strong>O economista Eduardo Leme passou a frequentar o restrito circuito de arte a convite de amigos e da artista plástica Dora Longo Bahia, sua parente. Leme via o novo interesse como um hobby. Atraído pelo trabalho de alguns jovens artistas e pelos bons preços, Eduardo começou sua coleção de arte. Uma viagem à feira espanhola de artes ARCO foi o suficiente para que o economista percebesse a dimensão do mercado, além de visitas às exposições de artistas recém-formados na Inglaterra. Por volta dos 40 anos, Eduardo decidiu montar uma galeria e convidou o renomado arquiteto Paulo Mendes da Rocha para projetar o espaço. Em 2004, inaugurou sua Galeria Leme representando apenas 06 artistas. Com o crescimento da galeria, convidou novamente Mendes da Rocha para projetar um novo espaço, também no bairro do Butantã em São Paulo. A reinauguração foi em 2012. “Na verdade, eu não leio muito hoje em dia, prefiro ver e escutar os artistas e galeristas, acho que assim aprendo mais. Há alguns anos conheci um artista pessoalmente que era próximo do Hélio Oiticica [pintor, escultor, artista plástico e performático de aspirações anarquistas, 1937 – 1980] e da Lygia Clark [pintora e escultora contemporânea que se autointitulava “não artista”, 1920 – 1988]. Fui até seu atelier para conhecer sua obra e assim fiz. (…) Como negócio é um business muito difícil”, afirma o galerista.
Edu, como o mundo da arte te seduziu?
Tenho uma prima que é artista plástica e me levou a frequentar muito cedo este universo… cerca de 30 anos atrás. Gostei do que vi e fui aprendendo.
Em que momento você acredita que a arte deve ter um papel social?
Eu particularmente gosto muito de arte ligada à política e ao social. Acredito muito nela como instrumento de discussão. No geral a arte também aproxima as pessoas.
O seu embasamento teórico foi obtido em leituras e experiências pessoais, como já foi revelado em algumas matérias realizadas com você. Qual destas leituras e experiências, lhe marcaram profundamente?
Na verdade, eu não leio muito hoje em dia, prefiro ver e escutar os artistas e galeristas, acho que assim aprendo mais. Há alguns anos conheci um artista pessoalmente que era próximo do Hélio Oiticica [pintor, escultor, artista plástico e performático de aspirações anarquistas, 1937 – 1980] e da Lygia Clark [pintora e escultora contemporânea que se autointitulava “não artista”, 1920 – 1988]. Fui até seu atelier para conhecer sua obra e assim fiz. Porém, as conversas paralelas que tivemos a cerca da obra do Hélio e da Lygia foram uma aula… nunca vou esquecer a maneira que ele me contou e isso só foi possível pelo convívio que ele tinha com estes artistas. Este é o ponto fundamental para mim, o convívio com os artistas, galeristas, curadores faz você aprender muito e chegar às suas próprias conclusões.
A Galeria Leme foi reinaugurada em 2012. O que você acredita que são os principais diferenciais da galeria idealizada por você?
A galeria foi inaugurada em 2004, e posteriormente mudamos de endereço em 2012. A Leme é uma galeria de autor. Chamamos o Paulo Mendes da Rocha para idealizá-la com a colaboração da Metro Arquitetos. Fizemos um espaço arquitetônico muito interessante e planejado. Só isto já e um grande diferencial.
Como definiria a arte que é produzida no Brasil atualmente?
Não dá para dizer: “a arte produzida no Brasil”. Arte contemporânea é globalizada, ela não se prende a regionalismos. Temos artistas fantásticos e uma produção potente por aqui.
Em 2014, quando entrevistamos a fundadora da SP-Arte, Fernanda Feitosa, discorríamos sobre a fotografia no mundo das artes. Por que acredita que a fotografia (que é uma manifestação contemporânea) vem sendo cada vez mais cobiçada ano a ano por colecionadores?
Sinceramente não sei dizer o por que, pois, sempre tratei a fotografia como a expressão de um sentimento e sensibilidade de quem a faz. Por isso para mim, é mais um suporte para o artista.
Como um galerista encontra um meio-termo entre promover a arte e ainda obter sucesso comercial?
Como negócio é um business muito difícil. Acho que quem está neste mercado e principalmente no mercado primário, lidando com artistas contemporâneos, não têm e nem visa um sucesso comercial, mas sim outras motivações e reconhecimento de um bom trabalho.
Em que ponto uma galeria pode ajudar na formação ou mesmo no aparecimento de novos colecionadores?
É o nosso trabalho, sempre que podemos tentamos mostrar este universo para nossos clientes. A Leme promove conversas e visitas guiadas com os artistas, visitas ao atelier e toda forma de aproximação para que se formem colecionadores ou mesmo apenas admiradores das artes plásticas.
O que você traz da sua visão de economista para a sua galeria, que acredita ter sido um dos pilares para o seu empreendimento?
O fato de ter estudado economia não influenciou muito a galeria e seu programa.
Quando perguntado sobre um artista que admira, sem pestanejar, diz que Francis Bacon é o seu preferido. Por que a arte dele é tão marcante para você?
Porque é Francis Bacon [pintor anglo-irlandês de pintura figurativa, 1909 – 1992].
Nestes anos à frente da Galeria Leme, o que tem lhe surpreendido de uma forma positiva e que não havia imaginado em nenhum momento, quando teve a ideia de criá-la?
O número de amigos que fiz ao longo destes anos. Nunca imaginei que teria esta sorte e felicidade.
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