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Glauco Peres da Silva analisa a polarização

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Glauco Peres da Silva possui graduação em Economia pela Universidade de São Paulo (1999), mestrado em Economia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2002) e doutorado em Administração Pública e Governo pela Fundação Getulio Vargas – SP (2009) com o sanduíche no Massachussets Institute of Technology (MIT). Foi coordenador de cursos de graduação de Economia e Relações Internacionais da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado entre 2004 e 2011, sendo hoje professor do Mestrado Profissionalizante desta instituição. É docente também das disciplinas de Métodos e Técnicas de Pesquisa no Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP). Atua como pesquisador grupo de Estudos Legislativos do CEM-Cebrap e do NECI/FFLCH. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia Política, atuando principalmente nos seguintes temas: regras eleitorais, comportamento legislativo e metodologia da ciência política. “Desde sua campanha, a estratégia política de Bolsonaro passa pela disputa de narrativas. Claramente inspirado e influenciado pelas estratégias de Trump nos EUA, os fatos parecem ser menos relevantes do que a imagem ou a narrativa que se constrói em torno destes eventos. Há diversas situações em que isto ocorreu desde a campanha. Esta situação o favorece ainda mais quando não há uma oposição ativa que dispute essas interpretações”, afirma o cientista político.

Glauco, o impeachment do presidente Bolsonaro a esta altura seria praticamente impossível?

Já há algum tempo não se pode dizer que algo na política brasileira é impossível. Mas a esta altura, o impeachment é muito improvável. Ainda que a CPI da Covid encontrasse elementos que pudessem encerrar o cargo do atual presidente, toda a tramitação e as incertezas que cercam um processo deste tipo levariam a praticamente coincidir com as eleições de 2022.

Ele sairá enfraquecido politicamente pós-pandemia?

Desde sua campanha, a estratégia política de Bolsonaro passa pela disputa de narrativas. Claramente inspirado e influenciado pelas estratégias de Trump nos EUA, os fatos parecem ser menos relevantes do que a imagem ou a narrativa que se constrói em torno destes eventos. Há diversas situações em que isto ocorreu desde a campanha. Esta situação o favorece ainda mais quando não há uma oposição ativa que dispute essas interpretações, mostrando o absurdo das situações. Dito isto, a sua situação pós-pandemia dependerá de haver atores políticos interessados em mostrar sistemática e exaustivamente os fatos para que esse eleitor que continua a acreditar no presidente mude de opinião. Caso contrário, será a repetição de mais um episódio em que a narrativa é distorcida em seu favor, apesar dos diversos absurdos ocorridos ao longo de sua administração na não-gestão da pandemia.

A disputa entre o ex-presidente Lula e o atual mandatário da nação é inevitável?

Sim, é. Há anos que o PT se tornou a única alternativa eleitoralmente viável no campo da esquerda e não há hoje outra força de oposição. Dentro do partido, por sua vez, Lula é soberano e salvo algum impeditivo jurídico, será o próximo candidato do partido.

Uma terceira via ainda é possível em meio a essa polarização?

A terceira via que tentava se formar girava em torno de nomes como João Doria, Sergio Moro e Luciano Huck. Todos agora notam que com a participação de Lula e a força que um presidente em exercício tem com a máquina pública a seu lado, as chances de uma terceira via obter sucesso se estreitou.

Como você acredita que essa terceira via poderia aglutinar nomes possíveis para uma candidatura competitiva?

Ela teria de disputar o espaço que Lula vem tentando ocupar nas últimas semanas com articulações com diferentes forças políticas regionais. Os governadores de diferentes partidos precisariam ser mobilizados e estimulados a buscar apoio em seus partidos para essa nova força. Difícil imaginar se Lula continuar a buscar essas forças como seus aliados.

Ciro Gomes seria esse nome?

Sua chance maior foi em 2018 sem Lula na disputa. Agora não acredito que seja capaz.

A polarização entre direita (com Bolsonaro como principal nome) e esquerda (com o reavivado Lula) deve se acentuar no Brasil pelos próximos meses?

Ela deve aumentar com o tempo até a eleição de 2022. E deve se acirrar cada vez mais. O presidente volta a repetir, sem nenhuma evidência em seu favor, que as eleições serão fraudadas – com consequências temerárias caso ele perca. O que ele nunca explicou é como essa fraude ocorre, quem a comanda e por que ela não o beneficiaria em hipótese alguma. Se nem como presidente ele é capaz de fazer algo a respeito, nem de mostrar uma evidência qualquer a respeito, a fraude não deve sequer existir. Seja como for, é de se esperar que a disputa não ocorra em termos razoáveis ao debate público de ideias e projetos para o país.

Quais os pontos mais confusos dessa polarização?

As acusações ao PT vieram na esteira da Lava Jato e em um discurso anticorrupção, os quais foram rejeitados por boa parte do eleitorado petista. Mas este Governo, notadamente a família do presidente, é acusada sistematicamente de esquemas de corrupção e o presidente agiu claramente no sentido de enfraquecer os órgãos de fiscalização, como o ex-ministro Sergio Moro deixou claro ao sair do Governo. Estes eleitores mais fieis parecem não estar muito sujeitos a lidar com evidências que contrariem suas interpretações originais, o que a psicologia tem dado bastante atenção para explicar.

Existem pontos interessantes nessa mesma polarização?

A polarização faz parte do processo político. Ela pode não ser problemática, mas no atual estágio no Brasil, não tem sido produtiva. Ela é problemática se é colocada de uma forma como ‘nós versus eles’, com uma oposição destrutiva. Nestes termos, não há discussão política possível.

Já podemos dizer que a campanha para 2022 começou?

Sim, já começou. O atual presidente esteve em campanha o tempo todo e por esta razão, seu foco estava em 2022 e o resultado em relação ao descontrole da pandemia está aí. Com a decisão do STF sobre a possibilidade de uma candidatura de Lula, o cenário se torna completo. Teremos em 2022 o que não pudemos ter em 2018.


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