quando finalizou esses trabalhos, que são “Oscar Niemeyer “Souvenirs d´une France”, “Robert Heinecken – Waking Up in News America” e “Vera Valdez – O Sol da Maison Chanel”.

Todos os três foram importantes para mim, pois, conhecia todos os artistas. O Niemeyer [arquiteto brasileiro, considerado uma das figuras-chave no desenvolvimento da arquitetura moderna, 1907 – 2012] entrevistei várias vezes, e ele morreu no meio da mostra e foi aquela comoção em Paris… para mim então que adora o trabalho do dr. Oscar… foi uma perda para nosso país. Conheci o Robert Heinecken em 2002 na casa de uma amiga em Paris, sendo que adorei o trabalho dele desde então. Após a sua morte, meu amigo Philip Martin fez algumas exposições, e logo me interessei em trazer uma de suas instalações para o Brasil. Aliás, uma de suas mais controversas, pois, criticava duramente o poder da televisão, e que por ironia do destino foi patrocinado pela SKY Brasil… uma controvérsia muito grande que adorei, pois, eles não esperavam. Foi um sucesso imenso, e todos os grandes jornais falaram da mostra no MIS. O Robert Heineken iria adorar… deve ter rido muito lá de cima, pois, finalmente houve um questionamento sobre o poder deste veículo. No mesmo ano ele ganhou uma mostra no MoMA, merecido, pois, era um grande artista, cheio de sexualidade, talento, ironia e inteligência.

A Vera [modelo, atriz e figurinista, 1936 – ] é um caso a parte, já que é ligada a moda e o Brasil não se lembrava quem era ela. A maioria das pessoas nos dias hoje, já sabem por causa do sucesso da mostra. Até mesmo a Maison Chanel na época não tinha ideia e não esperava. Contei a história e a amizade dela com um grande personagem francês: Coco Chanel. Sua trajetória como manequim preferida de Chanel, através das lentes dos grandes nomes da fotografia do século XX na moda, mostraram a sua grande contribuição como modelo e atriz em território francês, algo que essa nova geração não conhecia. Hoje ela continua na ativa com oitenta anos… acabou de fazer a campanha da Amsterdam Sauer, personificando Georgia O´Keeffe [pintura norte-americana, 1887 – 1986], um deslumbre! Ela merece, pois, é uma mulher fantástica, cheia de vida e muito inteligente. Além do mais, foi daí que surgiu o livro com o Willy Rizzo – entre outros trabalhos com ele, como a sua grande mostra no MuBE (Museu Brasileiro da Escultura) em 2012. Pois, eram grandes amigos.

Em uma publicação, foi citado que você é querido por colecionadores, artistas e galeristas. O que você acredita ter sido fundamental para ter se tornado querido por todos esses profissionais?

Primeiro adoro o que faço (o que é o principal). Sou ambicioso, profissional, sempre querendo me aprimorar a cada dia mais para poder dividir com as pessoas meu conhecimento e poder realizar meu trabalho. Pesquiso e viajo muito; meus olhos sempre estão abertos para o novo. Gosto de falar, mas adoro aprender. É muito gratificante ver um colecionador contente com uma obra que comprou, como ver a reação das pessoas em uma exposição em que fui curador ou ver um livro que idealizei nas mãos de um leitor. É um prazer dividir. Acho que isso ajuda. Mas o fato de ser aberto para o novo também agrada as pessoas… além do meu senso de humor… O trabalho é cheio de responsabilidades, então senso de humor é muito importante, aliás, é fundamental!

Última atualização da matéria foi há 2 anos


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