Elisa Tolomelli é uma produtora com grande respeito no meio cinematográfico. É fundadora da EH!Filmes. É formada em publicidade, mas trabalha em cinema há 25 anos. Tem experiência em muitas etapas da produção cinematográfica: roteiro, direção, produção, distribuição e exibição. Escreveu e produziu “A Menina do Lado” (com Reginaldo Faria), entre outros filmes. Foi a produtora-executiva de grandes sucessos como “Acquaria”, “Mulheres do Brasil”, “Cidade de Deus”, “Sonhos Roubados”, “Central do Brasil”, “Lavoura Arcaica”, “Benjamin”, “Margaret Mee e a Flor da Lua” e “A Hora e a vez de Augusto Matraga”. Produziu o filme “Como Esquecer”, de Malu de Martino, e “A Floresta que se Move”, de Vinícius Coimbra, ambos estrelados por Ana Paula Arósio. Recentemente, produziu os filmes “Berenice Procura”, de Flávia Lacerda e a comédia “Maria do Caritó”, protagonizado por Lilia Cabral, baseado na peça teatral homônima. Ela foi, também, diretora comercial da Riofilme Distribuidora e participou dos lançamentos de “Terra Estrangeira”, “Jenipapo”, “O Menino Maluquinho”, dentre outros. “O produtor é quem pensa o filme como um todo. É o dono da empresa produtora, responde juridicamente por qualquer questão relativa ao filme. Corre todos os riscos financeiros que o projeto possa ter. Prêmio de melhor filme é do produtor. O de melhor direção, do diretor”, afirma a produtora.
Elisa, o que é ser produtora em nosso país?
Trabalhar com cinema no Brasil nunca foi fácil. Atualmente então, com a posição do atual Governo de “desidratar” a atividade, a situação se torna preocupante. No momento, ser produtora nesse país é não esmorecer, não desistir, e tentar achar soluções para continuar produzindo nossos filmes, nossa arte!
O que molda a sua visão como produtora?
A decisão de produzir um filme passa, obrigatoriamente, pela minha identificação pelo roteiro. O que molda minha visão dos filmes que escolho fazer é um misto de paixão pela história a ser contada, seu potencial de chegar ao público e a capacidade que tenho de produzi-la.
Quais as maiores dificuldades em se produzir filmes além da parte de captação?
É elaborar o desenho de produção de cada um deles. Cada filme exige um estudo específico, pesquisa e muita dedicação para encontrar a melhor estratégia de execução. Isso se estende para todas as fases: preparação, filmagem e finalização. Como fazer o melhor filme possível, técnica e artisticamente falando, dentro do orçamento existente é o grande desafio que todo produtor tem que vencer. Exige muito estudo estratégico, gestão e planejamento. Outro ponto a destacar é como chegar as salas de cinema, que não é uma tarefa simples. Permanecer em cartaz, mais difícil ainda! Hoje, precisamos pensar a comercialização dos nossos filmes de maneira a abranger todas as janelas existentes, dentro do mercado nacional e internacional.
Em quais dos seus filmes esses obstáculos foram mais difíceis de superar?
Na verdade, não sei dizer. Todos deram um trabalho danado! (Risos.)
Muito se discute de quem é o filme. O filme é do diretor ou do produtor em sua análise?
Do produtor. O produtor é quem pensa o filme como um todo. Realiza o planejamento estratégico desde a ideia inicial até sua efetiva comercialização no mercado nacional e internacional. É ele quem consegue os recursos para a produção, negocia com o distribuidor, coloca o filme em festivais nacionais e internacionais, negocia a venda para o mercado internacional. É o dono da empresa produtora, responde juridicamente por qualquer questão relativa ao filme. Corre todos os riscos financeiros que o projeto possa ter. Prêmio de melhor filme é do produtor. O de melhor direção, do diretor.
O que você traz da publicidade para o seu ofício atual?
A publicidade me deu conhecimento de como vender um produto. E nós, produtores, no fundo, estamos o tempo todo usando nossa criatividade para vender a ideia do nosso filme. Seja na conquista do diretor e do elenco para o projeto, ou na conquista dos patrocinadores, investidores ou distribuidor. Saber vender uma ideia é uma das maiores qualidades de um produtor!
Fale um pouco sobre a produção de “Margaret Mee e a Flor Da Lua” que achamos excepcional.
Este é um filme que gosto muito. Levou muito tempo de pesquisa, a filmagem no Amazonas foi incrível! A concepção da trilha sonora foi composta, nota por nota, em cima daquelas belas imagens. Foi meu primeiro e único documentário na carreira. Tenho muito orgulho dele!
Como você lida com o risco?
Sou do tipo conservadora quando se trata de riscos. Estudo exaustivamente o desenho financeiro e estratégico de cada filme. Planejo cada detalhe da produção, de forma a minimizar riscos. Arrisco pouco, na verdade. Meus riscos são todos muito bem calculados, para minimizar o impacto de possíveis erros de percurso de uma produção.
Existe de fato uma indústria cinematográfica no Brasil?
A indústria do Audiovisual é responsável por um faturamento anual de quase R$ 45 milhões, pelo emprego de mais de 300 mil pessoas, e possui uma taxa de crescimento anual de 8,8%.
A participação do Audiovisual no PIB (Produto Interno Bruto) chega a 0,46%. Um valor adicionado à economia brasileira de mais de R$ 20 bilhões.
Além disso, temos um Fundo Setorial (FSA) que movimenta mais de R$ 800 milhões por ano. É preciso esclarecer que esse dinheiro é divulgado erroneamente como dinheiro público, pois, a fonte de receitas vêm da taxa de Condecine – uma contribuição para o desenvolvimento do cinema. Ou seja, trata-se de um valor pago pelo setor que deve ser usado para o fomento do próprio setor, uma organização que se auto alimenta.
Diante desse quadro, acho que temos nossa importância enquanto indústria no Brasil. Uma curiosidade: A Receita Federal arrecadou, em 2018, cerca de R$ 433 milhões com o cultivo, beneficiamento e moagem de café. Já o arrecadado diretamente pela cultura (teatro, cinema, shows, circos, rodeios…) chega a R$ 905 milhões.
Ou seja: a Cultura é duas vezes mais rentável do que o café.
As plataformas digitais vieram para ajudar nas produções em que sentidos?
Acredito que sim. Um novo caminho vem sendo aberto de séries para streaming, por exemplo. São produções que não utilizam dinheiro público, abrindo uma nova frente de produção, o que é muito saudável para o mercado como um todo.
Acredita que as plataformas digitais ameaçam a tela grande ou teremos uma convivência duradoura entre esses dois modos de transmissão?
Não sinto essa ameaça. Até porque as plataformas digitais chegaram pra ficar, não existe volta. Não adianta brigar ou lutar contra isso. Acho que estamos num processo de entendimento e adaptação a essa nova era digital. O cinema não vai acabar. Nem a televisão. O que haverá é uma transformação, uma adaptação aos novos tempos.
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