Formado em Administração de Empresas pela FAAP com MBA em Finanças pela USP, Marcos Flávio Azzi, fez sua carreira no mercado financeiro em uma empresa que se tornaria uma das maiores do Brasil (a corretora Hedging-Griffo). Após sua venda para o banco suíço Credit Suisse, Marcos Flávio decide se dedicar integralmente a inspirar, motivar e auxiliar pessoas físicas de alto poder aquisitivo a melhor atuarem em filantropia, com foco e busca de efetivo impacto social, assim nasceu o Instituto Azzi. O Instituto Azzi é uma iniciativa pioneira no Brasil, que busca, dentro de sua missão, inspirar, discutir, ampliar e incentivar a filantropia de pessoas físicas no país, promovendo eventos e encontros exclusivos entre pessoas físicas de alto poder aquisitivo e grandes inspiradores. A instituição acredita que a filantropia é a consequência de uma pessoa altruísta. “Para promover qualquer ação social continua-se esbarrando na falta de cultura de filantropia no Brasil, mas podemos formar futuros filantropos partindo por um conjunto de ações: ter uma causa específica; separar um percentual da renda ou patrimônio; doar de forma recorrente, contínua; incentivar a ação na família, entre amigos; provocar o tema nas universidades, escolas e nas empresas. (…) Educação é um assunto complexo com resultado que se matura no longo prazo, ela vai muito além da sala de aula”, afirma o empreendedor social.
Marcos, sempre quando começamos as nossas entrevistas, na maioria das vezes apresentamos o nosso entrevistado. Já sabemos que você é formado em administração pela FAAP e tem MBA em finanças pela USP. Então, gostaríamos de saber se nessa época, já tinha a ideia ou o impulso motivador fixo de criar algo parecido com o Instituto Azzi.
Nesta época era apenas um jovem assustado com o tamanho da metrópole e a impessoalidade das relações, muito diferente da vida em pequenas cidades do interior de Minas, onde todo mundo se conhece e mesmo não se conhecendo está aberto a fazer novas amizades. Carregava comigo o altruísmo que pode ser genético ou mesmo potencializado por minha formação familiar. O senso de devolução sempre esteve em mim, sendo de classe média e vendo outras pessoas que dependem do aparato público como escolas, hospitais, transportes, etc. Apenas quando começo a atuar no mercado financeiro com clientes de alto poder aquisitivo que começo a materializar uma ponte com credibilidade, foco e busca de impacto social, com isto melhorando a atuação social deste público alvo, pensando em parcela relevante de patrimônio, causa única, recorrência e legado familiar.
Se possível, nos fale de uma forma resumida como foi a formação do Instituto Azzi e sua consolidação nos dias atuais.
O Instituto Azzi é uma ponte com credibilidade, pragmatismo, foco em resultado que visa impacto social. Nós trabalhamos com um público específico: pessoas físicas de alto poder aquisitivo.
O Instituto Azzi é uma assessoria gratuita de filantropia para o doador e para as organizações que recebem a doação.
Hoje, o Instituto Azzi está dividido em 3 áreas: Administrativo, Gestão e Inspiração.
A área de Gestão é responsável pela busca ativa de organizações sociais, avaliação e monitoramento dos projetos apoiados. Eles possuem um relacionamento próximo com os doadores a fim de articular as renovações e indicar novos projetos.
A área de Inspiração busca inspirar, discutir, ampliar e incentivar a filantropia de pessoas físicas no Brasil, promovendo eventos e encontros exclusivos entre pessoas físicas de alto poder aquisitivo e grandes inspiradores.
Como tem enxergado o investimento das grandes empresas no setor social?
Antes de qualquer explicação devemos ter em mente que empresas são formadas por pessoas, não existem como um ser independente. Sendo formadas por pessoas, as posições de liderança exercem um papel fundamental na inspiração dos funcionários e na catequização de conceitos. Assim, é impossível dissociar valores filantrópicos empresariais de valores filantrópicos da liderança.
Entendo por filantropia altruística 5 características básicas, que na explicação tentarei colocar a responsabilidade empresarial, como abaixo:
1. Dispor de parcela relevante: seja em relação ao faturamento, seja em relação ao lucro; 2. Recorrente: Por período longo de tempo, não apenas um ano calendário; 3. Impessoal: os recursos tangíveis e intangíveis chegam efetivamente àquelas pessoas que mais necessitam, sem necessariamente a empresa saber quem são os beneficiários; 4. Causa Relevante: A escolha da causa a ser apoiada advém de conhecimento do setor e da real necessidade, mesmo que sejam assuntos muitas vezes polêmicos; 5. Sem Visar Nenhuma Consequência: O altruísmo está no DNA, sua atuação transcende qualquer tipo de relação comercial, visibilidade, incentivo e interesse. Acredito e continuarei acreditando que a empresa é o grande motor de hoje e do futuro, é nela que as pessoas se viabilizam, se realizam, se relacionam e inclusive devolvem para a sociedade. Assim, é através dela que poderemos realizar importantes transformações em nosso país, contribuindo para uma sociedade mais justa, humano, pacífica e realizada.
A causa que os doadores mais apoiam em seu Instituto é a educação que vai desde a reforma de uma escola passando pela doação de acervo para a montagem de bibliotecas. Tendo uma empreitada de sucesso nesse ponto, poderia nos dizer porquê temos tanta dificuldade nas questões relacionadas a educação em nosso país?
Educação é um assunto complexo com resultado que se matura no longo prazo, ela vai muito além da sala de aula, o mundo ao redor do aluno, principalmente a família, e o meio em que vive exerce uma pressão fundamental por excelência. Apenas matérias regulares não são suficientes, precisa aprimorar ética, moral, busca de evolução pessoal e visão de futuro.
Nos chamou a atenção em algo que disse há um tempo sobre o investimento de pessoas físicas na área social: “Doa-se poucos recursos para muitas organizações; não há uma causa definida e muitas vezes é um movimento oportunista. Como é a sua percepção desse fato agora?
A percepção é a mesma, porque existe a falta de confiança, tempo, cultura de doação e pressão do meio em que vivemos, diferente do conceito de altruísmo em filantropia, que compromete uma parcela relevante do patrimônio, é recorrente e impessoal e não visa nenhuma consequência para si.
Como é a seleção dos projetos que serão apoiados pelo Instituto?
A equipe de Gestão do Instituto Azzi atua em uma busca ativa de ONGs e projetos sociais variados presentes em São Paulo e Grande São Paulo. O objetivo é manter um banco atualizado de projetos disponíveis, nas mais diversas causas, para que os investidores sociais tenham opções e conhecimento sobre projetos que muitas vezes não são tão divulgados, mas competentes em sua execução e desempenho.
As organizações que demonstram interesse na parceria com o Instituto Azzi passam por um processo de filtragem. Elas se submetem ao preenchimento de um Formulário de Cadastro que, de acordo com nossa metodologia, mede quatro pilares: Qualidade de Gestão, Solidez, Transparência e Potencial de Impacto. As organizações que obtêm um bom resultado nos quesitos mensurados recebem uma visita in loco da equipe de Gestão do Instituto Azzi, para que o projeto seja conhecido e avaliado ao vivo.
Após o Formulário e a visita, as organizações enviam a proposta de projeto em si, que consiste no preenchimento de um Descritivo de Projeto no qual questões importantes são acordadas: número de beneficiados diretos, metas e objetivos do projeto, cronograma de execução das atividades e orçamento. Consideramos o Descritivo de Projeto como um guia para os doze meses de duração de cada projeto, que baseará o monitoramento da equipe do Instituto Azzi.
Ter um bom procedimento de seleção é o que garante um trabalho com resultados positivos, uma vez que a organização apoiada e o Instituto Azzi conseguem alinhar e acordar pontos importantes do início ao fim do trabalho.
Dos projetos apoiados pelo Instituto, existiu algum que você considera pessoalmente especial e inesquecível?
Pessoalmente o projeto de reforma de casas em comunidades, aumentando a autoestima, saúde, educação, senso de cuidar e reduzindo a violência doméstica. Mas ressalto que cada investidor precisa encontrar a sua própria causa “especial e inesquecível”.
Como se faz a checagem de um projeto apoiado por vocês para saber se o mesmo está alcançando aquilo que foi pré-estabelecido?
A equipe acredita que o acompanhamento pontual e de curto prazo das prestações de contas enviadas pelas organizações apoiadas é um fator crucial, isto é, prestações com periodicidade constante garantem uma contenção de danos maior e uma possibilidade de ajustamento do projeto, caso algo “esteja para dar errado”.
Com base nisto, as organizações enviam, mensalmente, prestações de contas financeiras e de atividades, o que garante que pontos importantes sejam expostos: conseguimos ver se as metas têm possibilidades realistas de serem cumpridas, se o público-alvo têm demonstrado adesão ao projeto e se o orçamento caminha como o esperado, sem déficits nem “caixas” na organização.
Além disso, visitas regulares aos projetos, inclusive sem hora marcada, são um ponto importante de monitoramento de resultados.
Em 2010 você tinha o interesse de expandir o projeto para outros estados do país. Ocorreu algo nesse sentido nos últimos anos?
Sim, expandimos para o Rio de Janeiro em 2012. Em 2014 foi feito o spin-off [termo usado para designar aquilo que foi desenvolvido ou pesquisado anteriormente] da filial carioca pela oportunidade e necessidade em atender qualquer formato de doação, tanto de pessoas físicas quanto jurídicas no Rio de Janeiro. Esta transição ampliou a área de atuação e o nome do Instituto no Rio de Janeiro; hoje eles são o Instituto Phi.
O Instituto Azzi trabalha somente com pessoas físicas de alto poder aquisitivo na cidade de São Paulo e Grande São Paulo.
Estudiosos dizem que questões culturais e legais explicam a escassez de doações para a filantropia no país. Como mudar a cultura da nossa nação nesse sentido, afinal sabemos que dinheiro existe, pois, alguns milionários do Brasil doam dinheiro para universidades americanas, só para ficar em um exemplo…
O Instituto Azzi é uma iniciativa pioneira no Brasil, porque trabalha a fundo as causas que estão dentro de cada pessoa, criando um novo valor nos doadores, como também um legado familiar em filantropia. Porém, mesmo assim, nós enfrentamos o desafio da falta de cultura de doar de forma organizada no Brasil. Para vermos alguma mudança, a filantropia precisa ser um assunto recorrente nas famílias, entre os amigos, nas escolas e nos poderes organizados.
Você afirmou que responsabilidade social é ter uma visão ampla do mundo ao redor. O que nós como indivíduos podemos fazer para que nossa visão ampla do mundo, não se perca e fique cega com o que está ao nosso redor?
Para promover qualquer ação social continua-se esbarrando na falta de cultura de filantropia no Brasil, mas podemos formar futuros filantropos partindo por um conjunto de ações: ter uma causa específica; Separar um percentual da renda ou patrimônio; doar de forma recorrente, contínua; incentivar a ação na família, entre amigos; provocar o tema nas universidades, escolas e nas empresas. Por ser um ato coletivo, a filantropia pode ser feita por qualquer pessoa, independente da classe social.
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