A Euskadi Ta Askatasuna (ETA), que significa “País Basco e Liberdade” em basco, foi um grupo separatista militante fundado em 1959 com o objetivo de estabelecer um Estado basco independente, abrangendo regiões da Espanha e da França. Durante décadas, a ETA se envolveu em uma campanha de violência que incluiu assassinatos, sequestros e atentados a bomba. A organização teve um impacto significativo na política espanhola e basca, sendo responsável por cerca de 800 mortes ao longo de sua existência.
A trajetória da ETA é marcada por mudanças ideológicas e estratégicas, passando de um movimento de resistência cultural contra a repressão franquista a uma organização terrorista que utilizava a violência como principal meio de alcançar seus objetivos. Para compreender como a ETA foi finalmente desmantelada, é crucial explorar o contexto histórico, as respostas governamentais, as divisões internas dentro da organização e as mudanças nas atitudes públicas e políticas.
A ETA surgiu em um contexto de repressão cultural e política durante a ditadura de Francisco Franco na Espanha. O regime franquista proibiu o uso da língua basca e outras expressões culturais, o que gerou ressentimento e um desejo de resistência entre os jovens bascos. Inicialmente, a ETA focou em atividades culturais e de resistência não violenta, mas logo evoluiu para táticas mais agressivas à medida que a repressão franquista se intensificava.
Nos anos 1960, a organização começou a realizar atos de sabotagem e pequenas ações violentas. O assassinato de Melitón Manzanas, um chefe de polícia notório por sua brutalidade, em 1968, marcou o primeiro assassinato reivindicado pela ETA e significou a transição para uma campanha armada. A morte de Manzanas foi um ponto de virada, destacando a disposição da ETA de usar a violência para atingir seus objetivos.
Com a morte de Franco em 1975 e a transição da Espanha para a democracia, a ETA intensificou sua campanha de violência, acreditando que o novo governo democrático continuava a negar a autodeterminação basca. Durante os anos 1970 e 1980, a ETA realizou alguns de seus ataques mais notórios, incluindo o assassinato do almirante Luis Carrero Blanco, primeiro-ministro da Espanha, em 1973, e o atentado a bomba em um supermercado em Hipercor, Barcelona, em 1987, que resultou na morte de 21 pessoas.
Esses anos foram caracterizados por uma escalada de violência e repressão. A resposta do governo espanhol foi dura, com operações policiais e militares intensivas para combater a ETA. A criação dos Grupos Antiterroristas de Libertação (GAL) na década de 1980, uma força paramilitar secreta que realizou operações contra a ETA, incluindo sequestros e assassinatos, aumentou ainda mais a tensão e a violência na região.
Nos anos 1990, a ETA começou a enfrentar maior pressão tanto interna quanto externa para buscar uma solução pacífica. Houve várias tentativas de negociação com o governo espanhol, embora muitas tenham fracassado devido a desconfianças mútuas e demandas intransigentes. Em 1998, a ETA declarou um cessar-fogo unilateral, saudado com esperança, mas acabou sendo rompido em 1999 após o fracasso das negociações.
A virada do século trouxe uma nova abordagem do governo espanhol, focando em uma estratégia de “tolerância zero” contra o terrorismo. Isto incluiu uma colaboração mais estreita com outros países europeus, especialmente a França, que intensificou a repressão contra membros da ETA que operavam em seu território. A cooperação internacional foi crucial para enfraquecer a estrutura logística da ETA.
A sociedade civil basca desempenhou um papel vital no processo de desmantelamento da ETA. Movimentos como Gesto por la Paz, que começou em 1986, organizaram manifestações pacíficas e condenaram publicamente a violência da ETA. Esses movimentos ajudaram a mudar a opinião pública contra a violência e a favor de uma solução pacífica para o conflito.
Além disso, partidos políticos bascos como o Partido Nacionalista Basco (PNV) e a esquerda abertzale (nacionalista) também começaram a pressionar por uma solução política e pacífica. A pressão crescente de dentro da própria comunidade basca forçou a ETA a reconsiderar suas táticas violentas e buscar alternativas.
O início do século XXI viu um declínio constante na capacidade operacional da ETA, devido a uma série de prisões de alto perfil e a um aumento na cooperação internacional em esforços antiterroristas. Em 2006, a ETA declarou um novo cessar-fogo permanente, mas este também foi rompido em 2007 após a falta de progresso nas negociações. A pressão crescente tanto das autoridades espanholas quanto da sociedade civil continuou a enfraquecer a organização.
Finalmente, em 2011, a ETA anunciou o fim definitivo de sua atividade armada. Este anúncio foi um marco significativo, embora a organização ainda não tivesse entregado suas armas nem se dissolvido completamente. Em 2017, a ETA anunciou sua desmobilização total, entregando suas armas às autoridades francesas e espanholas. No ano seguinte, em 2018, a ETA declarou oficialmente sua dissolução completa, encerrando uma era de violência e terror que durou quase seis décadas.
A desmilitarização da ETA oferece várias lições importantes para a resolução de conflitos e o combate ao terrorismo. Primeiro, destaca a importância de uma abordagem multifacetada que inclui a repressão eficaz das atividades terroristas, mas também oferece um caminho para a reconciliação e a resolução política. O envolvimento da sociedade civil, a pressão interna e as mudanças nas atitudes públicas foram cruciais para isolar a ETA e reduzir seu apoio.
Em segundo lugar, a cooperação internacional desempenhou um papel vital no enfraquecimento das capacidades operacionais da ETA. A colaboração entre Espanha e França foi especialmente importante para desmantelar as redes de apoio e logística da organização.
Finalmente, a história da ETA é um lembrete de que conflitos baseados em identidades culturais e políticas profundas são complexos e requerem soluções que abordem as raízes subjacentes do conflito. Embora a violência tenha terminado, as questões de identidade e autodeterminação no País Basco continuam a ser tópicos de debate e negociação política.
O fim da ETA marcou uma nova era para o País Basco e a Espanha, permitindo um foco renovado na paz, na democracia e na busca de soluções políticas para questões de longa data. A transição de um estado de conflito violento para um processo de paz e reconciliação é um exemplo significativo de como movimentos terroristas podem ser desmantelados mediante uma combinação de pressão interna, cooperação internacional e envolvimento ativo da sociedade civil.
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