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Edinho Silva fala do papel histórico da legenda PT

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Graduado em Ciências Sociais na Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Araraquara e mestre em engenharia de produção na Universidade Federal de São Carlos, Edinho Silva foi office-boy, trabalhando em Araraquara no Escritório Paulista e na Distribuidora Andrade de Publicações. Foi operário na Fábrica Meias Lupo e, em São Carlos, trabalhou como metalúrgico na extinta Clímax, hoje Eletrolux. Na década de 80 tornou-se atleta das categorias de base da Ferroviária. Em 2007 foi eleito presidente do PT do estado de São Paulo, tendo sido reeleito para o mandato 2009-2013 com mais de 90% dos votos dos filiados. Em 2010, se elegeu Deputado Estadual com 184.397 votos em mais de 500 municípios paulistas. Edinho foi o 1º mais votado da sua coligação (PT – PRTB – PR – PCdoB – PTdoB) e o 6º do estado. Também participou da coordenação das Campanhas Eleitorais de Aloizio Mercadante e Dilma Rousseff em São Paulo. Em 2011, exercendo o mandato parlamentar e também a função de presidente do PT paulista, Edinho retornou à vida acadêmica se tornando professor e coordenador de curso de Pós-Graduação da Universidade Nove de Julho. Em 27 de março de 2015 foi convidado pela presidente Dilma Rousseff para assumir o cargo de ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom). Sua posse foi no dia 31 do mesmo mês.

Ministro, o senhor é um dos homens do Governo Dilma que acreditam que oposição e situação devem se aproximar. É possível uma aproximação neste momento em que as paixões de ambos os lados estão à “flor da pele?”.

Sem dúvida nenhuma que há. Estive recentemente acompanhando a presidenta Dilma Rousseff na entrega de 3,4 mil unidades habitacionais do programa “Minha Casa Minha Vida”, ao lado do governador Geraldo Alckmin, no interior de São Paulo, em São Carlos, cidade da nossa região. O encontro demonstra compromisso republicano, em que os interesses públicos são colocados acima dos interesses partidários. Assim como o governador Alckmin, há líderes de partidos da oposição também se colocando neste debate como estadistas, abertos ao diálogo em nome dos interesses públicos. Infelizmente, no entanto, isso tem sido uma exceção à regra. O acirramento da disputa política, que se mantém desde o final do segundo turno das eleições de 2014, semeia pelo território brasileiro um ambiente de ódio e intolerância. O sectarismo político, alimentado pelos interesses partidários conjunturais, momentâneos, acaba dificultando no Brasil uma agenda de unidade. Quando há diálogo entre Governo e oposição, como exemplifiquei na entrega de casas no interior de São Paulo, quem ganha é a população brasileira. Continuo acreditando na construção dessa agenda de unidade nacional. Os grandes saltos históricos da nossa trajetória enquanto nação só se deram com grandes pactos entre forças que se caracterizavam como antagônicas. O Brasil necessita de reformas de Estado urgentes para aprofundar a nossa democracia, para aproximarmos a sociedade civil do aparato de Estado. Para nos tornarmos mais competitivos economicamente, não podemos perder essa oportunidade diante do momento, principalmente, pelo redesenho da geografia política e econômica internacional.

Como acredita que ficará imagem do Partido dos Trabalhadores depois que este momento político turbulento passar?

É inegável que o meu partido, o Partido dos Trabalhadores, passa por um momento difícil. Lideranças importantes foram atingidas por investigações, o que cria um desgaste inevitável. Sempre defendi que todas as denúncias fossem apuradas, para que as suspeitas fossem esclarecidas, os culpados, punidos, e os inocentes, resgatados. Considero esse processo muito positivo para o país. Isso porque as investigações contra o Partido dos Trabalhadores, que é também o partido da presidenta Dilma, ratificam a independência e a autonomia das instituições de investigação. Sem dúvida nenhuma, a consolidação das instituições e o fortalecimento da democracia no Brasil serão marcas deste Governo. Além disso, o PT tem um projeto para o Brasil de desenvolvimento e crescimento econômico com distribuição de renda que sempre foi a base de suas políticas públicas. O legado do Governo do ex-presidente Lula no desenvolvimento econômico e social é sólido e nunca poderá ser apagado. O PT tem um papel histórico. O PT construiu bandeiras que mudaram as políticas públicas, que instituíram paradigmas administrativos, dando uma contribuição imensa ao país. Esse é o ponto de partida para que o partido consiga, com humildade, se organizar para reconstruir o diálogo com a sociedade, refazendo suas bandeiras. Esse legado certamente vai inspirar as lideranças do partido para que esse momento de dificuldades seja superado.

Como sabemos, a Secom é responsável pela liberação de verbas e gerenciamento de contratos publicitários firmados pelo Governo Federal. Não é um valor muito alto que se gasta em publicidade governamental, afinal em 2014 a soma alcançou R$ 2,3 bilhões?

A comunicação do Governo Federal desempenha um papel muito importante de esclarecimento e conscientização da população. É função do Governo alertar, por exemplo, sobre o calendário de vacinação e prazos de inscrição em programas sociais, como o Bolsa Família o “Minha Casa Minha Vida”, e programas educacionais. Sem essa publicidade, muitos ficariam à parte das políticas públicas desenvolvidas pelo Governo em benefício das camadas mais pobres da sociedade. É também papel da comunicação do Governo fazer campanhas de conscientização como, por exemplo, sobre o consumo responsável de água e energia, campanhas de combate ao racismo e à violência contra a mulher. Os recursos para publicidade institucional estão previstos na Lei Orçamentária Anual (LOA) e têm como função informar e orientar a população para a adoção de comportamentos que tragam benefícios reais na qualidade de vida. Portanto, o investimento na divulgação de políticas públicas significa, também, melhorar a qualidade de vida da população. A maior parte dos recursos pertence às empresas estatais e não à administração direta.

Ainda falando de publicidade governamental, alguns veículos da chamada mídia progressista e até veículos independentes, reclamam dos valores que são repassados para as grandes empresas de mídia do país, sobretudo as emissoras de TV, que ficaram com 64% do total da verba no ano passado, algo que ultrapassa 1 bilhão de reais. Enxerga que essa divisão pode se tornar mais equilibrada algum dia, ou a televisão ainda ficará por um bom tempo com a maior parte da verba que hoje é mais da metade do valor total?

A distribuição de verbas publicitárias do Governo Federal obedece a critérios técnicos. O Governo trabalha com critérios normatizados. Portanto, não é a vontade de um ministro que estabelece para onde os recursos vão. Há uma normatização legal. Sabemos que a norma de distribuição da verba publicitária que temos hoje ainda não é ideal, mas, avançamos muito. Estabelecemos critérios para atingir veículos diversos em todo o Brasil, incluindo os veículos menores, regionais. Nosso esforço é de que o processo de democratização da mídia alcance todos os segmentos da nossa sociedade. E, repito, temos avançado muito neste sentido. Hoje a distribuição das verbas obedece à audiência de cada modal de comunicação e de cada veículo. Isso é o que chamamos de mídia técnica. Pesquisas frequentes são feitas pela Secom para manter esses critérios atualizados. Por exemplo, a comunicação digital, a internet, avança ano após ano, tirando audiência dos demais modais, principalmente da mídia impressa.

A popularidade da presidente Dilma está muita baixa. Acha que isso se dá por um desgaste de imagem ou por outros fatores?

É claro que há um desgaste de imagem do Governo e que este desgaste afeta a popularidade da presidenta Dilma. A popularidade da presidenta Dilma neste momento passa pelas crises política e econômica e, também, pelo sentimento de esgotamento do modelo político atual. Penso que existe um questionamento do atual modo de representação política e, aqui, voltamos à necessidade das reformas de Estado que falei anteriormente. Há também as dificuldades econômicas pelas quais o país passa neste momento. O Brasil, uma das principais economias do mundo, é fortemente afetado pela crise econômica global. Houve uma desaceleração grande da China, que é nosso principal parceiro econômico. Também houve a queda nos preços das commodities, o que têm um impacto significativo nos países emergentes como o Brasil. Também temos problemas na economia doméstica. Por isso, hoje, estamos passando por um ajuste para que, em breve, o país possa retomar o crescimento econômico e a geração de emprego e distribuição de renda. A instabilidade política por que passamos, por conta de lideranças e partidos atingidos pelas denúncias de corrupção, também afeta o Governo. A presidenta Dilma está liderando o processo de superação dessas dificuldades e, em breve, principalmente pela retomada do crescimento econômico, criaremos as condições para a recuperação da popularidade do Governo e da presidenta.

O Governo teve que ser remontado e alguns Ministérios foram cortados. Em quanto tempo acredita que essas medidas poderão aparecer de fato para uma melhora da situação atual do país?

A presidenta Dilma, diante da necessidade de se fazer um ajuste fiscal, adotou medidas de cortes e restrições ao custeio da máquina pública. Isso resultou na reforma administrativa, com a fusão de pastas e órgãos públicos. Com isso, a presidenta sinalizou a melhor racionalização do custeio. A reforma ministerial, decorrente da reforma administrativa, foi importante para a reorganização da coalizão de Governo. Esse movimento demonstra o empenho da presidenta Dilma na construção da paz política necessária para que medidas importantes sejam aprovadas pelo Congresso Nacional e, consequentemente, o Brasil volte a se pautar pela agenda do crescimento.

O Brasil hoje se encontra polarizado entre duas forças políticas: PT e PSDB. Essa polarização também não gera uma instabilidade que muitas vezes mais atrapalha do que ajuda?

Saímos de uma disputa eleitoral em 2014 extremamente acirrada e polarizada. Talvez a mais polarizada da história recente da democracia brasileira. E essa lógica da polarização, infelizmente, continua hoje, mais de um ano depois do pleito. É importante que a oposição faça oposição, que fiscalize o Governo. Acredito que seja bom para a democracia que haja oposição. O problema acontece quando interesses político-partidários são colocados acima dos interesses públicos. O acirramento da disputa política semeia pelo território brasileiro um ambiente de ódio e intolerância. O sectarismo político, alimentado pelos interesses partidários conjunturais, momentâneos, impede que exista no Brasil uma agenda de unidade, de interesse do povo brasileiro. Em alguns momentos, medidas que darão condições para a retomada do crescimento econômico, por exemplo, não avançam no Congresso Nacional. Não podemos deixar que as questões político-partidárias paralisem o Brasil. Por isso, tenho defendido o diálogo entre Governo e oposição em nome dos interesses públicos. Quando há diálogo quem ganha é o povo brasileiro.

Talvez o senhor seja o membro do Governo que mais fale com a mídia em todos os segmentos, do impresso ao digital. Não acredita que a presidente neste momento em que o Brasil mais precisa de sua liderança, deveria falar ainda mais?

A presidenta tem dialogado muito com todos os segmentos da sociedade, inclusive com a imprensa. A presidenta tem concedido entrevistas regularmente para rádios nacionais e regionais, para impressos, emissoras de televisão, portais e veículos internacionais. É inclusive dela a orientação a todos os ministros e líderes para que os integrantes de seu Governo dialogue muito, sempre. E esse diálogo se dá boa parte das vezes por meio da imprensa. Enquanto ministro da presidenta Dilma, tenho me empenhado para isso. Procuro, na função de ministro da Comunicação Social, visitar veículos, receber jornalistas em meu gabinete em Brasília, e estar sempre de portas abertas, inclusive para veículos de imprensa que adotam uma postura editorial contrária ao Governo. Como afirmei na minha posse, em 31 de março, o diálogo é meu principal instrumento de trabalho.

Quando entrevistamos o escritor e figura histórica do PT, Frei Betto, ele nos afirmou que o Partido dos Trabalhadores poderia se tornar um novo PMDB, já que ele considera que o partido está com uma crise de identidade. Em sua avaliação, o PT se encontra com essa crise de identidade, ou a visão do ministro é bem diferente da do teólogo?

É inegável que a situação do partido é difícil, mas isso não significa necessariamente crise de identidade. Não creio que o PT esteja sofrendo uma crise de identidade. O PT tem uma história importante de relação com o povo brasileiro, em especial com sua base social, na construção das condições para a superação da desigualdade social. O momento agora é de fazermos um balanço com muita humildade. Precisamos nos pautar pelo legado histórico dos Governos petistas para reconstruirmos nossas bandeiras. Isso significa buscar o fortalecimento da identidade do PT, um partido de base social sólida e que faz parte da construção de transformações importantes do nosso país.

Em setembro, a manchete de um grande jornal de São Paulo dizia: “Oposição mira em Edinho Silva para desgastar a imagem de Dilma”. Como está se sentindo neste momento, já que era até natural a oposição tê-lo como alvo, afinal o senhor era o tesoureiro do comitê petista na última eleição?

Inverdades estão sendo ditas a meu respeito, por isso, sou o primeiro a defender que tudo seja apurado e esclarecido para que a verdade prevaleça o mais rápido possível. Estou absolutamente tranquilo quanto a isso. Quem acompanha minha trajetória política sabe que eu sempre agi dentro de princípios éticos e morais, como vereador, prefeito, deputado, dirigente partidário, e também como professor e pesquisador. Quando a presidenta Dilma me chamou para participar da campanha à reeleição em 2014, ela o fez por conta dessa minha trajetória de lisura. Ela me confiou a missão de coordenar a arrecadação financeira da campanha segundo os mesmos princípios éticos e morais que sempre adotei, sempre dentro da legalidade. Quando eu assumi essa missão, as investigações, que chamaram de Lava Jato, já estavam em andamento. Portanto, orientado pela presidenta, e eu não faria diferente, tomei todos os cuidados para que toda a arrecadação estivesse de acordo com a legislação eleitoral. Por isso, repito, me sinto absolutamente tranquilo.

O senhor disse que a presidente Dilma quer uma paz política para tirar o Brasil deste momento de dificuldade. Essa paz está perto de ser encontrada, mesmo em um momento onde alguns querem o impeachment da presidente?

O impeachment não é uma questão política. É uma questão jurídica. E a presidenta Dilma, uma mulher honrada, não está sendo investigada ou foi denunciada. Não há argumento legal, jurídico, contra seu mandato. Portanto, não é essa a maior preocupação do Governo neste momento. Nossa maior preocupação é o imenso desafio que temos pela frente de promover a retomada do crescimento econômico. Para isso, precisamos de paz política. A reforma ministerial era urgente para que a base parlamentar pudesse se reorganizar no Congresso Nacional. Agora, é fundamental que o Governo consiga aprovar medidas importantes para garantir as bases para a retomada do crescimento. Caso contrário, é impossível obtermos avanço econômico. Ou seja, o que está em jogo agora são os interesses do povo brasileiro. É preciso construir uma agenda de unidade, tanto da base de Governo como da oposição. Repito: não podemos deixar que as disputas político-partidárias paralisem o Brasil. Quando há diálogo quem ganha é a nação.


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