O G20, que ocorreu no Rio de Janeiro sob a presidência do Brasil, trouxe à tona um misto de expectativas e decepções. A cúpula foi marcada pela capacidade diplomática brasileira de costurar um consenso em um mundo profundamente polarizado, mas a questão que persiste é: até que ponto isso representa uma vitória real para o multilateralismo e a cooperação internacional? A declaração final, assinada por países tão diversos quanto Estados Unidos, China, Rússia e Argentina, é tida como um feito notável em um cenário de conflitos e tensões geopolíticas crescentes. No entanto, a efetividade desse tipo de documento, que não tem caráter mandatório, é frequentemente questionada.
Especialistas como Ronaldo Carmona, do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), e Roberto Goulart Menezes, da Universidade de Brasília, destacam que o multilateralismo está em crise, com grandes potências agindo mais no âmbito de alianças restritas do que em fóruns globais. Ainda assim, a reunião do G20 se manteve como um dos poucos espaços em que líderes de blocos opostos podem dialogar diretamente. Isso é particularmente relevante em um momento em que o mundo assiste à radicalização de conflitos, como a guerra na Ucrânia, e à deterioração de arranjos multilaterais importantes.
A presença de líderes como Joe Biden e Xi Jinping, assim como a introdução do presidente argentino Javier Milei ao cenário global, adicionaram camadas de complexidade à cúpula. Milei, inicialmente resistente, acabou cedendo e assinando a declaração, mostrando que o palco internacional pode moldar mesmo os mais ideologicamente obstinados. Por outro lado, a influência do Brasil na inclusão de temas como combate à fome e mudanças climáticas trouxe visibilidade à agenda social, embora a implementação dessas ideias dependa de mecanismos financeiros concretos, algo ainda incerto.
O grande desafio do G20 continua sendo equilibrar a retórica com a ação. Enquanto a criação de fundos para cidades sustentáveis e a Aliança contra a Fome representam avanços concretos, outros pontos, como a emergência climática, permanecem no campo das intenções. O retorno de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos também pode minar os progressos em questões ambientais, reforçando o caráter frágil dessas iniciativas.
Sob a liderança de Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil buscou usar a presidência do G20 para reafirmar seu papel como um mediador global. A habilidade diplomática brasileira ficou evidente na costura de uma declaração conjunta, mas muitos questionam se essa vitória foi de substância ou apenas de forma. A inclusão de temas sociais como fome e pobreza ecoa antigas bandeiras brasileiras, mas esbarra na falta de compromissos práticos dos países mais ricos. Além disso, a insistência em priorizar o multilateralismo, em um mundo cada vez mais polarizado, pode ser vista como idealismo diante de realidades geopolíticas mais pragmáticas.
O G20 é apontado como um dos últimos bastiões do multilateralismo em um cenário internacional fragmentado. Com dois blocos dominantes — o G7 e o Brics — e rivalidades entre grandes potências, a reunião no Brasil destacou as dificuldades de alcançar consensos globais. A declaração conjunta é, sem dúvida, um feito, mas sua natureza não vinculativa limita sua relevância prática. Além disso, a incapacidade de abordar de forma direta os conflitos mais críticos, como a guerra na Ucrânia, ressalta as limitações de um fórum que tenta agradar a todos sem desagradar ninguém.
Os 85 pontos acordados na declaração final são apresentados como um marco, mas seu impacto é contestado. Embora tenha havido avanços concretos, como o compromisso com cidades sustentáveis, grande parte do documento permanece no campo da retórica. Sem mecanismos obrigatórios de implementação, as promessas feitas durante a cúpula carecem de força prática. A assinatura do texto por líderes como Biden e Milei, apesar de suas diferenças ideológicas, mostra a habilidade diplomática envolvida, mas levanta dúvidas sobre a disposição real dos países em cumprir os compromissos assumidos.
A reunião foi marcada por tensões entre potências globais. Os Estados Unidos, liderados por Joe Biden, continuam em confronto com a Rússia e a China, enquanto o G7 busca manter sua hegemonia em um mundo multipolar. Do outro lado, o Brics, com destaque para a China e a Índia, tenta consolidar um contraponto ao Ocidente. No meio disso, o Brasil se posiciona como mediador, mas sua influência é limitada. A presença de Milei, com uma postura inicialmente isolacionista, exemplifica como a pressão de outros líderes molda o comportamento de novos atores no cenário internacional.
A inclusão da pauta climática na agenda do G20 foi celebrada como um avanço, mas sua implementação enfrenta sérios desafios. Donald Trump, o novo-velho mandatário americano, que já anunciou sua intenção de abandonar novamente o Acordo de Paris, representa uma ameaça significativa. Mesmo com os fundos previstos para cidades sustentáveis, o financiamento global para ações climáticas ainda é insuficiente. O G20, nesse contexto, reflete mais a divisão do que a união, com potências emergentes e desenvolvidas adotando posturas conflitantes sobre responsabilidades e prioridades.
Uma das principais realizações da cúpula foi a criação da Aliança contra a Fome e Pobreza, que busca mobilizar esforços internacionais para combater desigualdades. No entanto, a eficácia dessa iniciativa depende de financiamento sustentável e do engajamento real dos países membros. Embora o Brasil tenha liderado a inclusão desse tema, a resistência de países desenvolvidos em comprometer recursos significativos coloca em xeque a viabilidade do projeto. A aliança, por enquanto, parece ser mais uma declaração de intenções do que uma solução prática para os problemas globais.
Com o mundo se polarizando entre alianças restritas como o G7 e o Brics, o G20 enfrenta um futuro incerto. A cúpula no Brasil mostrou que o fórum ainda tem valor como espaço de diálogo, mas suas limitações são cada vez mais evidentes. Sem poder vinculativo, o grupo corre o risco de se tornar irrelevante diante de desafios globais urgentes. A presidência brasileira, embora bem-sucedida na construção de consenso, também evidenciou a fragilidade do multilateralismo em um sistema internacional que privilegia interesses nacionais e regionais.
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