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Fernanda Lara fala sobre a saga do jornalismo digital

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A I’M Press é um serviço online que reúne em um único lugar tudo o que os comunicadores precisam: mailings de veículos de imprensa e influenciadores, buscador de jornalistas e influenciadores, sistema de edição e distribuição de releases e tecnologia antispam. Fernanda Lara (idealizadora da plataforma), criou o modelo de negócios do I’M Press no TCC da faculdade de jornalismo dela. Depois foi atrás de investidores, desenvolvedores, e conseguiu sobreviver e viver no mercado. O posicionamento é ser uma empresa de tecnologia, que trabalha com o mundo da comunicação. Inicialmente a empresa era uma startup, mas agora já é uma empresa de pequeno/médio porte. O I’M Press está oficialmente há 4 anos no mercado e é o concorrente que mais cresce atualmente. “Quando escolhi fazer jornalismo tinha uma noção bastante romântica do que era a profissão. Só tinha certeza de uma coisa: estudar na UnB. Por ser de Brasília, desde pequena tive a oportunidade de visitar o campus e achava aquele lugar mágico: a universidade não tem muros e dá a sensação que a cidade e a UnB são uma coisa só. Comunicação foi escolhida por eliminação, como uma profissão que me proporcionava versatilidade – já que eu não sabia exatamente qual era a minha. (…) Nós queremos ser a referência de tecnologia tanto em agências de comunicação quanto em redações jornalísticas e agências de publicidade”, afirma a empreendedora.

Fernanda, quais os caminhos que lhe levaram para o mundo das comunicações?

Quando escolhi fazer jornalismo tinha uma noção bastante romântica do que era a profissão. Só tinha certeza de uma coisa: estudar na UnB. Por ser de Brasília, desde pequena tive a oportunidade de visitar o campus e achava aquele lugar mágico: a universidade não tem muros e dá a sensação que a cidade e a UnB são uma coisa só. Comunicação foi escolhida por eliminação, como uma profissão que me proporcionava versatilidade – já que eu não sabia exatamente qual era a minha.

O que eu não imaginava era que a escolha da universidade seria mais decisiva para minha formação que o curso em si. Na UnB, o aluno tem que fazer boa parte de seus créditos em matérias optativas em outros departamentos. Com isso fiz um pouco de História, Economia, Design Industrial, Psicologia, Língua Japonesa (quase reprovei)… até tentei fazer Cálculo I e não tinha vaga, por intervenção divina.

E pela UnB fui parar em Grenoble, França, para fazer um ano de graduação. Foi aí que tive os primeiros contatos com empreendedorismo e startups. Grenoble é como se fosse uma “mini Palo Alto” no meio da Europa: os estudantes falam em novos negócios dentro do ambiente universitário; lá tem um dos maiores centros politécnicos da Europa e também um respeitado curso de pós-graduação em Marketing. Juntou tecnologia com quem pensa em vendas e, ouvindo os colegas, comecei a encarar umas coisas muito futurísticas com mais naturalidade.

Antes de partir para Grenoble, já tinha sido estagiária no Correio Braziliense por um ano e estagiária em agência de RP por uns 4 meses. Enquanto via meus colegas franceses criando coisas novas, sentia uma certa angústia pois não queria voltar para o Brasil para fazer mais do mesmo. Queria inovar em tecnologia para comunicação. Também estava tentando correr de uma certa pressão familiar para fazer concurso público. E aí comecei a inventar coisas de cabeça que poderiam ser bons negócios de comunicação. Umas ideias eram bem absurdas… mas uma vingou: o I’M Press.

O que lhe fascina nesta área?

O que mais me fascina é que Comunicação é uma profissão para quem tem iniciativa. Diferente de outras profissões, não temos um “fator” que nos limita. O Direito tem um conjunto de regras para aplicar e debater; a Engenharia esbarra nas leis da física, da química; a Medicina então, é só protocolo em cima de protocolo. Não quero diminuir nenhuma profissão para valorizar outra, mas faço essa comparação para mostrar como é grande nossas possibilidades. O que define a Comunicação é a própria sensibilidade humana.

Por isso que falo de uma profissão de iniciativa: não conheço um comunicador que em posse de uma boa ideia original e muita persistência não tenha tido sucesso profissional. Vale ressaltar que “original” é o ponto alto dessa frase.

Talvez um pouco de nossa crise de identidade como profissionais de Comunicação esteja ligada a uma boa dose de falta de iniciativa. Estamos trabalhando demais e inovando de menos, tentando reproduzir o tempo todo os mesmos modelos, as mesmas técnicas de comunicação, os mesmos conteúdos e ainda assim querendo ter um resultado diferenciado.

Você criou o modelo de negócios da I’M Press no seu TCC. Como se deu isso?

A ideia original era um “Google” para o jornalista achar rapidamente o assessor de imprensa e o TCC era o business plan desse produto. Como pesquisa de mercado, fiquei um mês rodando as agências de comunicação de São Paulo e toda vez que eu apresentava a minha ideia para os diretores de comunicação eles acrescentavam um ponto para enriquecer o projeto.

Aliás, tenho que registrar aqui meu agradecimento a todos os que me receberam na época. De agências gigantes como a CDN Comunicação à agências de uma pessoa só. Dez anos se passaram e nesse tempo acho que pioramos muito no que diz respeito a estar aberto e parar 30 minutos para ouvir uma ideia maluca e potencialmente inovadora. Hoje, a maioria dos líderes, os grandes tomadores de decisão do nosso mercado, não teriam a mesma disponibilidade que usufruí no passado. Não fosse esse mês de incentivo por parte de pessoas de sucesso, provavelmente o TCC nunca teria saído do papel.

Depois de finalizado o projeto, recebi grande apoio, financeiro inclusive, do professor Hélio Doyle, que me ensinou muito dentro e fora da faculdade, e também da sua agência de comunicação, a WHD. Nunca pediram sociedade, participação como investidor ou cobraram nada em troca de tamanha ajuda. Eles foram a minha pedra fundamental, como todo investidor-anjo deveria ser.

Também teve meu período no Hotel de Empresas do CDT-UnB (Centro de Desenvolvimento Tecnológico). Durante um semestre, eles me ensinaram o básico de administração, contabilidade, financeiro, essas coisas que qualquer recém-formado não sabe nem por onde começar.

Posso dizer que o TCC foi uma bela gestação, mas responsabilidade de criar o filho vem mesmo depois do parto, né? Empreender é um estilo de vida e não uma fonte de renda.

Como você chegou a conclusão que essa lacuna poderia ser preenchida com o seu negócio?

Comecei a ser jornalista logo quando os primeiros blogs noticiosos surgiram. Lembro que o Blog do Noblat era a sensação e um dia fui entrevistá-lo para um trabalho na faculdade. Na conversa, cai na besteira de perguntar se ele pensava em evoluir para um website e recebi uma resposta atravessada que a tecnologia do blog já dava conta de tudo (e dava mesmo).

Mas, nessa rápida digitalização de conteúdo online, senti que o fluxo de dados partindo das agências para os jornalistas se intensificaria e esbarraríamos em estruturas de comunicação por e-mail muito precárias.

Além disso, vi que meus concorrentes faziam a venda de serviços de forma fracionada: compra o mailing no Excel, vende disparo de e-mails por créditos. Compra x logins de acesso ao serviço de mailing, obrigando os funcionários a fazer fila de uso. Notei que se eu fizesse um contratar simples, com tecnologia eficiente e bom mailing, teria espaço no mercado.

A teoria estava certa, mas a execução foi muito sacrificante: não foi fácil acertar a tecnologia na medida ideal entre quanto ela pode custar e quanto as agências estariam dispostas a pagar. Também não foi fácil criar um mailing autoral com pouco investimento. O bom é que, na medida em que a empresa foi rodando e fomos reinvestindo, criamos mais tecnologia para impulsionar cada vez mais a atualização do mailing e o ciclo foi ficando virtuoso.

O mercado aderiu rapidamente a sua ideia?

Não. O fluxo de entrada e saída de agências era muito grande e isso era um sinal de que ainda não tínhamos acertado a mão. Mas cada dia era um aprendizado e, desde 2016, foi só crescimento de carteira.

Hoje temos quase 3 mil usuários logados diariamente em nosso serviço. Ano passado tivemos apenas 3 cancelamentos de contrato, em mais de 300 assinados. Em 2018, logo no começo do ano, algumas agências optaram por sair para diminuir custos, mas não ficaram 2 meses e já pediram para retomar a parceria porque sentiram queda sensível na performance da equipe e nos resultados com o fornecedor mais barato. Tomo isso como sinal de que finalmente encontramos nosso caminho. Agora é partir para maratona de oferecer cada dia mais.

A I’M Press quer ser uma empresa de tecnologia que trabalha com o mundo da comunicação. Como tem sido essa mescla?

É gratificante ver que os clientes assimilam, gostam e respeitam o papel que propomos: de não somente entregarmos tecnologia, mas também sermos consultores – um papel que fornecedores dificilmente possuem, pois atuam meramente na entrega técnica. Nós não, oferecemos a tecnologia e não nos isentamos em buscar que as agências tenham uma saúde digital perfeita.

E temos um monte de monitoramento da saúde digital dos clientes para garantir que nosso serviço faça sentido. Existem casos práticos de clientes que estavam com o domínio fora do ar e ele não tinha percebido até avisarmos.

Além disso, grande parte destas consultorias que damos afetam globalmente o status da agência na internet, ou seja, elas melhoram o ranking no Google das agências, ficam mais seguras frente à hackers e, claro, não tem problemas com envio de e-mails e releases.

Um exemplo simples é que um site perfeito precisa ter um certificado digital chamado SSL, que custa menos de cem reais no ano e faz toda diferença contra invasores. Pode parecer banal, mas alguns dos recentes ataques cibernéticos (que ficaram famosos), como WannaCry e Heartbleed, nasceram da falta deste SSL. Há dois anos, o Google avisou que iria, paulatinamente, encorajar as páginas a aderirem ao protocolo e, logo logo, páginas sem SSL serão invisíveis no buscador. Grande parte dos nossos clientes já sabe disso porque pegamos muito no pé deles com esses detalhes técnicos.

Quais os principais pilares que moldam a visão do seu negócio?

Não queremos nos separar do nosso cliente. Tenho medo da impessoalidade. Esse é um risco grande quando se trabalha com tecnologia, principalmente por causa da tal da escalabilidade. Precisamos continuar com o atendimento personalizado, fomentando inovação na comunidade e agindo com transparência. Portanto, nossos principais pilares são a humanização, originalidade e transparência.

Como tem enxergado o mundo das comunicações e das relações públicas como um todo?

Vemos um fortalecimento da ideia de Public Relation nas agências de comunicação, em detrimento do antigo conceito de Assessoria de Imprensa. Um executivo de agência hoje faz mais do que somente intermediar pautas: produz conteúdo para e sobre o cliente, serve como consultor de imagem, cuida e preserva a imagem do cliente, propõe evento, antecipa tendências, ou seja, faz muito mais do que antes. Então, não dá para pensar em nichos de mercado, onde o assessor não olha para o lado da publicidade e das relações públicas. Temos que pensar que cliente quer soluções, independentemente de onde elas surjam.

Nesse sentido, vejo que o I’M Press tem muito para onde crescer, já que esse atendimento vai precisar de mais tecnologia para entregar diferencial para o cliente. Estamos trabalhando justamente nisso: inventando meios de automatizar alguns processos para liberar o profissional para investir em estratégias.

Qual a importância de empresas CommTech neste cenário?

O conceito de CommTech nasceu em um brainstorm que fizemos com a equipe. Pensamos: “ora, se existem uma série de empresas de tecnologia que trabalham com bancos (FinTechs) e outras dezenas que atuam com o agronegócio (AgTech), está passando da hora de surgir um movimento das CommTech”.

Economicamente falando, o mercado de comunicação não está vigoroso e passa por uma profunda revisão. Acreditamos que a tecnologia não “matou” a comunicação – mas está obrigando o mercado a se reinventar e que só o fará via tecnologia… então não é uma lógica de “apesar de”, mas sim a “partir de”. Neste sentido, #CommTech é um conceito amplo e que empresas de tecnologia que atuam com o universo da comunicação podem se encaixar.

Por muito tempo, o jornalismo dependeu de verbas que vinham essencialmente da publicidade. Mesmo que algum valor viesse de assinantes, o grosso do negócio estava na verba dos anúncios. Mas eis que chegou a internet e todo este mundo tecnológico. No ano passado, o montante que as empresas destinam para a publicidade e ações digitais ultrapassou a publicidade na TV, um espaço outrora nobre. Ou seja, tudo mudou rapidamente e as grandes empresas de comunicação (jornais, rádios, etc.), por falta de percepção e por apostas não tão certas, acabaram não assimilando.

Só que não é o fim. É um novo começo. A nova era é de milhares de pequenas transações com verbas pequenas e ajustáveis. Já não teremos assinantes mensais de jornais, mas um usuário que pode pagar para ler uma única reportagem. As empresas vão ganhar na escala (aqui vem os paywalls da vida) e também em novos produtos (como branded journalism). E esse novo momento vai ser muito bom, já que a proliferação da era do “tudo de graça na internet” teve o efeito colateral extremamente negativo e persistente das fake news, que todo mundo está correndo atrás para combater. Na medida em que o equilíbrio é exigido e o jornalismo se reestabelece (via tecnologia), novos modelos de negócios surgem.

Como um conteúdo pode se tornar eficaz com tantos caminhos que vemos atualmente?

Quando o jornalismo tradicional (com conteúdo relevante e bem apurado) perdeu a relevância, apareceram outros fenômenos, alguns polêmicos (como os influenciadores) e outros ruins (fake news). Além disso, tivemos alguns “meios do caminho”, como o uso do e-mail marketing de forma desenfreada, o que faz com que nossos lixos eletrônicos se encham diariamente, sem termos a mínima noção do conteúdo. Neste, pelo abuso, perde quem anuncia e perde também o público (baseada na ideia que a oferta é interessante).

Mas, novamente, a tecnologia pode ser a salvação: em breve teremos acesso massivo a uma tecnologia chamada AMP – Accelerated Mobile Pages, que vai fazer com que, grosso modo, as pessoas tenham uma internet dentro do e-mail. Imagina receber uma newsletter legal de um site de viagens no e-mail e ali dentro mesmo poder clicar, navegar e até mesmo comprar uma passagem… tudo sem ter que sair, logar no site, etc? Fantástico!

Quando trazemos isso para a nossa realidade, os PRs poderão elaborar narrativas a partir de um único release. Se o jornalista quiser entrevista vai ter um botão, se quiser uma foto terá um outro botão, se quiser se aprofundar em algum história de uma determinada empresa, vai navegar dentro do release. As possibilidades de tracking e engajamento são infinitas, com a vantagem de tudo ser carregado de uma forma muito mais rápida que a internet de hoje.

Quais os próximos passos da I’M Press?

Nós queremos ser a referência de tecnologia tanto em agências de comunicação quanto em redações jornalísticas e agências de publicidade. Para isso, os próximos passos passam por uma diversificação de portfólio, a fim de que a comunicação seja cada vez mais profissional e inteligente do que já é. Assim, atuaremos fortemente na experiência do usuário, de maneira que os PRs tenham todas as ferramentas de comunicação de forma fácil e automatizada, para que todo o trabalho que hoje é manual seja automático e o profissional possa se dedicar a pensar relacionamento e ações de impacto com a imprensa e demais públicos.


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