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Evandro Buccini analisa despesas públicas do país

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Evandro Buccini é economista-chefe da Rio Bravo Investimentos. É considerado por muitos o pupilo de Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e um dos mentores do Plano Real. A Rio Bravo Investimentos é uma administradora de investimentos independente com sede em São Paulo. Tem aproximadamente 81 profissionais – dos quais 14 sócios da empresa e 8 associados – dedicados a gerir investimentos no Brasil para fundos de pensão, “endowments”, Family Offices e indivíduos. Para o economista da gestora de recursos voltada para investidores institucionais e pessoas físicas em suas alocações de capital e que também é considerado um dos principais analistas do país, a desorganização macroeconômica gerada pela gestão Dilma exige uma série de medidas urgentes que o Governo interino não levou a cabo. Ele ainda afirma: “Não há o que fazer com o apetite de risco global, então os indicadores domésticos têm que melhorar, principalmente o fiscal. O Brasil tem dívida bruta de mais de 75% do PIB e crescente. Desde 2015 o Brasil tem déficits primários mesmo com carga tributária em mais de 35% do PIB. Sem resolver o tamanho e a ineficiência do Governo, também não haverá crescimento sustentado. A necessidade de resolver o imperativo fiscal está presente na fala de todos os candidatos à presidência, mas a fala populista de alguns ainda assustam os estrangeiros”.

Evandro, os estrangeiros ainda estão olhando o Brasil com pessimismo?

Aqueles de horizonte mais curto sim. Nos últimos meses, a maioria dos países emergentes sofre com depreciações das suas moedas. O Brasil está entre os que mais foi atingido pela força do dólar, mesmo tendo fundamentos externos muito melhores do que este grupo. A elevada liquidez do mercado brasileiro, a greve dos caminhoneiros, o problema fiscal e a antecipação da discussão eleitoral são os motivos que levaram o Brasil para o meio da turbulência internacional.

Os investidores de longo prazo estão ainda otimistas com o potencial de longo prazo do país. Os números de investimento estrangeiro direto, a compra de participações relevantes em empresas, continua em níveis elevados e o volume de fusões e aquisições confirma esse indicador.

Como esse pessimismo pode ser dissipado?

Não há o que fazer com o apetite de risco global, então os indicadores domésticos têm que melhorar, principalmente o fiscal. O Brasil tem dívida bruta de mais de 75% do PIB e crescente. Desde 2015 o Brasil tem déficits primários mesmo com carga tributária em mais de 35% do PIB. Sem resolver o tamanho e a ineficiência do Governo, também não haverá crescimento sustentado. A necessidade de resolver o imperativo fiscal está presente na fala de todos os candidatos à presidência, mas a fala populista de alguns ainda assustam os estrangeiros.

Existe algum sinal concreto de melhora da economia em sua visão?

Antes da greve dos caminhoneiros parecia haver uma nascente recuperação no segundo trimestre. Os efeitos perversos da paralisação serão de aproximadamente 0.5 ponto percentual no PIB de 2018 e projetamos um crescimento de apenas 1,6% no ano. A eleição deste ano é um fator de incerteza e somente após o resultado haverá previsões críveis de crescimento de 2019, pois, o que se vê hoje é uma média entre um cenário otimista e um pessimista. Se o resultado da eleição levar a aumento adicional da incerteza poderá haver recessão no próximo ano, se um candidato razoável e com discurso reformista ganhar, o crescimento do PIB pode superar 3%.

A reforma da previdência seria um divisor de águas para a economia neste momento?

Não há bala de prata. Dificilmente uma única medida resolverá os problemas do país. A reforma da previdência é a mais importante para a sustentabilidade de longo prazo das contas públicas, pois, o envelhecimento da população gradualmente aumenta os gastos com benefícios. Qual reforma da previdência será feita é uma pergunta importante. Uma reforma apenas paramétrica exigirá novas reformas nos próximos anos. Um projeto ambicioso, porém, de difícil idealização e aprovação seria um regime de capitalização.

Qual o peso das eleições presidenciais deste ano para o futuro da economia nacional?

A desorganização macroeconômica gerada pela gestão Dilma exige uma série de medidas urgentes que este Governo interino não levou a cabo. A memória dos erros do Governo anterior gera resistência a ideias intervencionistas e o desequilíbrio fiscal não permite medidas heterodoxas, ambos infelizmente ainda presentes entre os discursos dos candidatos.

Que características serão necessárias para que o próximo presidente da República seja visto com bons olhos pelos investidores internacionais?

Propor soluções críveis para o problema fiscal e garantir um bom ambiente de negócios. O ranking Ease of Doing Business, do Banco Mundial, é um ótimo guia para melhorar os trâmites burocráticos das empresas no país.

O que faz o mercado se entusiasmar com um candidato, afinal até mesmo o ex-presidente Lula (teoricamente de esquerda) teve a sua “lua de mel” com os investidores no começo do seu Governo…

A principal característica que um candidato precisa ter é um plano crível para resolver o problema fiscal. Como aumentar o superávit para reduzir a dívida pública considerando a elevada e ineficiente carga tributária. É inevitável mexer em despesas obrigatórias, entre elas os gastos com pessoal e previdência e propor reformas para garantir a viabilidade de longo prazo do ajuste. Discursos populistas, por exemplo, minimizando a importância do ajuste fiscal e exagerando a importância do crescimento no ajuste ou planos genéricos demais não agradam.

Qual seria o maior desastre na atual conjuntura do Brasil neste momento?

Já houve um desastre, a greve dos caminhoneiros e seus efeitos perversos na produção. Outro desastre para os mercados seria um desfecho negativo da eleição, mas se os discursos moderados dos candidatos prevalecerem, o primeiro ano do mandato da maioria dos candidatos não será tão ruim para a economia quanto o dia seguinte da eleição parecerá.

Em março passado, você afirmou que 2018 seria um bom ano para o lucro das empresas. Continua com essa avaliação?

Sim, apesar de menos otimista do que no começo do ano. As revisões de crescimento do PIB foram negativas, mas a queda da taxa de juros favorecerá as empresas. A SELIC média de 2017 ainda era de 10%, este ano deve ficar próxima a 6,5%. A inflação baixa e a elevada taxa de desemprego vão manter os custos controlados.

Existe alguma instabilidade no cenário internacional que pode afetar o Brasil em um futuro próximo?

A economia americana está em um momento crítico. Não há mais ociosidade na economia, especialmente no mercado de trabalho, e o Governo aumentou os gastos e diminuiu as receitas, podendo superaquecer a economia e gerar inflação no futuro. O FED (banco central dos EUA), que já vem subindo as taxas de juros, antes da maioria dos países desenvolvidos, pode ter que subir mais e mais rápido, pressionando as condições financeiras globais e colocando em risco os países emergentes.

Teremos um aumento do PIB nos próximos 2 anos ou é cauteloso sobre esse dado?

Aumento do PIB provavelmente, sim, porém muito aquém da velocidade que o Brasil precisa para se desenvolver e catch-up (convergência) mesmo com os países emergentes. O crescimento que não gera inflação no Brasil é mais baixo do que no passado, próximo a 2% ao ano.


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