Eike, prisões, Madre Teresa…
Nem todo mundo tem tempo (ou estômago) para acompanhar o noticiário inteiro. É guerra lá fora, escândalo aqui dentro, político fazendo dancinha no TikTok e economista prometendo milagre com inflação alta. Enquanto isso, você tenta sobreviver à vida real. A gente entende.
Por isso nasceu o Condensado: uma dose diária de realidade em 6 tópicos, com informação quente, ironia fria e aquele comentário ácido que você gostaria de ter feito — mas estava ocupado demais trabalhando pra pagar o boleto.
Aqui não tem enrolação, manchete plantada ou isenção fake. Tem olho cirúrgico e língua solta. O que rolou (ou rolará) de mais relevante no Brasil e no mundo vem aqui espremido em 10 linhas (ou menos) por item. Porque o essencial cabe — e o supérfluo, a gente zoa.
Informação? Sim. Respeito à inteligência do leitor? Sempre. Paciência com absurdos? Zero.
Bem-vindo ao Condensado. Pode confiar: é notícia, com ranço editorial.
Netanyahu e o mapa que virou epitáfio: quando o Grande Israel encolheu diante do espelho da ONU
Benjamin Netanyahu, o eterno primeiro-ministro e agora eterno vilão de si mesmo, conseguiu o feito raro de perder uma guerra política mesmo vencendo batalhas militares. Em 2024, mostrou ao mundo o mapa do “Grande Israel” — uma espécie de delírio cartográfico que engolia Gaza, Cisjordânia e qualquer noção de limite moral. Um ano depois, o resultado: 157 dos 193 países da ONU reconheceram o Estado palestino. O ex-embaixador Jorio Dauster explicou o colapso com precisão cirúrgica: Netanyahu acreditou no apoio incondicional dos EUA e confundiu luz verde com aval divino. Seu erro capital foi prosseguir com o genocídio de Gaza, exibindo crianças famintas e ruínas ao vivo, como se o horror pudesse ser justificado pelo trauma histórico. O segundo erro, o ataque aéreo em Doha, mostrou que a soberba já pilotava os drones. O mundo, cansado de cinismo bélico, respondeu com repúdio. A guerra de imagens venceu a dos foguetes. Netanyahu, o Moisés às avessas, abre o mar — mas para se afogar nele.
Daniel Day-Lewis volta das sombras e explica o método: entre o gênio e o exorcismo pessoal de um ator cansado da própria lenda
Daniel Day-Lewis reapareceu em Londres para defender sua arte — ou seu exorcismo profissional, depende do ponto de vista. No Festival de Cinema, o homem que virou Lincoln, o açougueiro Bill e o petroleiro Daniel Plainview cansou de ouvir que o “method acting” é coisa de maluco. “As críticas vêm de quem não entende nada do que fazemos”, disse o ator, com a voz serena de quem já discutiu com fantasmas. O método, para ele, não é culto, mas libertação — “é estar pronto para reagir”, afirmou. Mas Hollywood, sempre apressada em transformar arte em meme, prefere rir do homem que não sai do personagem nem para comprar pão. Agora ele volta com Anemone, dirigido e escrito com o filho, Ronan. Um crítico chamou o filme de “o pior que ele já fez” — elogio invertido, típico de quem espera milagres de um santo cansado. Talvez Anemone não seja um renascimento, mas um epitáfio em forma de roteiro: Daniel Day-Lewis atuando o papel mais difícil da vida — o de continuar humano depois de ser um mito.
Eike Batista quer trocar o cofre pelo plenário: ex-bilionário promete ensinar educação financeira a quem nunca teve dinheiro
Há coisas na política brasileira que fariam um roteirista da HBO chorar de inveja. Eike Batista, o ex-X da fortuna, o homem que prometeu o pré-sal lunar e entregou crateras financeiras, agora quer ser deputado federal. Sim, o mesmo que foi íntimo de Lula, Dilma e, sobretudo, Sergio Cabral — um triângulo amoroso com o poder que nem Nelson Rodrigues ousaria escrever. Hoje, livre da Lava Jato e reinventado como “coach de prosperidade”, cobra R$ 50 mil por 72 horas de iluminação econômica. O plano agora é “marcar um X” no Congresso, literalmente. Sua plataforma? Educação financeira — ironia sublime num país em que o Tesouro Nacional vive no cheque especial. Diz que atrairá investimentos para o Rio, como se o Estado fosse um reality show em busca de patrocinadores. Em 2018, tentou ser senador e desistiu por falta de fôlego (e de ar quente). Mas o Brasil é o país onde todo ciclo de falência vira oportunidade de renascimento público. Eike, sempre visionário, viu que o futuro é dos que se reinventam, mesmo que o passado grite por justiça. Afinal, se coach é profissão, por que não deputado?

Madre Teresa, 46 anos depois do Nobel: santa para uns, mártir da hipocrisia para outros, e ícone da contradição para todos
Em 17 de outubro de 1979, Madre Teresa de Calcutá ganhou o Nobel da Paz. O mundo, cansado de guerras e ditaduras, precisava de uma santa visível — e o Vaticano sabia disso. Décadas depois, ela ainda divide opiniões: símbolo de caridade para uns, mascote da miséria para outros. Christopher Hitchens a chamou de “anjinho das trevas” — não por maldade, mas por desconforto. Afinal, Teresa abraçava o sofrimento como virtude, recusava doações de contraceptivos e aceitava dinheiro de ditadores com a mesma serenidade com que orava. O paradoxo: ela nunca prometeu curar o mundo, apenas confortá-lo em dor. Em tempos de caridade corporativa e influencers solidários, sua figura parece um espelho incômodo. É possível fazer o bem sem questionar as causas do mal? Madre Teresa talvez respondesse: “não me façam perguntas, tragam almas.” O que, ironicamente, é o resumo de toda política humanitária desde então.
Prisão domiciliar cresce 4.000%: o Brasil descobre que o crime compensa melhor com Wi-Fi e tornozeleira
De 2016 a 2025, o número de presos em regime domiciliar saltou de 6 mil para 235 mil — um crescimento de quase 4.000%. Nunca a frase “cada um preso em sua casa” foi tão literal. O Brasil, que não consegue construir presídios, resolveu terceirizar o problema: que cada delinquente monte o seu. A prisão domiciliar virou o novo Bolsa Família da criminalidade: benefícios amplos, conforto moderado e acesso livre ao delivery. De cada 100 presos, 91 são homens — e o resto, estatística. A lei, claro, é generosa: idosos, gestantes, pais de crianças e debilitados por doenças graves. Na prática, basta tossir e ter um bom advogado. O Estado, aliviado, agradece: menos gasto com marmita, mais espaço nas celas. Os vizinhos, nem tanto. A tornozeleira eletrônica é o símbolo máximo da era do autocontrole digital — o panóptico com sinal de 4G. Entre grades e Wi-Fi, o Brasil escolheu o segundo. Afinal, até o crime precisa de conexão estável.

Liam Payne, mansão, herança e tragédia: o pop moderno e sua incapacidade de envelhecer em paz
O ex-One Direction Liam Payne saiu do palco da vida de forma trágica — e deixou uma novela digna da BBC: mansão de R$ 23 milhões retirada do mercado, herança de R$ 177 milhões em disputa, ex-namorada na beira da ruína e um filho herdeiro que só acessará o dinheiro aos 18 anos. A Inglaterra vitoriana não escreveria melhor. Payne, que comprou a casa para ficar perto do filho, acabou virando manchete póstuma entre advogados e tabloides. O caso expõe o submundo do pop: fama, dinheiro e desamparo emocional em escala industrial. Morreu aos 30, em Buenos Aires, numa queda que a polícia primeiro chamou de homicídio culposo e depois de tragédia. Hoje, sua ex, Kate Cassidy, pode tentar provar “dependência financeira” — expressão jurídica que diz mais sobre amor moderno do que qualquer balada. Liam Payne foi ídolo, meme, herdeiro e fantasma. Agora, é um espólio. E talvez essa seja a definição mais honesta de celebridade na era pós-Spotify: morrer é o último contrato.
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Franco Atirador assina as seções Dezaforismos e Condensado do Panorama Mercantil. Com olhar agudo e frases cortantes, ele propõe reflexões breves, mas de longa reverberação. Seus escritos orbitam entre a ironia e a lucidez, sempre provocando o leitor a sair da zona de conforto. Em meio a um portal voltado à análise profunda e à informação de qualidade, seus aforismos e sarcasmos funcionam como tiros de precisão no ruído cotidiano.




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