Diogo Catão é CEO da Dome Ventures. A Dome Ventures é uma corporate venture builder GovTech que nasceu com o propósito de transformar o futuro das instituições públicas no Brasil. Sua missão é contribuir com o avanço digital do setor público, selecionando e desenvolvendo de forma contínua inovações aplicadas e startups que possuem soluções para impactar positivamente a sociedade e a vida de toda a população. Para o portal Panorama Mercantil, o executivo fala sobre a criação de startups do zero: “A palavra startup significa o ato de começar algo. Segundo informações da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), o Brasil já conta com mais de 13,2 mil empresas nesse modelo que começaram do zero, distribuídas em 634 cidades. No entanto, esse termo é muito mais amplo, já que as soluções propostas são novas, mas miram na resolução de problemas antigos. Independentemente do setor de atuação da startup, trata-se de uma empresa que, por meio de uma ideia inovadora, resolve dores crônicas do mercado e dos consumidores. É uma organização que tem um modelo de negócio criado em um cenário de incertezas, porém, deve se consagrar inovadora, escalável e rentável. O número de negócios seguindo essas premissas crescem mais a cada dia. Mas é preciso muito trabalho e dedicação para realmente entregar caminhos novos para demandas antigas. Para entrar nesse universo sem se aventurar, o planejamento é a chave do negócio”, afirma.
Diogo, criar uma startup do zero ainda é um ato de coragem?
Sim, porque startup por essência, nada mais é do que você desenvolver uma função inovadora, muitas vezes disruptiva, escalável e replicável num ambiente cercado de incertezas, então quando você vê essa quantidade de incerteza ele quer dizer que o risco associado ao ato de criar uma startup é sim um ato de coragem. Um ato que você está num ambiente vamos dizer não hostil mais de grandes níveis de incerteza, então você vai ter que inovar bastante, você vai ter que criar uma solução bastante disruptiva para chacoalhar aquele determinado mercado, no qual você está querendo entrar que por muitas vezes já existe algum grande player atuando não da melhor forma possível, deixando alguma lacuna ou não tem nenhum player atuando, mas tem grandes barreiras e obstáculos, podendo ser obstáculos de cunho da legislação, capital necessário para investimento, enfim, existem diversas barreiras e obstáculos.
Empreender principalmente no Brasil continua sendo um ato de coragem e até por questão conceitual como eu falei inicialmente, quando você está desenvolvendo algo num ambiente de alta incerteza é aí que você definirá algumas estratégias como criar parcerias com players para mitigar esse risco. Você consegue mitigar o risco de capital financeiro com uma rede de investidores anjos, com venture builder, com venture capital. Você precisa mapear esse risco e ter muito claro que é preciso coragem. É preciso avançar em qualquer feito. É preciso ter esse mapeamento. É preciso desenvolver planos de respostas para esse risco e não simplesmente congelar diante de um cenário onde não se tem certeza do que vai acontecer no dia seguinte.
Quais seriam os maiores desafios para esse empreendedor se fossemos colocar um top 5 de desafios?
Posso montar um top 5. O primeiro é você formar uma equipe altamente qualificada e complementá-la tecnicamente e comportamentalmente. É um ponto difícil porque elas não deixam de ser pessoas que estão investindo em você, seja investindo o capital econômico, ou o tempo delas em algo que ainda não há certeza, sem saber se isso vai gerar frutos e resultados lá na frente. Resumindo, o primeiro grande desafio é a formação de uma equipe qualificada. O segundo desafio é identificar um mercado bastante relevante, no qual existem lacunas latentes e que você e a sua equipe tenham uma capacidade técnica de solucionar. É preciso mapear bem as problemáticas, os players, definir qual é o seu grande diferencial, e se a sua startup conseguiria entregar resultados.
O terceiro grande desafio é a parte de gestão financeira. Hoje, 80% das empresas quebram nos dois primeiros anos e aqui a gente pode comprovar com estatísticas da Absstartup ou do próprio Sebrae. Vemos que não conseguem fazer um fluxo de caixa assertivo. Não conseguem captar recursos de forma correta. O quarto grande desafio podemos dizer que é a regulação do setor que o empreendedor está buscando. Questões jurídicas, tributação, regulação… todos esses pontos burocráticos precisam de atenção. O último desafio envolve as vendas. Saber para quem vai vender, principalmente se for para um B2B ou um B2G. Quando falamos do B2C se torna mais fácil, mas para outras empresas é mais complicado.
Resolver as dores crônicas do mercado deve ser a premissa na hora de começar uma startup?
Sim. É como um must have (é importante ter). Existem duas premissas: uma dor crônica ou um desejo. Mas como acontecem situações como a pandemia, vimos que apenas estabelecimentos essenciais funcionaram, mostrando que atendiam dores crônicas. No caso do desejo, é algo que dá para sobreviver sem. Em geral, venture capitals olham com bons olhos para startups que solucionam dores crônicas. Quem atende desejos também é bom, mas é preciso ter essa visão ampla.
Quais os maiores erros dos empreendedores na hora de começar um empreendimento?
Creio muito que o primeiro é super dimensionar o mercado e acreditar que não existem outros players. A grande maioria acredita que não existem outros concorrentes, por isso não conseguem construir seus diferenciais competitivos e relevantes, e aí acabam sendo surpreendidos pela falta de demanda dos seus pedidos. O que encontro com bastante frequência também é a questão da validação da solução. Às vezes o empreendedor vai validar em uma rede de amigos próximos que não necessariamente é o público alvo daquela determinada solução. Dessa forma, os instrumentos de validação não são tão adequados. O terceiro ponto é a questão da gestão financeira, de saber o quanto você gasta mensalmente na sua empresa, quanto de fôlego financeiro você tem e quando é necessário fazer captação de recursos.
A falta de capital inicial é um entrave. Como contornar esse grande obstáculo?
A falta de capital inicial é de fato um grande problema que os empreendedores (principalmente aqui no Brasil) encontram. Conseguem uma equipe boa, mas acabam morrendo sem fôlego financeiro e sendo captados por grandes empresas com salários muito maiores, então deixam de empreender e gerar soluções inovadoras para o mercado, que por muitas vezes necessita. Uma das formas de você contornar esse obstáculo, é tendo uma gestão financeira muito redonda. Saber da sua necessidade de capital de uma forma antecipada e se preparar para a captação desse recurso. Existe FAPs estaduais, que são as fundações de apoio ao empreendedorismo. Todo o estado tem uma e existem instituições que ajudam também o Sebrae. O sistema está nesse desenvolvimento de inovação. Existe esse conceito novo que chegou que é de Venture Builder. Quando você identifica a sua necessidade financeira, você precisa prever quanto precisará investir em profissionais de TI, em marketing, em finanças, no jurídico… enfim, você fará esse mapeamento e boa parte dessas necessidades um Venture Builder já contribuirá. Isso é uma troca. Isso facilita e reduz esse entrave de falta de capital inicial. É importante que os empreendedores consigam olhar para esse modelo de Venture Builder, porque aumenta a chance de sucesso do seu negócio, muitas vezes porque você já consegue empregar economicamente os benefícios que você necessitaria levantar de capital financeiro.
Onde essas startups devem buscar investimentos?
Acredito que nas fases iniciais existem as FAPs. Existe o próprio apoio do Sebrae e do sistema S para desenvolvimento de incubadoras e após isso você consegue uma Venture Builder. Há uma aceleradora também de negócios que ajuda nessas etapas iniciais. Depois você consegue pegar com a Venture Builder um investimento econômico, não necessariamente financeiro. Também existem as redes de investidores anjos, onde você pode estar buscando isso em paralelo e depois vai para uma captação institucional, com as Ventures, até chegar no Private Equity ou no melhor dos cenários abrindo na Bolsa de Valores. Essa seria a trilha de captação de recursos de investimentos para uma startup.
Qual a importância de um mentor para esse empreendedor que estará à frente dessa startup?
Você tem que partir do princípio que sua curva de aprendizado não pode ser completamente baseada em tentativas de erros. Isso pode ser fatal para qualquer tipo de negócio (inclusive de startups). Claro que a startup está muito mais disposta a isso, mas com a mentoria você consegue alcançar o sucesso de uma forma muito mais facilitada, porque você já pega expertise de quem já teve experiência e conhecimento em determinadas áreas que você não teve. Você pode ter uma mentoria específica na área financeira ou de inovação. Aquela lacuna onde você tem uma maior dificuldade. Isso faz com que você consiga preencher essa lacuna de forma muito mais rápida, além do networking que o mentor pode estar contribuindo. Também entra a questão do direcionamento que esse mentor vai estar ajudando ao seu negócio. Esses pontos são importantes. Você não construi nada sozinho. Você não precisa recriar a ordem. Já teve um mentor que passou por essa experiência, sendo que ele pode estar vindo a somar em seu negócio.
O papel de uma Venture Builder se torna crucial nesse ecossistema?
Sim, pois, uma Venture Builder atua como sócios estratégicos das startups em diversas frentes: Metodologia própria de buildagem; Inteligência de mercado; Desenvolvimento estratégico e vendas; Auxílio nos processos administrativos; Mentoria e Apoio na captação de investimentos.
Qual seria a diferença de uma Venture Builder e de uma aceleradora?
Uma Venture Builder consegue contar com os serviços compartilhados onde ela consegue oferecer uma gestão administrativa, de marketing, comercial, da parte jurídica, da governança corporativa, da estratégica entre outros. Não é o caso oferecido por uma aceleradora. Uma aceleradora é organizada por seções de mentores, claro, para desenvolver e acelerar a mentalidade, o mindset empreendedor. Ele consegue identificar lacunas de mercado que não haviam identificado. Ele consegue tracionar. Ele realmente tem um processo de crescimento e vale lançar seu MVP que é o objetivo da grande maioria de aceleradoras de negócios do país e do mundo. Já na Venture Building, além de fazer toda essa questão de sucessão de mentoring que uma aceleradora faz, geralmente na aceleradora existe um programa por um período de três meses a seis meses (dependendo do programa de aceleração). Existem outras que vão até uma próxima rodada de investimento. Outras até um momento de saída, portanto, a grande diferença, além de uma equipe extremamente qualificada é também entrar com essa parte de mentoring. A aceleradora entra juntamente com o acelerador. Existe também um apoio de captação de investimentos, mas um grande diferencial é ter um bom time num programa de pelo menos 36 meses, sendo que você pode se tornar um sócio estratégico e identificar lacunas que precisam ser desenvolvidas junto com o empreendedor.
Como a Dome Ventures está operando atualmente?
Temos uma Venture Builder Govtech que atua como sócio estratégico. Temos uma metodologia que ajuda na criação de um núcleo comercial Govtech dentro da empresa. A maioria dos startups não sabe vender para o Governo, então entramos com inteligência de mercado e desenvolvimento estratégico, vendas e marketing, auxílio nos processos administrativos, mentoria e apoio na captação de investimento. A depender do nível de maturidade no qual a startup esteja e se precisa desse capital, uma venda pode ser mais robusta. Conseguimos elucidar durante o programa de buildagem govtech (algo único que temos aqui no país). A Dome Ventures conta com 7 startup govtechs e pretende encerrar o ano de 2003 com 15 startups govtechs em operação. Temos uma plataforma de monitoramento e acompanhamento de cada uma dessas startups que facilita a interação com os investidores potenciais que investirão nelas.
Qual seria a principal missão da Dome em 2023?
A nossa missão continua a mesma que é justamente transformar o futuro das instituições públicas através da inovação. É isso que estamos fazendo e vamos fazer com mais soluções. Hoje a gente tem um portfólio bastante relevante em diversas áreas para que o setor público seja beneficiado de uma forma muito mais eficiente através da inovação. Para isso vamos buscar mais soluções que atendam os desafios públicos que estão sendo lançados constantemente no país ou que ainda não estão sendo lançados. Vamos ajudar na estruturação desses desafios. Muitos dos agentes públicos desconhecem a jornada de contratação pública e de inovação, sendo que a OCP veio para ajudar nisso. O Marco Legal de startups veio para ajudar nisso. Ajudamos também nessa questão educacional para que mais municípios e instituições públicas sejam beneficiadas pela inovação em 2023.
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