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Gaúcha Deb Xavier fala de empreendedorismo

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Palestrante internacional e idealizadora do Jogo de Damas, uma plataforma de conteúdo e interação sobre empreendedorismo, carreira e negócios para mulheres, a gaúcha Deb Xavier foi escolhida embaixadora brasileira do Dia Global do Empreendedorismo Feminino, que foi lançado na ONU (Organização das Nações Unidas), em Nova York. É especialista em empreendedorismo e carreiras femininas e escreve sobre o assunto para a edição do famoso jornal online norte-americano Huffington Post, o Brasil Post. Pelo seu trabalho, já foi destaque em veículos nacionais como Exame, Época Negócios, Info, G1, Pequenas Empresas, Grandes Negócios entre outros e apresentou o case do Jogo de Damas em um evento no Google. “Eu atuava com tecnologia, um mercado bastante masculino. Em eventos, eu me reunia com as poucas mulheres e, depois, participei de eventos da área com foco no público feminino. Um dia passei por uma situação chata, com ex-clientes e ex-sócios e senti que, pela primeira vez, o fato de eu ser mulher era uma característica forte no mundo dos negócios. Resolvi reunir um grupo de mulheres para trocarmos informações, dicas, apoio e inspirações. (…) Nosso site e redes sociais, com conteúdo diário, são importantes ferramentas para mulheres de todos os lugares que não se identificam com o conteúdo que encontram em outros lugares”, afirma a empreendedora e palestrante.

Quem é Deb Xavier?

Deb Xavier é, antes de tudo, a mãe da Tathiana. Sou palestrante internacional e idealizadora do Jogo de Damas, uma plataforma de conteúdo e interação sobre empreendedorismo, carreira e negócios para mulheres. Em função da minha atuação, fui escolhida embaixadora brasileira do Dia Global do Empreendedorismo Feminino, que foi lançado na ONU (Organização das Nações Unidas), em Nova York. Sou especialista em empreendedorismo e carreira femininas e escrevo sobre o assunto para a edição brasileira do Huffington Post.

Antes de iniciar o seu projeto Jogo de Damas, você trabalhava com tecnologia. Quais foram os principais ensinamentos que obteve nesse setor e que lhe ajudaram no Jogo de Damas?

Além de ter trabalhado na startup de um amigo, cheguei a abrir uma empresa de tecnologia com dois outros sócios. Deu tudo errado. Aprendi sobre sociedade, aprendi sobre proposta de valor. Foi uma escola prática de empreendedorismo!

Você disse que o Jogo de Damas surgiu por acaso. Como foi esse acaso?

Eu atuava com tecnologia, um mercado bastante masculino. Em eventos, eu me reunia com as poucas mulheres e, depois, participei de eventos da área com foco no público feminino. Um dia passei por uma situação chata, com ex-clientes e ex-sócios e senti que, pela primeira vez, o fato de eu ser mulher era uma característica forte no mundo dos negócios. Resolvi reunir um grupo de mulheres para trocarmos informações, dicas, apoio e inspirações. Eu esperava um grupo pequeno, mas, muita gente compareceu. Vi que tinha ali uma questão importante que era comum a muitas de nós e que não havia nenhuma iniciativa na minha cidade (Porto Alegre) voltada para isso. Com o tempo, expandi para outras capitais e tenho parcerias internacionais. Este ano recebi convite para realizar o evento em outros 3 países. Veremos como fica, é preciso muito planejamento.

O Jogo de Damas é focado no público feminino promovendo eventos sobre empreendedorismo, carreira e negócios. Tirando o seu negócio, como enxerga o tratamento do mercado com o público feminino quando se fala em empreendedorismo, carreira e negócios?

Fazemos mais do que promover eventos. Essa é uma de nossas frentes de atuação. Nosso site e redes sociais, com conteúdo diário, são importantes ferramentas para mulheres de todos os lugares que não se identificam com o conteúdo que encontram em outros lugares. Isso sem contar nossa atuação frente ao Governo e empresas com o objetivo de reconhecer e promover a atuação econômica feminina. Em minha opinião, de uma forma geral, o mercado trata o público feminino de uma maneira retrógrada e com uma visão masculina, até porque as posições estratégicas de empresas ainda são ocupadas, em sua maioria, por homens. Atualmente a mulher responde por um percentual considerável do PIB (Produto Interno Bruto), além de ter poder de decisão de compra altíssimo (ela decide sobre o dinheiro dela e o do marido!), então é de se estranhar que não existam empresas pensando nessa metamorfose feminina que está acontecendo na economia. Bancos ainda não oferecem crédito para as mulheres na mesma proporção em que oferecem para homens, mesmo mulheres sendo mais adimplentes. Empresas não contratam mulheres para determinados cargos mesmo que sejamos maioria no ensino superior. Eu espero que essa situação seja transitória, afinal a participação da mulher na economia de maneira ativa (a mulher sempre participou da economia, mesmo quando ficava em casa, porém, exercia uma função reprodutiva, no sentido de que as atividades por ela desempenhadas, como cuidar dos filhos e da casa, garantiam que a economia se reproduzisse) ainda é recente. Temos muito o que avançar, mas, estamos na direção certa!

Quando entrevistamos a empresária Bel Pesce, ela afirmou algo que você também disse quando foi para o Vale do Silício, que por lá existe a cultura do erro. Como você acredita que podemos implantar essa cultura do erro em um país como nosso, que muitas vezes não admite que o empreendedor erre?

Não sei se podemos “implantar”, pois, cultura é um processo muito complexo. Eu acredito que os Estados Unidos, e o Vale do Silício, tenham um ecossistema que estimula o risco, por isso mesmo, valoriza o aprendizado conquistado ao longo do caminho. É muito mais do que apenas a cultura do erro, é uma cultura complexa na qual o erro e o aprendizado advindo dele fazem sentido. É o que eu falei sobre minha empresa de tecnologia: deu errado, mas, aprendi muito. Cresci, evoluí. Valeu a pena!

Como enxerga o atual momento das startups no Brasil?

Acho que existe um oba-oba natural de tendências do mercado, mas, existe muita iniciativa e proposta séria que visa fomentar esse ecossistema. O ideal seria que a cultura startup estivesse enraizada no nosso sistema de ensino, nos valores da nossa sociedade. Muitas universidades estão investindo no fomento à inovação e ao empreendedorismo, porém, faltam outras variáveis importantes como um mercado realmente competitivo e um Governo que aposte no empreendedorismo como catalisador econômico.

“O mercado tende a preferir pessoas medíocres com currículos brilhantes do que pessoas brilhantes com currículos medíocres.” Você acredita que o mercado um dia vai cair na real, valendo-se de pessoas brilhantes e não de currículos medíocres?

Já está caindo na real em muitos países. O Google não exige diploma na hora de contratar e é uma das empresas com melhores práticas de gestão de recursos humanos, remunera bem os colaboradores e, ainda, é uma das maiores empresas do mundo. Ou seja, a falta de ensino institucionalizado, no sistema que temos hoje, não impediu que o Google conquistasse o que conquistou. Acredito na potencialização do perfil e das capacidades dos indivíduos. A Franciele, que trabalhava comigo até agora há pouco, chegou no Jogo de Damas sem entender e sem conhecer muita coisa da área, sem educação formal nos assuntos. Aprendeu muito bem (melhor do que muita gente que chegou “preparada”) e foi uma das melhores pessoas com quem trabalhei. Se eu procurasse alguém que dominasse determinados assuntos teria perdido a melhor estagiária do mundo. Ela cresceu tanto nesse meio tempo que recebeu uma oferta melhor. Por muito tempo eu busquei vagas e não conseguia porque ainda não tinha me formado. Aliás, ainda hoje perco algumas oportunidades por falta do diploma (cursei 4 anos de Arquitetura, troquei para Relações Internacionais – ambos na UFRGS -, morei fora e quero concluir o curso até ano que vem!). É triste. Conquistei muita coisa sozinha, realizei eventos em 7 capitais brasileiras, fechei parcerias internacionais, fui notícia nos principais veículos de negócios no Brasil, mas, a falta de um papel faz toda a diferença, mesmo eu tendo créditos equivalentes as duas faculdades. Quero esclarecer que sou a favor da educação e do aprimoramento constante (eu faço diversos cursos e estou constantemente lendo o que acontece na minha área no Brasil e exterior), apenas acho que o mercado precisa ampliar os conceitos.

Perguntada no ano passado como equilibrar a sua vida pessoal e profissional, você disse que não sabia. Acredita que esse é o maior desafio de um empreendedor no mundo contemporâneo, ou seja, encontrar esse equilíbrio?

Sim. Para 2015 eu pedi equilíbrio. Se já é difícil alcançar esse equilíbrio sendo empreendedor, para mulheres é mais complicado porque gastamos mais tempo com a casa e família (tem que mudar isso!). No meu caso eu sou separada e tenho uma filha, isso faz com que eu não tenha com quem dividir muitas das atividades do dia a dia, mesmo contando com uma rede de apoio muito boa. Também, o Jogo de Damas vai fazer três anos em março e, como eu disse acima, começou por acaso, sem planejamento. É natural que esse início seja conturbado, desgastante e desafiador.

Além da paixão, do brilho nos olhos, do trabalhar muito, qual o outro ingrediente que você considera ser essencial para que o empreendedor tenha êxito em seu empreendimento?

Conhecimento, sorte e uma boa dose de networking. É preciso entender a área em que se está atuando, buscar tendências, estudar a fundo. Sorte faz parte. Eu não pensava em criar um negócio como o Jogo de Damas, mas, tive a sorte de estar no lugar certo, na hora certa, com a situação certa. E networking, sempre. Por networking não me refiro ao QI (quem indica) da forma como é visto no Brasil: pessoas incompetentes conquistando espaço apenas porque são amigos ou “afilhados” de alguém. Me refiro a uma rede de contatos interessantes, relevantes e que possam agregar e potencializar nossas competências e alavancar nossos negócios.

Vivemos ainda em um país machista. Em algum momento você teve sua capacidade colocada em xeque por outras pessoas por ser mulher, por ser bonita ou coisa parecida?

Obrigada pelo “bonita”. Sim, o Brasil é um país que sofre com o machismo, inclusive o Jogo de Damas surgiu por causa de uma experiência pessoal. Eu escutei de muitas pessoas que eu sou a prova de que uma mulher pode ser bonita e inteligente ao mesmo tempo. Sei que essas pessoas tinham a melhor das intenções e queriam, na verdade, me elogiar, mas, ao expressarem essa opinião deixa transparecer uma crença que está enraizada em nossa sociedade. Eu me foco em provar que mulheres são capazes, competentes e que significam mais resultados para as empresas. A questão da aparência fica em segundo plano, ainda que seja importante discutir o assunto dentro desse contexto.

Qual dica que você não teve no começo da sua carreira e que passará para a sua filha sobre o mundo dos negócios, mas com aplicação também na vida diária?

Felizmente minha filha acompanha meu dia a dia, então ela vê e aprende muito sobre negócios e sobre meus valores. A dica que eu daria para todos é: experimente. Atue em diferentes áreas, conviva com pessoas de fora do seu círculo, viaje, aprenda outros idiomas (existem ótimas ferramentas gratuitas na internet), seja curioso, busque coisas novas, leia, leia e leia. E claro, faça acontecer.


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